JUE 19 DE SEPTIEMBRE DE 2024 - 13:37hs.
Análise da Regulus Partners

Winning Post: Assumir que o Brasil será um mercado atraente para muitas operadoras é questionável

Saiu há poucos dias a MP das apostas esportivas que sobrou do governo anterior com alguns ajustes. Paul Leyland, analista da Regulus Partners, empresa de consultoria de jogos de azar, alerta sobre pontos críticos que podem complicar o futuro. “Parece cada vez mais provável que 2024 veja algum nível de atividade de jogo regulamentada, mas a suposição de que o Brasil será um mercado em crescimento atraente para muitos operadores é, na melhor das hipóteses, questionável”, afirma Leyland.

O Congresso agora tem 120 dias para aprovar, rejeitar ou tentar emendar a Medida Provisória, então o show ainda não acabou. No entanto, parece cada vez mais provável que 2024 veja algum nível de atividade de jogo regulamentada no Brasil.

No entanto, como demonstram os 'ajustes', ou mais importante, o que não foi abordado, a suposição de que o Brasil será um mercado em crescimento atraente para muitas operadoras é questionável, na melhor das hipóteses, em nossa opinião.

Como já escrevemos com mais detalhes antes, temos três grandes preocupações com as atuais propostas legislativas do Brasil:

  • O jogo online não é explicitamente mencionado na legislação, mas foi sugerido anteriormente que os licenciados não poderão oferecer jogos para atender a critérios regulatórios ainda não decididos ou não divulgados para licenciamento de apostas; isso acabaria com quase metade do mercado existente de US$ 2,4 bilhões como TAM (provavelmente excluindo o pôquer, que é reconhecido como um jogo de habilidade no Brasil).
  • O aumento de 2 pontos percentuais nos impostos federais GGR para 18% pode não parecer muito, mas os impostos GGR devem ser combinados com um imposto retido de 30% sobre ganhos em apostas com prêmios acima de US$ 400, que acreditamos que quase dobrará a taxa de imposto principal em teoria, embora na prática encorajaria os clientes de alto valor a mudar para o mercado negro (especialmente se eles já são clientes de jogos).
  • As tentativas de apaziguar as principais partes interessadas dentro de uma estrutura federal estreita (uma cobertura incerta da tributação provincial; 1,63% do GGR para clubes esportivos e indivíduos apenas para direitos de nomeação e marca - ou seja, não dados ou direitos AV) provavelmente não chegarão nem perto o suficiente, adicionando uma camada extra de complexidade à forma como o mercado operará na prática – a redação do projeto de lei de que 82% do GGR 'no máximo' irá para o licenciado pode muito bem ser um aviso presciente – a taxa real de imposto pode estar bem acima de 50%, uma vez que o imposto sobre ganhos e os impostos locais são contabilizados (embora o vazamento do mercado negro provavelmente reduza o problema ótico para 30-40% mais 'viáveis').

 O último ponto pode se tornar especialmente complexo se os estados quiserem o controle de licenças e também de impostos, visto que vários já começaram a trilhar esse caminho.

Apesar dessas preocupações, o rendimento fiscal esperado do governo federal de cerca de US$ 400 milhões em 2024 implica um tamanho de mercado de US$ 1,5 a US$ 2 bilhões, dependendo do sucesso da canalização de impostos sobre ganhos. Dada a oportunidade de abrir apostas físicas no mercado de massa, não acreditamos que essa meta seja inatingível (esperamos que as apostas baseadas em terra também sejam em grande parte de alto volume, margem alta, ticket baixo e caiam esmagadoramente abaixo dos US$ 400 do prêmio).

No entanto, o problema é que a grande maioria das atuais operadoras voltadas para o Brasil não tem um caminho claro para o sucesso omnicanal no mercado de massa. Portanto, continuamos alertando que, embora o mercado brasileiro provavelmente produza alguns vencedores fortes, eles provavelmente serão 'heróis locais' (ou pelo menos heróis localizados), em vez das grandes marcas e grupos on-line óbvios, que tendem a ser jogadores-led, led de cliente de alto valor, ou ambos.

No longo prazo, o Brasil ainda precisa decidir o que fazer em relação aos jogos (a probabilidade de uma decisão nos próximos 120 dias é quase nula, em nossa opinião). O status regulatório dos jogos no Brasil não é apenas uma questão do mercado cinza digital de US$ 1 bilhão e do potencial para novos fornecedores terrestres. Estimamos que o mercado do jogo do bicho, comandado por agentes, um jogo ilegal no estilo loteria, gera uma receita líquida de US$ 10 bilhões em todo o Brasil.

Deve ser a prioridade do governo canalizar isso para o fornecimento legal e tributado de jogos de azar, especialmente considerando que todas as tentativas anteriores de erradicar o jogo foram prejudicadas pela inércia, pela corrupção e pela popularidade subjacente do jogo, independentemente do decreto do governo.

Um crescente mercado de apostas omnicanal pode ter algum sucesso em canalizar a receita do jogo do bicho, mas apenas um produto de jogo claramente regulamentado provavelmente entrará profundamente nesse mercado negro local. Nesse ínterim, a medida em que a rede ilegal, mas arraigada, do jogo do bicho se mistura com o mercado de apostas recém-regulamentado pode ser um campo minado significativo de compliance – um campo perigosamente reminiscente do sul da Itália.

Paul Leyland
Analista do negócio de consultoria de jogos de azar Regulus Partners