Na primeira audiência pública da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre manipulação de resultados no futebol, os participantes do debate ressaltaram a necessidade de medidas legais para coibir esse tipo de crime. Presidente do Vila Nova Futebol Clube, de Goiás, e primeiro a denunciar os esquemas fraudulentos ao Ministério Público, Hugo Jorge Bravo considera fundamental, por exemplo, a criação de delegacias especializadas na apuração de crimes esportivos.
O dirigente também defende que a lei proíba apostas em eventos isolados das partidas, como cartões amarelos ou vermelhos e pênaltis. Para Hugo Bravo, as apostas devem dizer respeito somente ao resultado final dos jogos. Para ele, campeonatos pequenos e sem muita expressão, como os sub-17 ou sub-20, também não deveriam ser objeto de apostas.
“É importante que os senhores tenham uma sensibilidade de restringir alguns eventos que são objeto de apostas. Nós não podemos imaginar que um campeonato sub-20 do Acre seja objeto de apostas de pessoas que estão em qualquer lugar do mundo, nós não podemos imaginar que cartões amarelos possam ser objeto de aposta, nós não podemos imaginar que pênalti no primeiro tempo pode ser objeto de aposta, porque toda e qualquer ação individual vai facilitar a corrupção”, ponderou.
Durante a abertura da CPI, Bravo pediu a palavra e cobrou uma investigação sobre a partida entre Chapecoense e Náutico, pela penúltima rodada da Série B do ano passado. O dirigente disse crer em indícios de manipulação. Na partida, o Verdão do Norte venceu por 1 a 0 e se livrou do rebaixamento à Terceirona.
"Tenho certeza absoluta de que (o Náutico) foi sacaneado por apostadores, desafio qualquer um dos senhores deputados. Eu não posso ser incoerente e injusto, mas não posso deixar de falar que o pênalti que aconteceu em Chapecoense e Náutico tem que ser objeto de análise dessa casa", afirmou Hugo Jorge Bravo.
Dias após do jogo, o Náutico alegou, através do ex-jogador Kuki e hoje na comissão técnica alvirrubra, que o jogo teria sido "comprado".
Bravo acredita que o futebol brasileiro poderia estar contaminado caso a Operação Penalidade Máxima, do Ministério Público de Goiás (MP-GO), não tivesse sido deflagrada em 2023. Na opinião do dirigente colorado, o cenário poderia ocorrer em "três, quatro anos". Em depoimento na CPI das apostas esportivas, Hugo Jorge Bravo sugeriu a criação de uma delegacia especializada para apurar casos de manipulação de resultados.
"Se fosse daqui quatro, cinco anos, teríamos aquele problema semelhante à febre aftosa, nós teríamos ali o mundo se fechando ao produto brasileiro. Então, essa operação veio num momento muito importante", disse o dirigente em sua fala de apresentação na CPI.
Após o depoimento, que durou 20 minutos, o presidente do Vila Nova foi questionado pelos deputados que compõem a CPI das apostas esportivas. Na opinião do dirigente colorado, não há motivo para paralisar o futebol brasileiro.
"De forma alguma, se tem um momento do campeonato que não vai ter problema é agora. Só se for maluco para intervir neste momento. O torcedor pode ir tranquilo (para o estádio). Para não desacreditar o futebol brasileiro, eram eventos individuais que não afetaram o resultado da partida", disse Hugo Jorge Bravo.
Ele explicou que o tema manipulação de resultados é debatido há algum tempo de forma "superficial" nos clubes de futebol. O dirigente acredita que a partir do escândalo de apostas esportivas, as equipes brasileiras poderão "educar" jogadores que integram categorias de base por meio de conversas e palestras com promotores, por exemplo.
Fonte: GMB