Estudos recentes mostram que a indústria de apostas esportivas movimenta cerca de 14 bilhões de libras no país. Desse total, cerca de 6 bilhões de libras foram obtidas de forma online. Os dados, coletados entre 2018 e 2019, tendem a mudar a partir de 2020 e também neste ano, já que as medidas restritivas em meio à pandemia do novo coronavírus forçaram as pessoas a permanecer em casa e diminuir as aparições públicas. Em contrapartida, já é possível perceber o aumento na atividade online em diversos países do mundo.
A expansão dos negócios dos sites de apostas está fortemente ligada ao futebol. Atualmente, oito clubes da Premier League são patrocinados por sites e empresas com atividade no ramo de apostas: Burnley, Crystal Palace, Fulham, Leeds, Newcastle, Southampton, West Ham e Wolves. São clubes importantes, alguns tradicionais, como o Newcastle, que veem suas rendas cada vez mais dependentes dessas empresas.
Essa dependência, no entanto, pode precisar ser revista nos próximos meses. Isso porque, o primeiro-ministro Boris Johnson tem dialogado com órgãos governamentais e também esportivos para diminuir a participação das empresas nas competições profissionais. Há o receio de que a aparição extrema de propaganda e intensificação do apelo às apostas possa ser um problema para a sociedade britânica. A ideia é regular melhor a lei de 2005, que deve ser revista proximamente.
Os clubes ingleses estão reticentes com eventuais mudanças. Dirigentes esportivos alegam que não podem controlar a atitude de terceiros apenas por expor as marcas em seus uniformes. Dizem também que não podem se dar ao luxo de perder fontes de arrecadação em meio à crise econômica em todos os setores da sociedade, incluindo esporte, diante da pandemia de covid-19.
Enquanto a disseminação do vírus ainda não está totalmente controlada e a vacinação caminha a passos lentos, eventos esportivos ainda não podem receber público. Com isso, os clubes perderam arrecadação com bilheteria e eventos promocionais. A paralisação do calendário na última temporada também afetou a distribuição dos direitos de TV, o que transformou as contas em uma bola de neve difícil de ser desarmada, especialmente nos times com menos fontes de renda.
Em meados de 2020, um comitê especializado para debater a Lei de Jogos de Azar no país recomendou que as empresas do setor não deveriam mais ter permissão para estampar as camisas dos clubes, como forma de diminuir o número de adeptos da prática, especialmente durante a pandemia.
Ainda no fim do ano passado, o governo Johnson lançou uma série de discussões sobre o tema. E definiu que uma nova legislação fosse definida até o dia 31 de março, mas não houve consenso nas propostas. Enquanto isso, alguns dos principais clubes ingleses aguardam uma atualização sobre como as empresas de apostas esportivas poderão atuar no mundo do futebol profissional para além dos jogos.
Em declarações à Sky Sports News, um porta-voz do Departamento de Digital, Cultura, Mídia e Esporte do governo afirmou que a situação demanda cuidado e atenção, para que nenhuma das partes saia prejudicado com o novo acordo. "Estamos realizando uma revisão abrangente das leis para que elas sejam adequadas para a era digital e também para o momento dos clubes, ávidos por novas formas de patrocínio", afirmou.
O presidente-executivo da Premier League, Richard Masters, tem sido um defensor das equipes e também do direito de as empresas atuarem com liberdade na competição esportiva. Em novembro de 2020 ele afirmou que as empresas não devem ser censuradas. "Se houver necessidade de um reequilíbrio, tudo bem, mas não achamos que deveria haver uma proibição de patrocínio de clubes de futebol. Isso não pode acontecer", afirmou.
O presidente da EFL, espécie de segunda divisão do futebol inglês, Rick Parry, alertou sobre o impacto "catastrófico" nas finanças dos clubes se o patrocínio das empresas de jogos de azar for removido por uma nova legislação. "Seria potencialmente catastrófico se acontecesse, ainda mais de maneira repentina. Criaria grandes dificuldades. Com o passar do tempo, francamente, os clubes precisariam encontrar uma maneira de se adaptar, mas isso pode demorar", finalizou.
Seja lá o que acontecer, os governos precisarão se adaptar ao momento e às possibilidades que a tecnologia nos apresenta. Plataformas de apostas esportivas vão continuar crescendo e criando novas formas de atuação nos mais variados mercados. Barrar esse tipo de iniciativa não é algo benéfico.
Fonte: UOL