Em um domingo de decisão no campeonato estadual de futebol, um grupo de moradores da capital coloca alguns milhares de reais em um site de apostas, acerta o resultado e fatura uma bolada. Seria só mais uma turma de sortudos na cidade, se o sistema de prevenção a fraudes da plataforma não detectasse uma anomalia. Cruzando dados como nomes, locais e valores investidos, ele identifica a origem dos jogos e constata que um dos apostadores é primo do juiz que atuou na partida.
Casos como esse não são novidade no setor. Para prevenir diferentes tipos de golpes, as plataformas de pagamento têm o desafio de construir ferramentas que cruzem informações e façam a gestão dos casos suspeitos, tudo isso levando em consideração o volume de dados e a rotina das casas de apostas.
Robôs e laranjas
Hoje existem grupos especializados na utilização de robôs que realizam pequenas apostas em grande volume, pulverizando os resultados e dificultando a identificação de ações ilícitas. Outra tática, segundo ele, é o uso de laranjas que forneçam “contas quentes”, ou seja, contas que ainda não tenham sido rastreadas pelas plataformas.
Os esquemas funcionam coordenando as ações de diferentes grupos, como os aliciadores, que combinam o resultado com um jogador ou juiz; os apostadores, que utilizam as suas contas para a realização da aposta e recebem um valor combinado previamente; os financiadores, que investem o dinheiro que será utilizado para realizar as apostas e os administradores, que fazem as transações financeiras entre os envolvidos.
Atenção às brechas
Para captar este tipo de ação, existem tecnologias específicas de rastreamento que devem ser incorporadas aos sistemas de pagamento. Como já atuei na prevenção a fraudes para grandes empresas de tecnologia financeira no Vale do Silício, reforço que é necessário investir em duas frentes: desenvolvimento de inteligência de dados e investigação das brechas que possam possibilitar a realização de fraudes.
Esse tipo de violação prejudica a casa de apostas várias formas. Além do dano financeiro imediato de apostas feitas em condições ilícitas, casas que não possuem um sistema antifraudes robusto têm a sua imagem abalada, com implicações também na credibilidade do setor.
João Gabriel Fraga
CEO da Paag