Nesta terça-feira, 18, o Ministério Público de Goiás vem realizando enorme operação no país inteiro. De acordo com as informações do site "GE", o MP-GO tem três mandados de prisão preventiva e 20 de busca e apreensão para cumprir em seis estados e 16 cidades. A lista dos jogos da Série A envolvidos no esquema ainda não foram revelados.
Em coletiva de imprensa, o Ministério divulgou que seis partidas do Campeonato Brasileiro de 2022 estão sob alvo da Operação "Penalidade Máxima", que investiga manipulação de resultados no futebol brasileiro.
De acordo com informações divulgadas pelo promotor Fernando Cesconetto, do Ministério Público de Goiás, as quantias variavam entre R$ 50 mil e R$ 60 mil por cada atleta. Os nomes não foram revelados e nenhum atleta foi preso até o momento. Além disso, não está descartada a participação de outros jogadores.
A nova fase da operação, deflagrada nesta terça-feira cumpriu três mandados de prisão e 20 mandados de busca e apreensão em 16 cidades de seis estado: Bragança Paulista, Guarulhos, Presidente Venceslau, Santana de Parnaíba, Santo André, Santos, São Paulo e Taubaté (SP); Rio de Janeiro (RJ); Recife (PE); Erechim, Pelotas e Santa Maria (RS); Chapecó e Tubarão (SC); e Goianira (GO).
Durante o cumprimento dos mandados, um atleta do Juventude confirmou aos promotores que foi assediado para tomar cartão amarelo em outro jogo, no dia 10 de setembro, que não estava na lista inicial do Ministério Público.
O número de jogos da atual investigação iguala as 11 partidas que foram anuladas pela CBF no Brasileirão de 2005 por ocasião da Máfia do Apito. Todos os apitados pelo árbitro Edilson Pereira de Carvalho, diretamente envolvido no escândalo, foram anulados e disputados novamente.
Como o suposto esquema funcionava:
*De acordo com a investigação, o grupo criminoso conseguia manipular resultados após subornar jogadores.
*Os jogadores recebiam entre R$ 50 mil e R$ 100 mil para realizar ações específicas durante as partidas. As ações a serem realizadas pelos jogadores eram motivo de apostas em sites especializados, além de poderem interferir no resultado final do jogo.
*Exemplo: jogadores recebiam propostas para marcarem um pênalti no primeiro tempo de um jogo. Em paralelo, um criminoso envolvido no esquema apostava em um dos sites que aquele pênalti seria cometido por aquele jogador, e era remunerado pela aposta bem sucedida.
*Caso os jogadores aceitassem, era feito o pagamento do “sinal”.
*Após a partida, caso o pênalti tivesse sido efetivado, jogadores recebiam restante do valor.
Jogos manipulados
De acordo com o Ministério Público de Goiás (MP-GO) por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e da Coordenadoria de Segurança Institucional e Inteligência (CSI), os 11 jogos suspeitos foram os seguintes:
Campeonato Brasileiro
10/9/2022 – Palmeiras 2×1 Juventude (tentativa de manipular um atleta do Juventude a levar cartão amarelo);
5/11/2022 – Santos 1×1 Avaí (tentativa de manipular atleta do Santos a levar cartão amarelo);
5/11/2022 – Red Bull Bragantino 1×4 América-MG (tentativa de manipular atleta do Red Bull Bragantino a levar cartão amarelo);
5/11/2022 – Goiás 1×0 Juventude (tentativa de manipular dois atletas do Juventude a levarem cartão amarelo);
6/11/2022 – Cuiabá 1×1 Palmeiras (tentativa de manipular um atleta do Cuiabá a levar cartão amarelo);
10/11/2022 – Botafogo 3×0 Santos (tentativa de manipular um atleta dos Santos a levar cartão vermelho);
Campeonato Paulista
8/2/2023 – Guarani 2×1 Portuguesa (tentativa de manipular para atleta ser punido com cartão amarelo);
Campeonato Goiano
12/2/2023 – Goiás 2×0 Goiânia (aliciamento para que o Goiânia tivesse derrota parcial ao final do primeiro tempo, que terminou 2 a 0);
Campeonato Gaúcho
11/2/2023 – Esportivo 0x0 Novo Hamburgo ( manipulação de atleta do Novo Hamburgo a cometer pênalti; houve pênalti para o Esportivo, que desperdiçou a cobrança);
12/2/2023 – Caxias 3×1 São Luiz (manipulação para atleta do São Luiz cometer pênalti; houve pênalti a favor do Caxias durante o jogo);
Campeonato Mato-Grossense
11/2/2023 – Luverdense 0x2 Operário de Várzea Grande (tentativa de manipular para garantir determinado número de escanteios durante a partida).
Quem são os jogadores suspeitos de manipulação no Brasileirão e Estaduais?
O Ministério Público não divulga nomes, mas Victor Ramos, ex-Vasco e Palmeiras, teve o celular apreendido. O atleta de 33 anos foi encontrado em sua casa nesta manhã, em Chapecó, e conduzido para prestar depoimento. No entanto, ele segue treinando normalmente.
