O mercado de Fantasy Sport movimentou globalmente cerca de US$ 22 bilhões em 2021, apresentando um crescimento de 9,5% apenas neste ano. O mercado norte-americano, hoje o maior do mundo, sozinho circulou mais de US$ 8,37 bilhões no mesmo período.
Os números impressionam, mas esse é ainda um negócio que tem muito a expandir. A estimativa global de crescimento para o setor entre 2020 e 2026 é de 120%, o que deve representar um aumento de receitas da ordem de mais de US$ 20 bilhões.
A expectativa de crescimento está pautada em alguns fatores que vêm repercutindo globalmente. O primeiro deles é o aumento do poder aquisitivo da população jovem, grande consumidora desse tipo de entretenimento. A redução dos custos com aparelhos telefônicos celulares, e a melhoria da infraestrutura digital, especialmente com a chegada do 5G, também devem colaborar para impulsionar esse mercado, centrado em tecnologias digitais. Um outro elemento bastante relevante no crescimento do setor de fantasy é a popularização da modalidade, o que permite a chegada de novos competidores no mercado.
Mas grande parte da expectativa de crescimento do mercado de fantasy sport se deve a um fator-chave, chamado Índia. Segundo recente estudo divulgado pela Deloitte, o país conta com alguns números bastante interessantes e que devem colocar esse mercado, dentro de 5 anos, como o principal mercado mundial da categoria.
A Índia hoje conta com mais de 130 milhões de jogadores de fantasy sport, que em 2021 geraram receitas de US$ 4,42 bilhões, devendo esse número alcançar incríveis US$ 21,45 bilhões em 2025. Segundo a consultoria, as receitas médias dos operadores no ano passado foram de US$ 676 milhões, o que gerou em tributos para o governo indiano mais de US$ 3,28 bilhões, e em receitas indiretas outros US$ 715 milhões.
Em resumo, a Índia faturou em 2021 cerca de US$ 4 bilhões em receitas decorrentes do fantasy sport. Além disso, segundo cálculos da Deloitte, o setor ainda fomentou o investimento externo em empresas locais na ordem de US$ 1,3 bilhões.
De acordo com o estudo desenvolvido pela Deloitte, entre 2017 e 2020, o fantasy gerou na Índia cerca de 8.500 empregos diretos e outros 12.300 empregos indiretos.
Agora voltemos nossa atenção para o mercado brasileiro, hoje apontado como potencialmente terceiro maior mercado do mundo, atrás apenas de Estados Unidos e Índia. Estimativas indicam que o setor de fantasy no Brasil gerou pífios US$ 12 milhões. E em termos de empregos, algumas centenas de postos diretos de trabalho e, sem base de dados para isso, ouso dizer que sequer alcançou mil empregos indiretos.
Tudo isso por uma razão bastante simples: falta de regulamentação do setor. A ausência de regras claras de como deve funcionar o mercado inibe investimentos estrangeiros, o que, por consequência, também dificulta a entrada de novos operadores no mercado, uma vez que esse setor é dominado por startups, um modelo de negócio que vincula seu crescimento a aportes de capitais. De outro lado, sem uma adequada regulamentação, consumidores ficam inseguros sobre quais são as suas garantias e se elas serão efetivamente cumpridas. Mas isso não é tudo. Talvez o maior prejudicado seja o governo brasileiro, que vê escoar entre suas mãos um potencial de receita incrível.
O mercado brasileiro tem muito em comum com o indiano, talvez até mais similaridades do que com o mercado norte americano, e os números de tributos gerados para o Estado, de empregos diretos e indiretos impressionam, como vimos acima. Diante disso, ficam as perguntas: por que o governo brasileiro ainda não tomou nenhuma providência para regulamentar esse setor? O Brasil vai surfar a onda do fantasy sport ou será que vai deixar mais um bonde passar?
Rafael Marchetti Marcondes
Chief legal officer no Rei do Pitaco
Professor de Direito Esportivo e Tributário. Doutor e mestre em Direito Tributário pela PUC/SP. Mestre em Gestão Esportiva pelo ISDE/ FC Barcelona. Especialista em Direito Tributário pela FGV/SP. Bacharel em Direito pela PUC/SP. Membro do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo (IBDD). Advogado em São Paulo.
Fonte: Lei em Campo