MIÉ 18 DE SEPTIEMBRE DE 2024 - 22:24hs.
De acordo com dirigentes

Áreas de governança, conformidade e de finanças da CBF não sabiam sobre manipulação de resultados

O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, justificou sua ausência na audiência pública desta segunda-feira, 11, por estar acompanhando a Seleção Brasileira no Peru. Assim, os membros da CPI-FUTE ouviram os ex-diretores André Megale (governança e conformidade) e Gilnei Botrel (financeiro). Ambos afirmaram não terem tomado conhecimento de denúncias de manipulação de resultados. Também deixarem de dar mais detalhes sobre contratos com a Sportradar e com casas de apostas.

O esperado depoimento do presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ednaldo Rodrigues, não aconteceu. O dirigente justificou por estar fora do país, acompanhando o início das eliminatórias da Copa do Mundo. Assim, a CPI-FUTE ajustou com o dirigente para que ele compareça para prestar os esclarecimentos esperados na próxima semana.

Assim, os ex-diretores da CBF André Megale (governança e conformidade) e Gilnei Botrel (financeiro), depuseram, como convidados, para explicar como acompanharam as denúncias de manipulação de resultados nos últimos anos e se a entidade tomou medidas para combater a prática.

André Megale destacou que a CBF adotou todos os procedimentos determinados pela FIFA a partir de 2017 para criação da área de governança e conformidade, de maneira a “resgatar a credibilidade do futebol brasileiro perante o futebol internacional”, já que o país foi motivo de inúmeras denúncias durante a presidência de Marco Polo del Nero.

 

 

Com isso, foi implementado um novo código de ética, destinado a conduz investigações de maneira reservada, preservando denunciantes e denunciados até a finalização de cada trabalho.

Sobre as apostas esportivas, explicou que essa área não pertencia à diretoria de governança, mas que há alguns anos a CBF já tinha contrato com a Sportradar para monitorar as apostas junto aos sportsbooks.

Laudos da Sportradar

Felipe Carreras (PSB-PE), relator da CPI, indagou Megale sobre quais medidas foram implementadas para garantir que a CBF estivesse em conformidade com a regulamentação e as leis relacionadas à integridade no esporte. Questionou ainda se ele recebeu laudos da Sportradar sobre indícios de manipulação de resultados.

O ex-diretor de governança disse que a CBF fazia auditorias internas de certificação da governança para identificar alguma não conformidade, levada a cabo pela área jurídica da entidade. Segundo ele, o procedimento de contratação quanto relacionamento com a Sportradar era feito pelo departamento de competições.

Ele confirmou que a CBF recebeu relatórios da Sportradar, porém destinados à área de competições e que, por esta razão, não cabia à diretoria de governança, por não estar previsto no fluxo interno da entidade.

Entendo que seria grave se a entidade não fizesse esse papel relevante de cuidar da integridade de suas partidas. Ela contratou a Sportradar e determinou um fluxo para isso”, esclareceu para dizer que não chegou à área de governança em função do rito adotado pela CBF. “Esse debate deve ser feito com a área de competições”, isentou-se do papel de acompanhar tais indícios e procedimentos para a investigação e combate à manipulação de resultados.

Posição técnica

Em seguida, Gilnei Botrel fez sua apresentação, destacando que na função de diretor financeiro, tinha uma função “estritamente técnica. Todos os contratos de aquisição têm um fluxo rigoroso e demandado pela área afim”.

A ele, cabia o controle do fluxo de caixa, procurando analisar quanto a CBF faz de investimentos no futebol brasileiro, “bem como o objetivo básico ter o controle de fluxo de recebimentos e pagamentos”, colocando-se à disposição para mais esclarecimentos.

 

 

Felipe Carreras questionou: “como a diretoria financeira alocou recursos financeiros para lidar com questões de integridade, especificamente em relação às denúncias de manipulação de resultados em apostas esportivas?”. Continuou: “quais investimentos foram realizados na implementação de medidas para prevenir a manipulação de resultados e combater atividades de apostas ilegais no futebol brasileiro?”.

Botrel afirmou que a CBF contratou a Sportradar em 2017 para atuar nas Séries A e B, assim como para a Copa do Brasil, tendo sido estendido para as demais competições”. Segundo ele, “a entidade não media esforços para qualificar cada vez mais sua arbitragem. A CBF sempre se esforçou para oferecer à arbitragem as melhores ferramentas para atuar dentro de campo, que seria uma maneira de amenizar a manipulação de resultados”.

Ele afirmou ainda que não tomou conhecimento de nenhuma prática de manipulação de resultados no futebol.

O ex-diretor da CBF comentou que entre as ações para se garantir o processo de integridade está a contratação de psicólogos para aperfeiçoar a arbitragem, além da própria contratação da Sportradar, empresa credenciada pela FIFA e pela Conmebol.

Da mesma forma, os ex-diretores não souberam dar mais esclarecimentos sobre contratos atualmente vigentes, tanto em relação à Sportradar quanto com a Brax, que detém direitos de transmissão e de publicidade em campo.

Integridade

Por fim, Júlio Avellar, diretor de competições da CBF, prestou seus esclarecimentos, apresentou um vídeo sobre a importância do combate à manipulação de resultados, e ainda destacou que “a prática é muito séria e trabalho há muitos anos com a integridade do esporte”, comentou.

 

 

Segundo ele, a CBF firmou uma cooperação inédita com a FIFA. “Hoje a CBF é a única entidade que tem um escritório de projetos dentro da FIFA. Temos mais de 100 iniciativas em desenvolvimento para modernização do futebol brasileiro, inclusive no combate à manipulação de resultados”, destacou.

Avellar destacou ainda a importância da oferta da Sportradar no combate à manipulação de resultados, que atende à CBF. Sem contar a parceria com a empresa, que mesmo durante o período sem contrato, continuou prestando serviços para a entidade.

O trabalho da empresa de monitoramento, de acordo com o diretor da CBF, é apresentado na forma de relatórios. “É um trabalho constante de aprimoramento e a Sportradar melhorou até mesmo a linguagem, fatos e informações para dar melhor subsídios para as entidades que recebem tais relatórios”, explicou.

Ele destacou ainda que conforme a necessidade, a CBF requisita e recebe, mais informações a cada situação em que se identifica suspeita de manipulação de resultados.

Além da forma de trabalho “produtiva”, na sua avaliação, Avellar apontou detalhes de regulamentos da CBF quanto à manipulação de resultados em todos os campeonatos. “E foi por exemplo o procedimento que foi feito pela CBF após o julgamento do STJD, para a extensão das penas aos jogadores condenados pela manipulação de resultados”, destacou.

De acordo com o diretor de competições da CBF, a entidade está unida com a aliança SIGA, que adota padrões universais de integridade e de processos de certificação internacional da entidade, de maneira a coibir a prática de manipulação de resultados e divulgar globalmente as suspeitas, dizendo que “é um compromisso da gestão de nosso presidente Ednaldo Rodrigues”.

 

 

Ao término, Rômulo Reis, ex-diretor de integridade da CBF, esclareceu que a entidade não tinha uma diretoria na área, mas que ao assumir o fez como oficial de integridade. “Até hoje não existe essa função, mas a entidade está atenta a essa questão e busca, junto com a FIFA, combater toda tentativa de fraude”.

Segundo ele, “não há nada contra as casas de apostas. A manipulação de resultados é ruim pra casa de apostas. Gera prejuízo à competição e enfraquece o anúncio que a casa de apostas, sem contar o prejuízo financeiro à casa de apostas”.

Fonte: GMB