JUE 19 DE SEPTIEMBRE DE 2024 - 13:31hs.
Até abril de este ano

Setor de apostas online cresceu 734% desde 2021, aponta pesquisa Datahub para CNN

O setor de apostas online cresceu 734,6% entre 2021 e abril deste ano, de acordo com levantamento da plataforma de análise de dados Datahub cedido com exclusividade à CNN. Naquele ano, o Brasil contava com 26 empresas atuando no segmento. Já em 2022, o salto foi de 203%, encerrando com 79 operadores. Só nos quatro primeiros meses de 2024, foi aberta a mesma quantidade de companhias que existiam em 2022.

A grande virada do setor vem com a regulamentação. Agora que o jogo está ‘combinado’, alinhado com o governo e leis, ele tende a dar mais segurança para as empresas e consumidores e tende naturalmente a crescer”, explica Felipe Mesquita, executivo de contas da Datahub.

Desde dezembro de 2018, as apostas esportivas são previstas em lei como uma operação legítima no país. A regulamentação do setor, contudo, viria a ser construída com o passar do tempo. Cinco anos depois, o governo assinou o decreto que regulamenta o mercado das bets.

Um mercado mais maduro acaba quebrando o gelo com os desconfiados e, ao trazer segurança para os usuários, deve trazer mais empresas”, aponta Mesquita.

De acordo com o Ministério da Fazenda, no período de um mês no final de 2023, 134 empresas manifestaram interesse em trabalhar com bets no país.

E com a estruturação do mercado, o país também chama atenção lá fora. De acordo com a Datahub, duas empresas estrangeiras buscaram atuar no Brasil em 2023. Já em 2024, a busca aumentou para cinco empresas.

Embora modesto, esse aumento é significativo e indica um interesse crescente pelo mercado brasileiro, incentivado pela nova legislação que pode oferecer maior previsibilidade e segurança jurídica”, aponta o estudo.

Estas empresas têm um cadastro com a Receita Federal, o que implica conformidade com os requisitos fiscais e regulatórios do Brasil, mesmo estando sediadas em outros países.

Pandemia e tecnologia

Mesquita observa que o setor começou a ganhar força se aproveitando da conexão que a tecnologia promoveu em um cenário de isolamento social.

A virada veio depois da pandemia, quando as pessoas pararam de interagir diretamente, o que deu espaço para os serviços de tecnologia. O setor de apostas teve um boom muito forte”, aponta o executivo da Datahub.

Jhon Macario, analista de marketing e pesquisa da Datahub, reforça a ideia de que a tecnologia populariza o negócio.

Antes o negócio era restrito às casas lotéricas. Agora há uma maior acessibilidade pelo smartphone”, indica Macario.

A tendência também entrega o perfil do consumidor deste marcado. De acordo com a Datahub, 59,8% dos apostadores têm de 22 a 36 anos, sendo a principal faixa de idade deste público.

A geração mais nova é muito conectada ao eletrônico, se deslocar para apostar nem passa pela cabeça”, complementa Mesquita.

Pulverização de setores

André Gelfi, presidente do Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), também destaca que o movimento repercute em outros setores da economia, desde tecnologia, com a criação de plataformas que sustentam os sistemas, até comunicação e esportes em geral.

O setor movimenta bilhões de reais, gera milhares de empregos e, no momento, está extremamente aquecido, em especial depois da regulamentação do governo federal, no final do ano passado”, diz.

O especialista, porém, destaca o processo de amadurecimento do setor após a chancela da União.

É preciso verificar os erros e os acertos, e evoluir para outras propostas a partir das dificuldades que o mercado encontrar”, diz. “A tendência é que cresça mais ainda e movimente diversos setores”.

Mas Macario reforça que não só dos jovens se faz o movimento das bets, que também atrai um público mais velho “por conta da publicidade durante transmissões”.

Até pouco tempo, apenas seis dos 20 equipes da Série A – a principal divisão do Campeonato Brasileiro –, não tinham como patrocinador principal uma casa de apostas.

O Corinthians se tornou o sétimo integrante desse time após sua patrocinadora master, a VaideBet, rescindir contrato.

As plataformas não têm ficado só no meio de apostar, uma tendência importante no mercado de entretenimento são ações com influencers, propagandas e times que estão sendo promovidas”, explica Macario.

“Mercado cresceu, cresce e deve continuar crescendo”

Felipe Mesquita aponta que o cenário é positivo para o mercado, e que a sua crescente estruturação ainda deve atrair novas casas e novos interessados em apostar.

Ainda tem muito espaço [para novas empresas]. O mercado cresceu, cresce e deve continuar crescendo”, pontua.

O analista de marketing e pesquisa aponta que entre as principais pontas onde o setor pode expandir está na de métodos de pagamento.

Fundada em 2018, a Pay4Fun é uma das principais plataformas de pagamento online brasileiras e, em 2022, se tornou a primeira instituição de pagamento do segmento de apostas a receber autorização do Banco Central. A empresa é responsável por “fazer a ponte” entre as casas e os apostadores.

Há 20 anos no mercado, o CEO da Pay4Fun, Leonardo Batista, ingressou nesse mundo com uma plataforma de bingo online.

De 2009 até 2017 começou a operar uma casa de apostas, e segundo o empresário, a maior “dor de cabeça” estava nos métodos de pagamento, que em sua maioria eram irregulares. E é nesse sentido que o setor tem espaço para crescer.

Tem espaço para crescer em qualidade, tanto em casas quanto métodos de pagamento. Hoje tem muito serviço de má qualidade e irregular”, observa Batista.

Além da regulamentação, o setor tem oportunidade de seguir crescendo ao “combinar duas paixões nacionais”, avalia o empresário. “O brasileiro por si só é apaixonado por aposta, e o sportsbetting vem para coroar essa paixão”, diz Batista.

Mas ele reforça que para o ritmo de crescimento do setor conseguir ser sustentável, com responsabilidade e segurança, é necessária uma distinção: o setor de apostas é voltado ao entretenimento, não investimento.

Você vê uma série de influenciadores vendendo apostas como se fosse um ganho garantido de dinheiro ou renda extra. Jogo não é dinheiro extra, não é garantia de dinheiro”, reflete Batista.

Fonte: CNN