Enquanto os mais importantes empresários do mundo visitam as terras brasileiras para entrevistar as autoridades e tentar fazer lobby de seu setor industrial, o país está sendo visto como um dos maiores mercados virtuais para o Jogo online. De acordo com estatísticas recentes, o Brasil tem um enorme potencial social e econômico para o desenvolvimento dos jogos pela Internet, num momento em que seu crescimento não parece ter um teto.
No final de maio, Sheldon Adelson, presidente e fundador do Las Vegas Sands, se reuniu com o prefeito do Rio de Janeiro para comunicar suas intenções de fazer investimentos em hotéis e cassinos naquela região. Outro de seus alvos é São Paulo também pela sua infraestrutura hoteleira e aeroportos internacionais. Essa foi a segunda visita do magnata do jogo em um ano, um dos 20 homens mais ricos do mundo e o proprietário de um império de jogo com cassinos em Nevada e Macau. Adelson não vai ao Brasil para meras questões românticas, ele conhece o potencial do país e quer ser o primeiro da fila quando se abrir o portão para os jogos.
Entretanto, se o país quer se transformar em um dos maiores mercados do jogo, os especialistas no campo acreditam que com o mero jogo presencial não alcançará. O Brasil é o país sul-americano com a maior população e, para os especialistas, esta pode ser uma das condições que irão catapultar o crescimento do mercado de jogos. Uma população que em grande maioria está ligada às redes, com grandes cidades e com uma alta percentagem de telefones móveis nas mãos de seus habitantes, é uma questão de interesse para muitos operadores de jogos online e empresas de apostas.
De acordo com dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com uma população total de pouco mais de 208 milhões habitantes, o país tem cerca de 116 milhões de pessoas com acesso à Internet, o que equivale a 64,7% da população acima de 10 anos. Desse universo, mais de 85% são jovens têm entre 18 e 24 anos, e de acordo com a pesquisa do IBGE, 63,3% das famílias têm acesso às redes. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínuos, revelaram que em 92,6% dos lares brasileiros há pelo menos um telefone celular, que são usados em 99,7% dos casos para acessar à rede.
Essas informações revelam um panorama que os operadores das grandes empresas de jogos online não vão ignorar. A telefonia móvel tem contribuído consistentemente para o crescimento exponencial do desenvolvimento de jogos em rede; e na região latino-americana o nível de penetração das redes sociais e jogos na Internet é um dos maiores em tempo investido pelos usuários. Os operadores online estão desenvolvendo novas ferramentas e plataformas modernas facilmente acessíveis ao mercado latino-americano, fazendo funcionar toda a sua maquinaria de marketing.
Uma pesquisa conduzida pela University da Califórnia, Los Angeles (UCLA) examinou as diferenças demográficas e de comportamento dos jogadores online com dinheiro real. Um dos resultados determinou que os jogadores online tendem a ser majoritariamente homens jovens, de renda média e mais escolarizados que os jogadores em sistemas presenciais, como slots. Pesquisas adicionais indicaram também que os jogadores online têm menos probabilidade de se casar e mais probabilidades de serem estudantes que os jogadores que não usam a internet.
No que diz respeito à divisão por gênero em comportamentos e preferências de jogo, a pesquisa da UCLA concluiu que os homens preferem apostas esportivas, apostas de corrida de cavalos e jogos de habilidade como o Pôquer, enquanto as mulheres escolhem predominantemente jogos como slots e bingo online. O estudo também mostra que, enquanto no grupo das mulheres a idade da maioria das jogadoras em casinos online e slots variam de 46 a 55 anos, no grupo masculino a idade diminui, porque eles concluíram que a maior parte dos jogadores na Internet com dinheiro real esta na faixa de 20 a 35 anos, sendo as apostas esportivas e jogos de pôquer online os de maior penetração.
No Brasil, de acordo com dados do IBGE, 81,2% dos estudantes do país estão conectados à Internet por telefones celulares e em níveis mais elevados de escolaridade a porcentagem aumenta. Assim, enquanto no ensino fundamental 11,2 % dos alunos utilizam a rede; nos grupos de ensino superior este número chega a 95,7%. Enquanto o jogo é proibido no Brasil e, portanto, não se pode mensurar com exatidão, os usuários da rede afirmaram que o segmento de entretenimento online é usado por 76,4% dos internautas.
Embora já tenha sido comentado vale a pena mencionar que, a questão de um regulamento moderno e confortável para os operadores não deve ser deixado de lado, porque para que a equação funcione deve ter certas peculiaridades. Em princípio, um regulamento exitoso terá de ser simples e eficaz, evitando os riscos mais comuns, tais como taxas de imposto elevadas sobre receitas líquidas de jogos e prêmios, o que não torna o mercado inteiramente acessível aos operadores e aos jogadores.
O volume apresentado pelo mercado virtual de jogo brasileiro convida os futuros reguladores a não impor restrições inúteis aos operadores com a aparente fundamentação de proteger aos jogadores. Em regulamentos modernos e exitosos, o cuidado dos jogadores passa por restrições às crianças e adolescentes, aos jogadores compulsivos e a outros grupos de risco. Sem descuidar a saúde da população ou anular qualquer questão que seja considerada prejudicial, os reguladores têm que evitar levar aos operadores para um canal de labirintos burocráticos ou exigências extremas e pouco práticas para o licenciamento, porque as experiências que existem dão conta que, em tais casos, a única coisa que realmente próspera é o jogo ilegal.
FABIAN BATTAGLIA
Fabián Bataglia. Jornalista especializado na indústria dos jogos de azar; formado em Comunicação Social na Universidade CAECE de Buenos Aires e professor de Jornalismo e Comunicação nesta universidade. Especialista em produção de informação e em comunicação digital; atualmente trabalha no Diario del Juego de Buenos Aires, Argentina.