Hoje acordamos com a notícia de que o Brasil é o país com maior número de jogos suspeitos de manipulação de resultados.
A matéria, publicada no ge.com, aponta que somente em 2022, 152 jogos suspeitos foram identificados por aqui, o que representa 12% do total global e escancara de uma vez por todas a dramática situação vivida pelo futebol brasileiro.
Apenas para se ter ideia, a título de comparação, a segunda colocada no ranking é a Rússia, com 92 partidas suspeitas (60 a menos que o Brasil).
Tenho denunciado esse problema há anos (desde que o desastre ainda se anunciava apenas) e cobrado das autoridades do esporte a implementação de planos sérios e efetivos de integridade, capazes de prevenir e reprimir esse grave problema.
Até hoje, porém, a despeito de algumas iniciativas isoladas (várias delas com minha participação, inclusive), a maior parte dos gestores esportivos segue ignorando o problema ou o tratando como algo secundário, de menor importância.
Quando será que eles perceberão que a integridade é o que avaliza o esporte como um produto comercial? Ou seja, quando perceberão que combater a manipulação de resultados é vital para a sobrevivência do esporte?
Não adianta discutir liga, SAF, contratos de patrocínio, contratos de direitos de transmissão e outros ativos se o produto está aos poucos morrendo. É preciso preservá-lo acima de tudo. Ou deixaremos mesmo que as manipulações sigam prosperando e destruindo tudo pouco a pouco?
A luta contra as fraudes de resultados deve ser tratada como tema central em qualquer discussão que envolva o esporte atualmente. Essa luta deve receber a atenção e todos os investimentos necessários para que o esporte possa sair vitorioso na disputa contra os que desejam ganhar dinheiro sem qualquer escrúpulo e às custas de sua credibilidade.
Tiago Horta Barbosa
Consultor em direito e integridade do esporte. Graduado em Relações Internacionais e Direito e pós-graduado em Gestão e Direito Desportivo (FIFA/CIES/UCA), além de Master em Direito Desportivo pela ISDE Madrid. Atua como auditor do Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem desde 2020. É membro do Comitê de Ética da Federação Internacional de Tênis de Mesa e de diversos comitês de ética e integridade do esporte em âmbito nacional. Ex-oficial policial da INTERPOL (2012 – 2014) e ex-diretor para desenvolvimento de negócios e integridade esportiva da Sportradar AG (2016 – 2019). Ex-procurador do Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol.