GMB - Como você avalia e qual a importância de ter participado do evento LIKE THE FUTURE que falou sobre o mercado de jogos no Brasil?
Marco Pequeno - O evento foi importante por vários motivos e eu vou destacar dois que para mim foram os principais. O primeiro é desmistificação não só das apostas esportivas, que é o meu ramo, mas também dos cassinos. Isso foi uma coisa que tentamos diminuir o tabu quanto a esse tipo de mercado. Temos um povo que ainda está muito preocupado em apontar “isso é errado” e a imagem que a população tem do apostador em esportes é algo absurdo.
Durante a palestra você levantou a questão dos pontos físicos para um bom andamento das empresas após a regulamentação das apostas esportivas. Acredita que eles realmente serão fundamentais em um mundo tão digital?
Não adianta ficar só no online. A lei prevê que teremos apostas físicas de cota fixa. Quem ficar só no online vai dançar. Ele vai precisar ter uma banca física, uma casinha onde o apostador sai de lá com um tíquete, como se fosse uma casa lotérica. Isso é fundamental. E para essa pessoa que está acostumada com o bilhete chegar ao online é muito complicado. Transformar ele em uma pessoa que faz depósito e confia em uma transferência para um site estrangeiro é difícil. Somos um país em que muitos não têm acesso à internet, existem analfabetos, alguns não têm conta em banco; e como você pede para essa pessoa fazer um cadastro no site de apostas sem uma conta em banco? Como ele vai sacar esse dinheiro? A saída é você educar esse cliente em uma banca física para ele ir para o digital futuramente. E uma banca física é gasto um de dinheiro, mas é necessário para levar o apostador para o digital no futuro. Quem já aposta online já esta habituado, mas temos uma parcela muito pequena perto do que pode ser. Temos uma população enorme, não vou dizer que os 210 milhões de brasileiros irão apostar, mas joga aí uns 10%, é bastante gente.
Fale um pouco da sua nova agência, a IGaming 360. Como ela surgiu e o que te levou a entrar nesse mercado de apostas esportivas?
A IGaming 360 nasceu de um sonho meu. Eu comecei a trabalhar nesse mercado em 2012 e desde 2014, quando terminou a minha primeira experiência na área, eu sempre vislumbrei em trabalhar com isso. Eu nunca me senti tão confortável em trabalhar com um tipo de produto como eu me senti com as apostas esportivas. Já tinha atuado com grandes empresas de tecnologia, em multinacionais, e não gostei de lá, não era o meu estilo. Sempre fui viciado em esporte; não perco nenhum jogo do São Paulo, já assisti em lua de mel, porque eu gosto. E uma forma que eu encontrei para aliar as duas coisas foi trabalhar com apostas esportivas. Tinha esse sonho de criar alguma coisa, tive uma agência antes, e eu quero trabalhar com esse mercado, atender essas empresas, e aconteceu de a BetWay falar com a gente e abrir porta para que esse sonho se tornasse realidade. A agência tem hoje um mês, agora eu consigo buscar esse mercado e a IGaming 360 vai me proporcionar isso.
Quais os principais serviços que a agência vai oferecer e o que apontaria como o grande negócio da empresa?
Oferecemos qualquer coisa no ambiente de marketing, desde redes sociais, artigos de blog para SEO, fazemos um trabalho com afiliados onde temos um case interessante, de vez em quando, conseguimos fazer coisas que são difíceis, como performance, que é muito complicado para casa de aposta no Brasil, e nós conseguimos por meio mecanismos que pouca gente conhece, não quero dizer que sou o único, mas não vemos acontecendo muito. Nós fazemos também negociação de mídia. Mas o nosso grande negócio não é tudo isso, não é oferecer tática. Nosso negócio é transformar a sua marca em um negócio interessante para o apostador brasileiro. Como é que você chega no Brasil e mostra a sua marca de maneira produtiva, eficaz? O nosso trabalho é orientar o que essa empresa precisa, acompanhar em toda parte do processo e às vezes até fazê-lo para eles. O Alessandro Valente (Super Afiliados) diz que precisamos “tropicalizar as marcar” e eu concordo totalmente com ele, porque eu vi as marcas chegarem ao Brasil e tendo dificuldades com termos básicos, porque não conseguem construir nada antes.
Qual público-alvo que buscam atender nessa nova trajetória da Igaming 360?
São os operadores. Hoje a gente já trabalha com a Betway. O nosso foco são os operadores, mas não nos limitamos a isso. O ideal são as empresas, mas também oferecemos soluções para afiliados porque eu entendo que o afiliado é muito responsável por fazer o negócio girar no Brasil, o setor de afiliado de apostas esportivas é gigante e vemos que ele tem uma parcela grande no sucesso dos operadores. Não adianta você vir para o Brasil sem uma estratégia para afiliado, isso é outro ponto que precisamos ensinar para as empresas. Muitos já sabem, mas que está chegando ou esperando a regulamentação, precisa de uma estratégia boa com eles porque são responsáveis por trazer clientes. Respondendo a pergunta de forma bem objetiva: operadores e afiliados, são com eles que queremos trabalhar.
