O futebol brasileiro se rendeu às bets. Trinta e nove times dos 40 das Séries A e B possuem algum tipo de parceria com casas de apostas. É o maior número dos últimos anos, desde que os sportsbooks passaram a operar no país, mas não os sites, pois todos eles têm base fora do Brasil. O governo Lula tem em sua mesa a regulamentação da lei para sancionar.
A única exceção dos clubes fica por conta do Cuiabá, que já manifestou publicamente o desejo de conseguir um patrocínio desta categoria de patrocinador para a disputa do Campeonato Brasileiro, prestes a começar, mas ainda não encontrou uma oferta que seja boa para as partes.
A parceria não segue apenas um modelo de negócio. Bahia e Sport, por exemplo, seguem parcerias mais tradicionais, o de receber valores próximos dos R$ 50 milhões (por três anos) e estampar na camisa a logomarca do site de aposta.
O Grêmio preferiu negociar uma ajuda mensal para pagar o salário do atacante uruguaio Luis Suárez. O clube recebe cerca de R$ 1 milhão somente para essa finalidade. Clubes de São Paulo e do Rio cobram valores maiores. O Flamengo chega a ganhar R$ 25 milhões por ano.
Os sites de apostas movimentam R$ 12 bilhões no Brasil.
São pelo menos 17 marcas diferentes estampando seus logos nos uniformes ou em propriedades dos clubes. A predominância fica por conta do Esportes da Sorte, que é a primeira em número de patrocinadores na Série A, com quatro equipes, e da Série B, com outras cinco agremiações - ainda detém mais um clube, o América-RN, na Série C do Campeonato Brasileiro. A condição do site de apostas foi comemorada na última sexta-feira, dia 24, ao anunciar o patrocínio master do Athletico Paranaense pelos próximos três anos. O nome da bet vai na parte frontal da camisa.
“Entendemos que atrelar nossa marca aos clubes não é apenas uma forma de exposição extremamente positiva, mas também de levar aos fãs um pouco de conhecimento e do que é o mercado de apostas. Digo isto porque temos como objetivo promover interação, desde os nossos posts e vídeos em redes sociais até em ativações junto a esses times patrocinados. Queremos estabelecer uma parceria que crie conexões com essas torcidas, e por isso também escolhemos agremiações de diferentes Estados e regiões do país”, destaca o CEO do Esportes da Sorte, Darwin Filho.
Fidelização
A lógica das casas de apostas é ser aberta para todos os públicos, de modo a não deixar nenhum apostar sem a possibilidade de jogar. Ocorre que as marcas entendem também que fidelizar um tipo de apostador, como os torcedores de determinada região do Brasil, pode trazer benefícios para as partes envolvidas: a empresa de apostas que faz crescer seu negócio e o clube que ganha financeiramente com o patrocinador. A Crefisa, do Palmeiras, que está no clube desde 2015, e é uma financiadora de crédito para pessoas comuns, cresceu seu negócio com o futebol.
Para o especialista em marketing esportivo Renê Salviano, CEO da Heatmap, o mercado de betting surgiu como um atrativo financeiro, em substituição às saídas dos bancos, por exemplo. “A indústria das apostas pode ajudar muito o futebol brasileiro. Infelizmente, viemos de um período de dois anos de escassez com a pandemia, e essas empresas chegaram para preencher o espaço que muitos clubes tiveram com perda de receitas. Também acho que mais do que a questão financeira, o segmento de apostas pode também ajudar com ativações, pois sabemos o quanto o brasileiro gosta e está enraizado com a cultura desses jogos”.
Além do Esportes da Sorte, outras duas empresas aparecem com destaque neste cenário, casos da EstrelaBet, com sete parceiros, e Pixbet, com seis. Na sequência, as outras marcas que patrocinam clubes das Séries A e B são: Betano (2), Betfair (2), Betnacional (2), Besfast.io (1), Bet7k (1), Blaze.bet (1), Brbet.com (1), Dafabet (1), MrJack.bet (1), Novibet (1), Pagbet (1), Parimatch (1), Sportsbet.io (1) e Valsports (1).
O presidente Marcelo Paz, do Fortaleza, fechou recentemente o maior contrato da história do clube com uma plataforma de apostas grega, a Novibet. “É um mercado em expansão e que veio para substituir a saída de marcas de outros segmentos. E o Fortaleza analisou minuciosamente todas as propostas que chegaram. A parceria que fechamos recentemente com a Novibet é uma das maiores da nossa história, nos colocando num patamar de grandes times do futebol nacional”, disse, sem revelar as bases do acerto. O modelo de negócio não se difere muitos os tradicionais patrocinadores: dinheiro por exposição da marca nas camisas do time.
Já o presidente do Sport, Yuri Romão, outro clube do Nordeste, defende que a importância desses patrocínios vai além da exposição na camisa. “A Betnacional, no nosso caso, incentiva e nos apoia financeiramente também com a modernização de nosso centro de treinamento. É cada vez mais importante o incentivo financeiro advindo deste setor. Por meio dessas parcerias, os times nacionais conseguem realizar contratações, fazer melhorias nas dependências do clube e oferecer melhores condições para todos os funcionários”, diz.
O Cuiabá, único entre os 40 clubes que não possui qualquer patrocínio de betting, informa que já recebeu contatos de companhias de apostas esportivas sobre a possibilidade de apoiar o time, mas as negociações continuam.
“Temos dois espaços de destaque na camisa do Cuiabá: o primeiro é embaixo do nosso patrocínio master e o segundo, em cima do número dos atletas. Somos um clube tradicional e disputamos um dos campeonatos nacionais mais fortes e vistos do mundo. Por conta disso, pedimos um valor que reflete a visibilidade da agremiação”, afirma Cristiano Dresch, vice-presidente do Cuiabá. Ele não informa a base da sua negociação.
Fonte: Estadão