MAR 26 DE NOVIEMBRE DE 2024 - 03:50hs.
Andre Gelfi falou no GE e CNN

A taxação alta prejudicará o esporte brasileiro pois as casas de apostas cortarão patrocínios

Andre Gelfi, presidente do Instituto Brasileiro de Jogo Responsável, alerta que a alta tributação sobre as casas de apostas impedirá que elas continuem patrocinando o esporte e em especial o futebol. No podcast Dinheiro em Jogo, do GE, e em entrevista à CNN, o dirigente apresentou esclarecimentos sobre a regulação do setor e deixou claro que “com taxação alta, os operadores irão reduzir custos e o primeiro corte será no marketing”. Ele apontou ainda a incoerência de tributar o apostador em 30%.

Cada vez mais o setor de apostas esportivas ganha espaços de honra. Desta vez o podcast Dinheiro em Jogo, do GE, recebeu Andre Gelfi, presidente do Instituto Brasileiro de Jogo Responsável, para uma longa entrevista. Ele foi recebido pelo âncora do podcast, Rodrigo Capelo, e pelo repórter Martín Fernandez.

Gelfi explicou os entraves enfrentados pelo setor de apostas esportivas desde que a atividade foi legalizada em 2018, já que o segmento teve de aguardar praticamente cinco anos para conquistar a regulamentação, ainda em discussão no Senado.

A tramitação vai até meados de novembro, tendo em vista o prazo constitucional de 45 dias para a sua apreciação, mas Andre Gelfi acredita que “até o final do ano teremos a atrasada regulamentação das apostas esportivas”.

E em entrevista à CNN neste sábado, ele reforçou que além da tributação de 18% diretamente sobre a operação, agregada a outros impostos, levará a uma taxa danosa ao setor.

Débora Oliveira, analista de economia da CNN, identificou o “comprometimento da viabilidade de alguns campeonatos, que ficaram sem o patrocínio das casas de apostas”. Gelfi disse que isso pode realmente acontecer. “Quando você dificulta a competitividade, você terá menos operadores e uma oferta de patrocínios menor, que irá impactar ainda mais aqueles de menos visibilidade”.

 

 

Mudanças são esperadas

Segundo Andre Gelfi, foram muitas discussões do setor com o governo para o Brasil chegar a este momento, mas que elas precisam continuar para que no Senado alguns ajustes “pontuais”, como disse Gelfi, sejam feitos para aprimorar o que foi aprovado na Câmara dos Deputados.

Esperamos que sejam feitos ajustes pontuais para viabilizar o desenvolvimento de um mercado sustentável. O texto de forma geral é bom no que diz respeito a integridade do esporte, jogo responsável e a publicidade”, explicou.

Na sua avaliação, a questão econômica é o que não está bom e poderá dificultar a consolidação de um mercado legal forte. “Os impostos e o prazo de licença, de alto custo, precisam ser revistos”, afirmou, deixando claro que “será a única maneira para que o mercado seja formalizado da melhor maneira possível.”

De acordo com o presidente do IBJR, “o valor da outorga, que pode chegar a R$ 30 milhões, para três anos de operação, vai dificultar bastante a vida do potencial investidor. O prazo é muito curto. É difícil viabilizar muitas licenças com esse valor, por isso defendemos a redução do valor e o aumento do prazo de operação”.

Ele admitiu que um valor alto ajuda a afastar possíveis aventureiros, mas excessivamente elevado e por um período curto, “irá desencorajar investidores sérios que querem operar no mercado regulamentado brasileiro”.

Gelfi comentou ainda que estão errados aqueles que dizem que o imposto será de 18% sobre o GGR. “Somados ao PIS, Cofins e ISS, vai ultrapassar os 30% e isso inviabiliza o setor, pois haverá uma concorrência com players globais que podem não aplicar por uma licença no Brasil e os clientes continuarem apostando em sites no exterior”.

No mundo digital, é difícil criar barreiras para impedir que os apostadores joguem, de acordo com ele. “Os impostos precisam ser toleráveis para que o operador seja competitivo no Brasil. Se for muito alto, o operador terá dificuldades ao competir com o mercado offshore, que irá oferecer odds mais altas”, atestou, reforçando que “o mercado paralelo é muito fácil de ser acessado”.

No Reino Unido imposto é de 15%

O dirigente exemplificou mais uma vez o mercado do Reino Unido, que garantiu uma canalização de 95% dos usuários com uma carga total de impostos de 15%. “Se no Brasil conseguirmos baixar de 18% para 10% do GGR, ainda ficaremos acima do modelo da Inglaterra, mas será possível suportar e canalizar os jogadores para o mercado regulado”, disse tanto ao podcast do GE quanto à CNN.

Uma coisa é clara. Ao apertar demais nos impostos, os operadores terão de reduzir custos. A primeira verba a ser cortada será no marketing”, disse, o que poderá prejudicar o esporte brasileiro. "Uma indústria pujante representa dinheiro para o futebol”.

Ele estimou que hoje o segmento de apostas esportivas é o maior patrocinador do futebol e um dos maiores em compras de mídias e direitos dos campeonatos. "Supera a casa de R$ 1 bilhão”, disse.

Manipulação de resultados

Até mesmo os apresentadores do podcast Dinheiro em Jogo apontaram os danos à imagem das casas de apostas com as denúncias sobre manipulação de resultados no futebol. Rodrigo afirmou que “elas são vítimas desse processo” e indagou Andre Gelfi sobre como o setor se viu durante as denúncias.

Conquistamos um espaço inusitado para desmistificar a impressão que as casas de apostas tinham. Realmente tivemos a oportunidade de explicar o que acontece com a manipulação de resultados e os prejuízos que a prática causa aos operadores. Com a regulamentação tudo isso será equacionado e haverá um combate oficial à ilegalidade, além de políticas de educação de atletas e dirigentes para a integridade esportiva”.

Operação regulada

O primeiro semestre de 2024 será de acomodação a uma nova realidade a partir da publicação da lei e das portarias, de acordo com Andre Gelfi. Após isso, haverá a dinâmica de empresas aplicando por licenças e quem não a tiver estará proibido de patrocinar clubes ou comprar publicidade. “Isso deve começar a acontecer em 2024, mas o processo como um todo é longo. Acho que a consolidação completa será apenas em 2025. De qualquer maneira, acredito que a operação regulada, efetivamente, começará no segundo semestre do próximo ano”.

Fonte: GMB