Kevin Joel Lomónaco, zagueiro do Red Bull Bragantino é outro suspeito. Policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) cumpriram um mandato de busca na casa do atleta. A informação foi publicada pelo jornal "Em Pauta".
De acordo com o "globoesporte.com", o lateral-esquerdo Igor Cariús, do Sport, e o meia Gabriel Tota, ex-Juventude e atualmente no Ypiranga-RS, são alguns dos investigados.
Ainda segundo o MP de Goiás, os suspeitos vêm de diversas regiões do Brasil. Nesta terça, foram buscados:
*Goiás - 1 atleta investigado
*Rio Grande do Sul - 3 atletas investigados
*Santa Catarina - 2 atletas investigados
*Rio de Janeiro - 1 investigado (não atleta)
*Pernambuco - 2 atletas investigados
*São Paulo - 10 mandados de busca e apreensão e 3 prisões
Algum jogador de futebol foi preso?
Nenhum jogador preso, só pessoas envolvidas nos pedidos de manipulação. Foram três mandados de prisão em São Paulo, mas só para não atletas.
Foram apreendidas granadas de efeito moral em um mandado de prisão em São Paulo a armas de fogo em outro endereço, também em terras paulistas. Nesse local, houve também um flagrante de armas de fogo sem o devido registro.
Os atletas ou aliciadores podem ser indiciados via Estatuto do Torcedor e também podem responder por crime por lavagem de dinheiro, se for o caso. Segundo o Estatuto do Torcedor, a pena varia de 2 a 6 anos de prisão.
O que os jogadores faziam para manipular as partidas?
Os atletas e envolvidos suspeitos estão sendo investigados por manipulação da seguinte forma: receber cartões amarelo ou vermelho, cometer um pênalti, garantir uma derrota parcial no 1º tempo, número de escanteios, etc.
O que os clubes dos jogadores envolvidos disseram?
A Chapecoense e o Red Bull divulgaram notas sobre os jogadores investigados.
"O clube tem tolerância zero com qualquer atitude que possa ferir a idoneidade do esporte e vá contra os valores e dignidade de todos que vestem as cores do Red Bull Bragantino. Nos colocamos à disposição das autoridades durante a investigação e trataremos internamente a situação legal envolvendo o atleta", disse o time de Bragança.
"A respeito da “Operação Penalidade Máxima” e do cumprimento do mandado relacionado à ela em Chapecó – envolvendo um jogador do clube – a agremiação alviverde reforça o seu apoio e, principalmente, a confiança na integridade profissional do atleta. Por fim, tendo em vista as investigações, o clube destaca o seu compromisso em colaborar totalmente com as autoridades e oferecer todo o suporte e informações necessárias na apuração e esclarecimento do caso".
Quais são os próximos passos da investigação?
Segundo o MP de Goiás, agora as autoridades irão reunir o material angariado em 6 estados envolvidos, com dezenas de aparelhos eletrônicos apreendidos, analisanto tudo e realizando interrogatórios. Após analisar as provas, aí sim serão avaliados os próximos passos.
O que a Operação "Penalidade Máxima" investiga
A investigação da Operação "Penalidade Máxima" aponta que grupos criminosos convenciam jogadores, com propostas que iam até R$ 100 mil, a cometerem lances específicos em partidas e causassem o lucro de apostadores em sites do ramo.
Um jogador cooptado, por exemplo, teria a "função" de cometer um pênalti, receber um cartão ou até mesmo colaborar para a construção do resultado da partida - normalmente uma derrota de sua equipe.
As primeiras denúncias ouvidas pela operação surgiram no fim de 2022, quando o volante Romário, então jogador do Vila Nova (GO), aceitou R$ 150 mil para cometer um pênalti contra o Sport, em partida válida pela Série B do Brasileiro.
Na ocasião, o atleta embolsou R$ 10 mil imediatamente e só ganharia o restante caso o plano funcionasse. Romário, porém, sequer foi relacionado para a partida, o que estragou a ideia.
A história chegou até Hugo Jorge Bravo, presidente do time goiano e também policial militar, que buscou provas e as entregou ao Ministério Público do estado. A partir daí, criou-se a operação "Penalidade Máxima" para investigar provas e suspeitas sobre o assunto.
Na primeira denúncia, havia a suspeita de manipulação em três jogos da Série B, mas os últimos acontecimentos levaram os investigadores a crer que o problema era de âmbito nacional e havia acontecido em campeonatos estaduais e também na primeira divisão do Brasileiro.
Além de Romário, outros sete jogadores foram denunciados pelo Ministério Público por participarem do esquema de fabricação de resultados: Joseph (Tombense), Mateusinho (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Cuiabá), Gabriel Domingos (Vila Nova), Allan Godói (Sampaio Corrêa), André Queixo (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Ituano), Ygor Catatau (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Sepahan, do Irã) e Paulo Sérgio (ex-Sampaio Corrêa, hoje no Operário-PR).
Fonte: g1 / ESPN / GMB