MIÉ 27 DE NOVIEMBRE DE 2024 - 13:34hs.
Jornalista adverte sobre manipulação de resultados

Em dura coluna na Folha, PVC pede urgente ao Governo a regulamentação das apostas esportivas

Como um dos mais reconhecidos jornalistas esportivos do Brasil, a palavra do Paulo Vinícius Coelho (PVC) tem um peso importante. Hoje, ele escreve uma forte coluna de opinião na edição impressa da Folha titulada “Próximo escândalo do esporte virá da indústria de apostas, pode apostar” onde explica que é preciso regulamentar o mercado imediatamente para evitar mais casos de manipulação de resultados e futuros escândalos no esporte brasileiro.

O presidente do Santos, Andres Rueda, pronunciou-se no início desta semana sobre acusação de tentativa de suborno da goleira do Bragantino, no Brasileiro feminino. Acusado pelo crime, o preparador físico das Sereias da Vila foi demitido.

É mais um caso nebuloso que envolve apostas no esporte.

Todos os grandes escândalos da história do futebol, do tênis e do críquete estão ligados a apostadores. Hoje, você pode palpitar em tudo. Número de escanteios, diferença de gols, quem vai ser o vencedor ou quem marcará primeiro.

O caso Edílson Pereira de Carvalho, a Máfia da Loteria Esportiva, o Totonero, na Itália, as suspeitas no tênis internacional. Todos são casos ligados aos apostadores.

E, no entanto, há 35 clubes patrocinados por casas digitais, 19 deles na Série A. Parece um contrassenso.

​Andres Rueda tem um ponto de vista coerente sobre o risco de ter um funcionário acusado de suborno e, por outro lado, receber dinheiro de site de apostas: "Eles têm de ser regulamentados".

Não é a primeira vez que se debate este assunto neste espaço. Os apostadores estão por toda parte. Eu não aposto, nunca. Mas um monte de gente pergunta se vai ganhar o Palmeiras ou o Avaí, o Corinthians ou o Santos, se o São Paulo vai vencer o Juventude ou se dá para levantar uma grana com a zebra de Caxias do Sul.

Os sites também dizem que é preciso regulamentar. O dinheiro atualmente sai do Brasil, para as sedes na Europa, enquanto o Congresso não define as regras de atuação.

Outra questão importante é determinar que as casas digitais tenham o compromisso de avisar quando há volume incomum. Se houver 80% apostando no América-MG contra o Flamengo, algo estará errado. Uma vez regulamentados, os sites terão esse compromisso.

"É necessário haver compliance, transparência e ninguém da indústria do futebol se envolver", pensa Andres Rueda. O presidente do Santos faz esta última observação após ser lembrado de que Gianluigi Buffon foi acusado de palpitar em jogos dos quais participou, durante o escândalo do Calciopoli, na Itália, em 2005. Especialmente num tempo em que se pode ganhar dinheiro acertando quantos escanteios vai haver numa partida, o goleiro entrar nesse negócio é incompatível.

Não se trata de tomar um frango, mas de eventualmente espalmar para trás um chute que poderia ser defendido de primeira.

"Por outro lado, é um dinheiro de que o futebol precisa", diz Rueda. Essa polêmica existiu na Europa na década retrasada, quando Milan e Real Madrid fecharam contratos de patrocínio com a Bwin. A relação com o clube espanhol durou entre 2007 e 2013. No ano seguinte, o time de Cristiano Ronaldo ganhou a Champions League, com a logomarca Fly Emirates no peito.

É urgente o Congresso Nacional trabalhar pela regulamentação. Se é impossível impedir, é necessário comprometer os empresários dessa indústria. É proibido jogar pôquer em cassinos ilegais, mas Neymar faz propaganda de casas internacionais.

O jogo no Brasil foi permitido entre 1920 e 1946. Getúlio Vargas frequentava os cassinos de São Lourenço e Poços de Caldas, até o presidente Eurico Gaspar Dutra decretar a proibição, três meses depois de sua posse. Uma versão conta que a primeira-dama, Carmela Dutra, deu o voto definitivo.

Isso faz 76 anos, e o Brasil de hoje é um enorme cassino. O mínimo, então, é regulamentar e comprometer os empresários. Mesmo assim, o próximo escândalo do esporte virá dessa indústria. Pode apostar.

PVC
Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu seis Copas e oito finais de Champions. Trabalha atualmente como colunista da Folha, na TV Globo e Rádio CBN.