Após a abertura dos trabalhos, o deputado Júlio Arcoverde (PP-PI), passou a palavra ao presidente do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo, que afirmou ter sido “uma obrigação” denunciar os fatos que chegaram a ele. “Essa operação vem em um momento importante para o futebol brasileiro e se isso não acontecesse agora, em 3 ou 4 anos ele estaria completamente contaminado”.
“Os atletas que até então eram aliciados, tornaram-se aliciadores. O futebol brasileiro representa praticamente 1% do PIB nacional e é o responsável por ser o maior exportador de atletas do mundo. A regulamentação chegou com o fim de arrecadação, mas com a CPI, ela terá também como foco a proteção da integridade no futebol e isso será importante para o combate a práticas ilícitas”, completou.
Segundo ele, as casas de apostas e os clubes são os maiores prejudicados pela prática da manipulação de resultados. “Não podemos aceitar que um atleta em uma ação isolada coloque em xeque o trabalho de pessoas honestas”, afirmou. “Hoje as casas de apostas são os maiores patrocinadores dos clubes e as relações são muito profissionais”, afirmou, deixando claro a importância da parceria.
Cyro Terra Peres, procurador-geral de Justiça do MP-GO, disse que “queremos prestar nossa contribuição no trabalho desta CPI para proteger torcedores e clubes, assim como todas a esfera econômica e social que o futebol abrange em nosso país. Por isso sou favorável à regulamentação do setor para combater as práticas ilegais”.
Manipulação foi pontual
“Nossa investigação apurou fatos pontuais e condutas de pessoas determinadas. A operação não detectou, até agora, manipulação que comprometesse de forma sistêmica os campeonatos. A maioria dos atletas e dirigente são honestos e querem lisura. Precisamos proteger a lisura das competições pois o futebol é um patrimônio do povo brasileiro”, afirmou Cyro.
Em seguida, Fernando Cesconetto, promotor de justiça do Estado de Goiás, fez um retrospecto sobre como as denúncias chegaram a ele e a importância das informações prestadas pelo presidente do Vila Nova, “que nos permitiu identificar os núcleos de financiadores, apostadores e intermediadores, além do núcleo de apoio administrativo. Cada um tem sua função”, explicou, deixando claro o aspecto de formação de quadrilha. “Eles agregaram mecanismos para tentar burlar os algoritmos para não chamar a atenção das casas de apostas”.
O relator Felipe Carreras (PSB-PE) agradeceu o presidente do Vila Nova por denunciar a manipulação de resultados no futebol e às autoridades do MP de Goiás por estarem à frente das investigações.
Punição e educação
“O futebol brasileiro está doente e em crise. Esta CPI não vai terminar em pizza. Ela dará resultado punitivo e educativo para termos uma legislação que venha a proteger um dos maiores patrimônios do povo brasileiro, que é o futebol”, disse Carreras.
Ao MP, Carreras indagou se, além dos campeonatos ora investigados existem indícios de outros campeonatos fraudados pela organização criminosa.
Cesconetto disse que não apenas o Brasileirão de 2022, mas alguns estaduais deste ano também foram apontados e “estamos investigando, pois existiram indicativos e tentativas”.
De acordo com o promotor, todas as casas de apostas possuem mecanismos para detectar movimentos anormais em apostas”, o que demonstra que elas buscam a segurança em suas operações.
Falta de regulamentação prejudica apuração
Na continuidade, Cyro afirmou, respondendo também ao relator, que “a falta de regulamentação prejudica a apuração, especialmente pela falta de um fluxo de informações entre todos os organismos ligados aos campeonatos”.
Segundo ele, “até o momento, não detectamos nenhum envolvimento das casas de apostas com as práticas de manipulação. Elas figuram nas denúncias apresentadas como vítimas do esquema fraudulento”.
Por quase três horas e meia diversos deputados fizeram questionamentos sobre a forma como as investigações foram conduzidas, sem que grandes temas tenham sido mais aprofundados, tornando a audiência pública cansativa na opinião até mesmo dos participantes da reunião, que de última hora resolveram acelerar a forma como as perguntas seriam dirigidas, não restando fato novo durante as apresentações.
Votação de requerimentos adiada
Após o fim da fase de perguntas e respostas por parte dos convidados e em função do adiantado da hora e por ter começado a Ordem do Dia em Plenário, o presidente da CPI encerrou a sessão antes do término da votação dos requerimentos. Apenas uma convocação foi aprovada, a de Rodrigo Alves, presidente da Associação Brasileira de Apostas Esportivas (ABAESP).
As demais serão analisadas e votadas na próxima semana, na sessão regimental da CPI.
Fonte: GMB