"Nos Campeonatos Paulista e Gaúcho, as partidas denunciadas foram na fase de classificação. As partidas são específicas, embora sejam penalmente relevantes, não afetaram a competição de maneira generalizada, nem o resultado de quem deveria ou não ser campeão”, revelou.
Cesconetto também afirmou que os casos aconteceram em duas partidas de cada competição, sendo que, em uma de São Paulo, a proposta aconteceu, mas o atleta procurado não aceitou participar.
De acordo com o promotor, o foco das investigações está em jogos a partir do segundo semestre de 2022 até o momento. Por ora, não há indícios da participação de dirigentes e casas de apostas nas manipulações de resultados.
“Não há indicativos de participação de dirigentes e casas de apostas. Campeonato Paulista e Campeonato Gaúcho já denunciamos. Há indicativos de manipulação em outros estaduais em 2023. Há materiais referentes a atletas, um especial que atua na Major League Soccer (campeonato dos Estados Unidos). Nosso foco é de 2022 em diante”, explicou o promotor.
Por fim, Fernando Cesconetto revelou a intenção dos fraudadores, explicando o porquê o desejo não é manipular resultado da partida em si, mas buscar eventos menores dentro do jogo, como pênaltis, cartões, entre outros.
“Os apostadores não atuavam de forma isolada. Um jogo manipulado não traria lucro para ter o retorno dessa aposta. Então, eles procuram fazer apostas múltiplas com mais jogadores, para aumentar o seu lucro. E, assim, casar apostas naquela rodada para aumentar o lucro, que se chega a R$ 1 milhão, R$ 2 milhões de lucro para os apostadores”, explicou.
Por ora, a Operação Penalidade Máxima segue em curso. Os primeiros julgamentos da primeira fase aconteceram na última segunda-feira, com o banimento de Romário e a suspensão de Gabriel Domingos, ex-atletas do Vila Nova. Na próxima quinta-feira (01), o STJD julgará oito jogadores flagrados nas investigações da segunda fase da operação.
Na opinião do procurador-geral de Justiça do Ministério Público de Goiás, Cyro Terra Peres, que apura as fraudes nas apostas em partidas de futebol, também é necessário criar mecanismos para que clubes, federações e confederações atuem de maneira a prevenir esses esquemas. Ele defende a criação de canais para recebimento de denúncias, por exemplo, para que depois sejam encaminhadas aos órgãos oficiais de investigação.
Relator da CPI, o deputado Felipe Carreras (PSB-PE) afirmou que o Legislativo foi desafiado não apenas a somar esforços com o Ministério Público de Goiás e outras instituições para esclarecer as fraudes no futebol, como a encontrar formas de prevenir crimes futuros. O parlamentar ressaltou a importância do futebol na cultura brasileira e afirmou que as fraudes “colocam em xeque a credibilidade dos campeonatos atuais e dos que já existiram.”
“Essa CPI não vai terminar em pizza, pode escrever e cobrar. Ela vai dar resultado punitivo, para dar exemplo, e também de forma educativa, para termos uma legislação que venha proteger talvez um dos maiores patrimônios do povo brasileiro, que é o seu futebol”, assegurou Carreras.
Os investigadores de Goiás reforçaram que, até o momento, as investigações estão restritas a casos isolados e não comprometem os campeonatos de futebol.
Cyro Terra foi taxativo ao dizer que não há nenhuma evidência de participação de dirigentes de clubes nem de juízes nos esquemas fraudulentos.
As casas de apostas também seriam vítimas das organizações criminosas. O procurador Fernando Cesconetto explicou que detectaram apostas no valor de R$ 500 mil em que os apostadores receberiam mais de R$ 2 milhões em uma rodada de jogos, e quem pagaria a diferença seriam as casas de apostas, que, portanto, seriam prejudicadas com o esquema.
Cesconetto explicou que as investigações do MP goiano se limitam a jogos ocorridos a partir do segundo semestre do ano passado. O órgão já denunciou 13 integrantes da organização criminosa e 24 atletas. Foram detectadas manipulações de resultados em oito partidas da série A e em cinco partidas da série B do campeonato brasileiro em 2022. A quadrilha também interferiu em quatro jogos dos campeonatos estaduais de 2023.
O promotor de Justiça, envolvido na apuração do esquema manipulação, concorda que a falta de regulamentação prejudica a ação dos órgãos investigativos.
Ele sublinha que a resolução de fraudes não pode ficar na dependência de iniciativas isoladas, como a atitude de um presidente de clube que denuncie, para que a informação chegue aos órgãos de apuração. O promotor também defende a criação de regras para que clubes e federações recebam e encaminhem denúncias, com o estabelecimento de responsabilidades para cada uma dessas entidades.
Votação de requerimentos adiada
Por quase três horas e meia diversos deputados fizeram questionamentos sobre a forma como as investigações foram conduzidas, sem que grandes temas tenham sido mais aprofundados, tornando a audiência pública cansativa na opinião até mesmo dos participantes da reunião, que de última hora resolveram acelerar a forma como as perguntas seriam dirigidas, não restando fato novo durante as apresentações.
Após o fim da fase de perguntas e respostas por parte dos convidados e em função do adiantado da hora e por ter começado a Ordem do Dia em Plenário, o presidente da CPI encerrou a sessão antes do término da votação dos requerimentos. Apenas uma convocação foi aprovada, a de Rodrigo Alves, presidente da Associação Brasileira de Apostas Esportivas (ABAESP).
As demais serão analisadas e votadas na próxima semana, na sessão regimental da CPI.
Fonte: GMB