Qual a sua opinião sobre o processo de regulamentação das apostas esportivas em desenvolvimento no Brasil?
Acho que ele está atrasado. Gostaria muito que isso tivesse saído há muitos anos. Não é querer apontar o dedo, mas ajudaria o mercado a se abrir de verdade e trazer confiança para o investidor, porque existem empresas que não querem vir antes de termos a regulamentação e saber realmente o que vai acontecer. Então esse atraso que vem de anos, o Temer promulgou a lei no final do ano passado, mas isso vem de muito antes. Essa espera e expectativa já tinham quando comecei no mercado em 2012; já se discutia uma liberação. O que eu espero é que essa regulamentação saia o quanto antes. Não vou entrar em pormenores se é boa ou não, mas alguma precisa ter. Saiu a regulamentação e não é boa o suficiente; se melhora. É uma regra muito frouxa; se aperta um pouco. São ajustes que podem ser feitos no futuro, mas a gente precisa que uma regulamentação saia para as empresas virem trabalhar com a gente, o dinheiro não ir mais lá pra fora. O dinheiro ficando aqui dentro é bom para todo mundo, todos ganham. O dinheiro girar aqui dentro é o mais importante da lei. Trazer o mercado para a luz, dar uma chancela do governo para empresas sérias fará com que quem tem medo de transação na internet irão perder.
Qual a sua avaliação do atual mercado de apostas esportivas em operação no Brasil com empresas chegando ao país e fazendo investimentos mesmo sem a regulamentação oficial?
O cenário do mercado hoje pode ser separado em duas coisas: os operadores e em termos publicitários. Nos operadores temos algumas casas muito fortes, como a SportingBet, onde eu trabalhei. O mercado para esses players hoje é um pouco obscuro porque não há uma mensuração, não sabemos de fato quanto tem de jogadores, quantos estão online, não tem muito isso. Cada casa tem o seu, tem sua meta, mas não conseguimos ter um dado geral de mercado. Isso é uma coisa que eu espero que mude, o governo deve ter interesse em fazer isso. Que tenha um estudo sobre esse mercado; talvez fazer com que as empresas possam compartilhar números para termos de compliance. Em termos publicitários, estamos mais ou menos na mesma linha, o que a gente pode fazer hoje é muito pouco perto do potencial. Potencial é aquilo que a gente não tem, que pode ser alcançado. O potencial do Brasil de operação e divulgação é um negócio absurdo. Em termos de operação podemos crescer muito com a regulamentação, claro, o preço é alto, mas quem quiser pagar tem muita chance de crescer. Dá tranquilamente para termos vários players pagando e ficando feliz. Brasileiro aposta, é um apostador natural, joga refrigerante entre o time da rua de cima e a rua de baixo, quem souber explorar isso, tem uma boa contrapartida. E aí entra a publicidade. A partir do momento que você tem um mercado mais permissivo as cartas podem mudar. O que você pode fazer em termos de divulgação? Hoje não podemos fazer muita coisa, temos site gratuito para divulgação em televisão e canais de mídia, patrocínio de clubes de futebol, que é recente e teve um boom em questão de meses. Mas, regulamentando, poderemos fazer performance. Posso fazer anúncio e não vou mais viver de banner, vou poder fazer anúncio no Facebook e metrificar o meu retorno. Isso é algo que é fundamental, ter uma ideia de quanto está voltando do seu investimento. Esse é o cerne do negócio.
Visando a futura legalização de outros modais de jogos como cassinos, bingos e até outros jogos online, acredita que o case das apostas esportivas tem alguma lição a ensinar para essas atividades quando tiverem que trabalhar suas marcas? Qual seria?
Entender o público brasileiro é o principal. Você tem que tomar cuidado ao trazer uma marca como a Caesars para o Brasil, com o brasileiro tendo uma dificuldade enorme de pronúncia, em uma linha de pobreza ainda muito crítica e os problemas sociais que nós temos. Se você não entende o consumidor e não tropicaliza a sua marca, não vai pra frente aqui. As marcas chegam aqui falando de marcado latino-americano e não é assim. Existe o mercado latino que fala espanhol e o Brasil que fala português, uma língua totalmente diferente. Então, entender o que essa pessoa busca, as dores dela, que talvez não consiga falar “Caesars”. O mercado de apostas esportivas já está com um estudo muito avançado com relação a isso. Claro, tudo só funciona com o gatilho da pessoa querer ir jogar porque quer ganhar dinheiro, adrenalina, uma série deles; mas quando estão todos os players juntos buscando por espaço, o gatilho não é suficiente, precisa de divulgação. As apostas esportivas colaboram nesse sentido ao já ter um estudo muito rico do que funciona para o consumidor brasileiro, ainda que feito na zona cinzenta da nossa regulamentação atual já tem uma riqueza de detalhes muito grande para quem sabe procurar.
Fonte: Exclusivo GMB