Empresa especializada em integridade competitiva e monitoramento de apostas, além de colaboradora da Fifa, a Sportradar levantou 903 jogos duvidosos em 2021, de 10 esportes diferentes e em 76 países. Recorde em 17 anos de acompanhamento, que deve ser superado em 2022.
Cinco jogos suspeitos do ano passado envolveram seleções adultas. O problema da manipulação ainda é visto como em ascensão, com o futebol como principal cenário. Desde 2010, a Sportradar classificou 100 jogos de seleções como suspeitos.
“A Copa do Mundo é o torneio mais importante do mundo do futebol, o que faz o risco ser naturalmente menor. É o ponto alto da carreira de atletas, a exposição mundial é vasta. Isso significa que atletas envolvidos estão menos propensos a manipular o curso ou o resultado de um jogo”, afirmou Andreas Krannich, diretor gerente de Serviços de Integridade da Sportradar, em entrevista ao ge, por e-mail.
Além da importância e da visibilidade da Copa, jogadores que estarão no Catar gozam de base financeira sólida, no geral, o que diminui os riscos de se engajarem em atividades de corrupção, segundo especialistas. Só que os ganhos potencialmente altos devem levar manipuladores a agir.
Questionada pelo ge sobre que medidas já foram ou vão ser tomadas a respeito do tema, a Fifa diz que ainda vai implementar uma abordagem sobre a Copa do Mundo de 2022, com mais detalhes no futuro.
A Fifa garante adotar a política de zero tolerância contra todas as formas de corrupção no futebol e assegura aplicar várias medidas para prevenir e atender a situações de risco, enquanto monitora padrões suspeitos.
Os casos mais recentes registrados pela entidade são de 2020. Boniface Mwamelo, de Zâmbia, foi banido por 15 anos e multado em 10 mil francos suíços; e Sidio Jose Mugadza, de Moçambique, foi banido do futebol por sete anos. Eles estiveram envolvidos em conspirações de torneios de base. Há casos ocorridos em eliminatórias para a Copa.
Em 2014, o então chefe de Segurança da Fifa, Ralf Mutschke, denunciou a tentativa de assédio de árbitros e jogadores por parte de criminosos que tentavam manipular resultados na Copa do Mundo no Brasil.
Parceria com a ONU
Terminou no fim de junho o Programa Global de Integridade, parceria da Fifa com o Escritório da Organização das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). Ele foi desenhado para funcionar nas 211 associações e seis confederações. Segundo o UNODC, mais de 400 representantes de governos e federações participaram de 29 oficinas, desde março de 2021.
“O UNODC está atualmente explorando a possibilidade de desenvolver eventos de conscientização para funcionários de governos que estão participando da Copa do Mundo e está discutindo ativamente com a Fifa possíveis ações que podem ser tomadas durante a Copa de 2022”, afirmou a área anticorrupção do escritório da ONU.
O último relatório do UNODC sobre corrupção no esporte alertou para a ligação entre manipulação de resultados, apostas ilegais e o crime organizado internacional. Entre as possíveis respostas estão a atualização de leis, o desenvolvimento de políticas anticorrupção e o estabelecimento de órgãos específicos e independentes para lidar com os casos.
“Em muitos países, apostas online se tornaram legalizadas, o que requer monitoramento apropriado e prevenção fortalecida. O Catar trabalhou com todas as agências parceiras para incorporar as melhores práticas no combate a esse problema” comentou Dale Sheehan, diretor de Capacitação e Educação Executiva da organização não-governamental independente Centro Internacional de Segurança no Esporte (ICSS).
Segundo o sindicato mundial dos jogadores profissionais (FIFPro), muitas vezes os atletas têm medo de avisar a polícia, Justiça, Uefa ou Fifa, por receio de colocar a família e a carreira em risco. O sindicato conta desde 2020 com um aplicativo para denúncias anônimas.
O futebol brasileiro teve casos recentes de manipulações de resultados. A federação de São Paulo enviou ofício à Polícia Civil para investigar resultados da quarta divisão. No Ceará, o Crato foi suspenso de participar das competições estaduais. O Flamengo-PI entrou com denúncia junto ao Ministério Público do Piauí contra jogadores do próprio clube.
Fonte: ge