MAR 26 DE NOVIEMBRE DE 2024 - 13:43hs.
Aumento nos casos de manipulação

Sportradar usa Inteligência artificial para detectar fraude em apostas no futebol brasileiro e mundial

O aumento nos casos de manipulação de resultados vem crescendo a cada ano. Mas o combate às fraudes também vem aumentando. Sportradar, líder mundial em tecnologia esportiva, que fornece dados para Conmebol, UEFA, CBF e algumas federações do Brasil, além de clubes, federações, grupos de mídia e casas de apostas, utiliza o Sistema Universal de Detecção de Fraudes (UFDS) para detectar padrões de apostas irregulares e suspeitos com ajuda da inteligência artificial (IA).

Durante o período da pandemia de covid-19, as fraudes aumentaram ainda mais de acordo com dados da UNODC (United Nations Office on Drugs and Crime), do COI (Comitê Olímpico Internacional) e da Interpol, num levantamento realizado em 2020.

Mas o combate às fraudes também vem aumentando. No Reino Unido, em 2005, foi introduzida a lei Gambling Act 2005, destinada a controlar todas as formas de jogo, incluindo apostas. No último dia 13, a Premier League anunciou a decisão de proibir os patrocínios de casas de apostas na frente das camisas dos clubes de futebol, numa medida que entrará em vigor a partir da tempo.

Em 2017, a FIFA fechou um acordo com a empresa suíça Sportradar, líder mundial em tecnologia esportiva, que fornece dados para clubes, federações, grupos de mídia e casas de apostas. Conmebol, UEFA, CBF e algumas federações do Brasil também usam o sistema da empresa, que faz o monitoramento de todas as partidas.
 

Tecnologia contra as fraudes

Utilizado pela Sportradar, o Sistema Universal de Detecção de Fraudes (UFDS - Universal Fraud Detection System) detecta padrões de apostas irregulares e suspeitos. O sistema é provido por algoritmos de machine-learning, inteligência artificial (IA) e um banco de dados de apostas constantemente atualizado, que coleta em tempo real informações de mais de 600 operadores globais de apostas com o objetivo de detectar possíveis manipulações. Em 2022, foram analisadas mais de 850 mil partidas esportivas pelo mundo.

Quando alguns jogos suspeitos são detectados pelo sistema, eles são analisados por especialistas de integridade da empresa. A partir daí, a Sportradar informa ao órgão esportivo competente, como Fifa, Conmebol ou CBF, que também faz sua análise do caso. Em São Paulo, a Federação Paulista conta com um Comitê de Integridade, formado por Promotores, Advogados, delegados da Polícia Civil e Polícia Federal.

O comitê foi criado em 2015 pelo advogado especializado em direito esportivo Paulo Schmitt, atual presidente do órgão. Além de trabalhar na análise de casos suspeitos, o Comitê de Integridade desenvolveu uma cartilha para clubes e jogadores visando ações preventivas e repreensivas.

Nos últimos anos, através dessas ações, tanto a Federação Paulista quanto a CBF está recebendo denúncias dos jogadores sobre possíveis fraudes. Em alguns casos, os atletas são orientados a seguirem as conversas com os aliciadores para que a polícia consiga mais detalhes e entre com ações mais efetivas.

Após a identificação e análise, então, por parte dos órgãos esportivos, os casos são levados para autoridades judiciárias e policiais, Ministérios Públicos dos estados no Brasil e depois aos Tribunais de Justiça Desportiva (TJD), também de cada estado, e ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

Um dos problemas desse processo todo, atualmente, é a demora na conclusão dos casos. O MP de Goiás, através da operação 'Penalidade Máxima', que começou no final de 2022 com jogos da Série B, divulgou casos envolvendo partidas e jogadores de clubes da Série A do Brasileirão 2022 quase seis meses após o término da competição.

 

 

Como é feito o aliciamento

No Brasil, a regulamentação das casas de apostas ainda não foi aprovada pelo Governo Federal. Apesar disso, elas seguem operando, com presença cada vez maior na vida dos brasileiros, especialmente no mundo esportivo. Como muitas dessas casas não têm sede no Brasil, a fiscalização ainda é bem ruim, dando brecha para a entrada cada vez maior para as fraudes e crimes por parte de aliciadores.

Segundo a Sportradar, os jogos suspeitos geralmente são provenientes de partidas de divisões inferiores, sendo 52% delas de campeonatos de terceira divisão para baixo e ligas regionais. Antigamente, como no caso da Máfia do Apito de 2005, havia o interesse das casas de apostas no resultado final das partidas. Hoje, isso mudou. Para não dar muito na cara, os aliciadores buscam jogadores desses campeonatos menores para tentar ganhos no número de escanteios e cartões.

Nos sites de aposta, é possível, além dessas opções, escolher uma gama de possibilidades de aposta. Desde o autor do primeiro gol, o modo como será feito o gol, quando será o próximo arremesso lateral e o vencedor de cada tempo. Algumas partidas de futebol chegam a mais de 300 opções de apostas.

Nos casos mais comuns, laranjas fazem o contato com jogadores através de redes sociais ou até mesmo pelo WhatsApp dos atletas, oferecendo valores entre R$ 5 mil e R$ 50 mil, para que eles cometam pênaltis, forcem cartões e escanteios e, ainda, ajudem seu próprio time a entregar o jogo. Muitas vezes, brasileiros que moram fora do país fazem esse contato direto com os jogadores.
 

Crescimento das casas de apostas

As casas de apostas chegaram ao mercado brasileiro há mais de dez anos, no final da década passada. Desde então, o número não para de crescer e hoje há uma extensa lista de empresas chamando o consumidor para o jogo de azar em sites, anúncios em TVs abertas e fechadas e, em massa, nas camisas dos clubes de futebol.

Hoje, o mercado global de apostas gira cerca de 1,7 trilhão de euros por ano em todos os esportes, com o futebol representando mais de 60% desse mercado, segundo levantamento da organização I Trust Sport. Em casos de manipulação de resultados, a Europol (Agência da União Europeia para a Cooperação Polícia), em 2020, estimou que cerca de 120 milhões de euros foram movimentados em casos de fraudes e manipulação de resultados.

No Brasil, os casos de manipulação de resultados envolvendo casas de apostas não são recentes. Em 2005, o árbitro Edílson Pereira de Carvalho foi preso após ser descoberto num esquema em que ganhava R$ 10 mil por jogo para manipular o placar das partidas. Dez jogos em que ele apitou no Brasileirão foram anulados e remarcados.

 

Fonte: UOL/GMB