O segmento de apostas esportivas no Brasil passa por um momento insólito. Não bastasse a dura negociação com o governo federal, que vê no setor um mercado estratégico para o aumento de receita (uma iniciativa legítima, que visa coibir a evasão de divisas do país), agora tem de lidar com a perda de reputação diante de um escândalo sem proporções de manipulação de jogos na principal divisão do Campeonato Brasileiro de futebol.
Em entrevista a VEJA, Andre Gelfi, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), diz que as casas de apostas são “vítimas” no caso e que a imagem do mercado e do esporte ficaram “impactadas” com a operação, mas que o caminho para que esse tipo de escândalo não se repita passa pela educação, sobretudo dos desportistas.
Gelfi, que também é CEO da operação brasileira da Betsson, grupo de jogos de azar sueco, está em Brasília para tratar do assunto com membros do Ministério da Fazenda e integrantes da The International Betting Integrity Association (IBIA), entidade internacional do segmento — os dois órgãos acabaram de fechar uma parceria para que possam trabalhar em conjunto para a promoção da integridade do esporte no Brasil.
“Estamos tratando dessa questão com a Fazenda em Brasília. A indústria de apostas, nesse caso, é a principal vítima. A gente está de olho nesse assunto e temos todo o interesse de trazer essa discussão para um nível mais profundo, até porque a regulamentação do mercado vai tratar disso”, diz Gelfi.
Uma lei, aprovada durante o governo de Michel Temer, em 2018, estabeleceu regras e tributos para o mercado de jogos eletrônicos no Brasil, mas sua regulamentação não foi implementada por falta de interesse na pauta pelo governo de Jair Bolsonaro.
Mais de dez jogadores de clubes da elite do futebol brasileiro estão sendo investigados pela operação Penalidade Máxima II, do Ministério Público de Goiás, por estarem envolvidos no escândalo que apura a manipulação de resultados no país – reportagem de VEJA mostrou que Eduardo Bauermann, do Santos, chegou a ser ameaçado de morte por uma quadrilha que manipulava jogos. A pena por obter vantagem patrimonial indevida pode ser reclusão, multa e até o banimento do atleta envolvido no esporte. Vários jogadores já foram afastados de seus clubes.
“A imagem está sendo impactada. Tem perda de credibilidade para o esporte e para o mercado de apostas. Essa situação não é legal para ninguém. A gente tem uma atividade criminosa acontecendo dentro do nosso ecossistema e precisamos tratar disso de forma coordenada, responsável, com treinamento, prevenção e monitoramento. Isso tem de ser trabalhado com reguladores, operadores e o próprio esporte nacional”, afirma Gelfi.
Por meio da parceria com a IBIA, Gelfi prevê levar treinamento e informação para os jogadores de futebol no país. "A última vez que a elite do futebol brasileiro esteve envolvida em um escândalo de grandes proporções foi em 2005. Tem uma parte que é de promover informação e treinamento para que os clubes e os jogadores estejam absolutamente conscientes da gravidade do caso, para saber como identificar, como reagir e para quem reportar a denúncia. Com a investigação do MP ficou claro que isso deixou de ser um problema secundário”, complementa ele.
Fonte: Veja