MAR 26 DE NOVIEMBRE DE 2024 - 23:33hs.
Artigo do Valor Investe

Copa do Mundo impulsionou mercado de apostas no Brasil, mas 'zebras' assustaram novatos

A Copa do Mundo no Qatar chegou ao fim e, com ela, vieram alguns hábitos típicos dessa época, como as decorações em verde amarelo, as reuniões com os amigos e farra no escritório para assistir aos jogos. Outro hábito, no entanto, também surgiu: o das apostas esportivas. Mas se por um lado muita gente passou a apostar, por outro, as 'zebras' da Copa do Qatar fizeram muita gente perder dinheiro e assustaram os novatos.

Dados do site Mktesportivo mostraram que o mercado de apostas esportivas no Brasil alcançou R$ 7 bilhões em 2020, mesmo com a pandemia. Entre os anos de 2018 (ano em que foi sancionada a lei que autoriza a operação de casas de apostas no país) e 2020, o setor cresceu de R$ 2 bilhões para R$ 7 bilhões.

Já um estudo da Zion Market Research mostrou que esse segmento deveria crescer 10% ao ano a partir de 2021, atingindo cerca de US$ 155,5 bilhões em 2024. No Brasil, a estimativa era de que ele movimentasse entre R$ 7 e 10 bilhões por ano.

Com a Copa do Mundo, no entanto, esse mercado ganhou ainda mais fôlego. Isso porque o torneio de futebol é acompanhado por muito mais pessoas do que um campeonato estadual ou nacional, como o Brasileirão ou até mesmo as ligas europeias.

"Não tem como fugir da Copa do Mundo, as pessoas estão sendo expostas diariamente. Então, durante o torneio, as casas de apostas adquirem muitos clientes que antes elas não conseguiam acessar", diz Arthur Silva, responsável da Betway para o mercado brasileiro.

Ele afirma que a aposta esportiva é como uma "opinião" e que "em eventos grandes, todo mundo tem uma opinião sobre aquilo". Por isso, inclusive, muitas pessoas que, fora da Copa do Mundo, não têm interesse grande por futebol, entram nas apostas durante esse período.

A publicitária Priscylla Barros faz parte desse grupo. Ela conta que "em tempos normais", não é muito fã de futebol, mas durante a Copa gosta de acompanhar os jogos. Por esse motivo, ela apostou R$ 150 em um combo de várias partidas, mesmo sem ter certeza de muitos resultados daquele pacote.

"Quanto mais jogos você fazia, mais aumentava o valor do ganho, então se eu só apostasse no Brasil, que era o que eu queria, eu ganharia pouco. Mas se eu selecionasse vários jogos, eu ganharia R$ 7 mil. Porém, eu não sabia que se caso eu errasse só um, eu perderia tudo", explica.

Essa, no entanto, não foi a última aposta da publicitária, que se animou com outros jogos, mas voltou a perder por não entender bem a modalidade da aposta que tinha feito. "É muito tentador, e no Twitter a gente só vê casos de sucesso", afirma. Ela conta, no entanto, que passou a achar perigoso esse tipo de modalidade de jogo.

As "zebras" dessa Copa, no entanto, assustaram até os apostadores mais experientes e também os novatos que acompanham futebol. E, se para os clientes isso (a zebra) é ruim, para as casas de aposta é algo positivo.

"Normalmente, a Copa ajuda a construir a marca das casas de aposta, mas não rende muito dinheiro para elas. Nesse ano foi diferente, a margem para as casas está boa porque teve muito resultado imprevisível", afirma Silva, da Betway.

Apesar dos resultados surpreendentes, houve quem ganhasse dinheiro em outras apostas menos tradicionais, como aquelas a respeito do número de faltas ou escanteios daquela partida. Foi assim que o engenheiro civil Bruno Toledo conseguiu bons resultados nesta Copa. Ele conta, que não tem o hábito de apostar, mas viu seus amigos apostando durante o torneio e resolveu participar também, "para socializar", diz. Mas apesar de acompanhar e gostar de futebol, ele não acredita que vá continuar apostando.

Silva, da Betway, conta que isso é comum. Ele explica que durante a Copa muitas pessoas começam a fazer suas apostas, mas, ao fim do torneio, não mantêm o hábito. Ainda assim, o campeonato mundial traz novos clientes. "Depois que a Copa passa, o número de apostadores cai. A maioria que vem pela Copa, sai depois. Mas, ainda assim, a quantidade de clientes nas casas acaba maior do que era antes. Muitos que gostam de futebol e outros esportes, acabam encontrando no 'menu' algo que tenham interesse em apostar", afirma.

Regulação incerta no Brasil

A lei que possibilita o funcionamento das apostas esportivas no Brasil foi sancionada pelo então presidente, Michel Temer, em 2018. Na prática, ela descriminalizou as chamadas "apostas de cota fixa", modalidade que compreende os lances em que o apostador sabe o quanto vai ganhar caso acerte aquele resultado. A legislação, no entanto, não instituiu nenhum controle ou fiscalização do governo sobre a atividade no país.

O prazo para que o governo regularizasse esse mercado expirou no dia 12 de dezembro deste ano. A lei sancionada em 2018 previa que fosse criada uma agência para estabelecer as diretrizes desse mercado no país, mas isso não aconteceu. No entanto, como as empresas que prestam esse serviço no país são sediadas no exterior, elas puderam continuar operando.

Ainda assim, o ambiente é de incertezas. "Há um vazio jurídico, porque o prazo não tem exatamente uma consequência. Ou seja, não cai a lei, mas também não obriga ninguém a fazer mudanças. As empresas continuam nesse modelo sediadas no exterior", explica Silva. "Mas se amanhã sai uma regulamentação e a empresa não obtém licença, ela precisa parar de atender brasileiros", afirma o executivo.

Por fim, Silva destaca que a questão da regulação é interessante porque o Brasil é um grande campo de oportunidades. Segundo Silva, os brasileiros têm mais hábito de apostar do que os ingleses, que vivem em um país onde as apostas são regularizadas há muito tempo. "O brasileiro vai muito mais na loteria, por exemplo", diz.

Fonte: Valor Investe