A regulamentação das empresas de apostas esportivas, também conhecidas como bets, representou sem dúvida um avanço. Com acesso pela internet a sites hospedados em servidores fora ou dentro do país, os brasileiros já movimentavam por ano, segundo o próprio governo, R$ 100 bilhões nessas apostas, sem pagar um centavo de impostos.
Mas o problema das apostas jamais se resumiu à arrecadação. Mais importante que a questão tributária é a necessidade de uma fiscalização que garanta a lisura em toda a cadeia dessa nova indústria — da aposta ao pagamento dos vencedores.
O exemplo mais citado para ilustrar os riscos são as denúncias de manipulação de uma partida entre Goiás e Goiânia para beneficiar apostadores, que resultou numa investigação desmascarando fraudes até em jogos da Série A do Brasileirão.
Outro caso recente ocorreu na Inglaterra, conhecida pelas tradicionais casas de apostas. O jogador brasileiro Lucas Paquetá, do West Ham, da Premier League inglesa, foi denunciado formalmente por assumir comportamentos em campo vinculados a apostas. A Football Association o acusa de ter forçado cartão amarelo em quatro jogos disputados em 2022 e 2023. As investigações começaram com a denúncia de que o cartão amarelo recebido por Paquetá numa partida contra o Aston Villa era parte de um esquema para favorecer apostadores.
Com as bets operando na legalidade, casos desse tipo não podem mais ocorrer. Para manter não apenas a credibilidade das apostas, mas a própria imagem do futebol brasileiro. É preciso ter garantias de que mesmo apostas em campeonatos menores estejam à prova de fraudes, pois elas também podem gerar muito dinheiro em prêmios aos apostadores.
Uma dificuldade adicional tem sido trazida pela inteligência artificial (IA). À medida que as estatísticas esportivas forem devassadas pelas análises sofisticadas dos robôs de IA, ela tornará os sistemas de apostas mais personalizados aos gostos e inclinações dos apostadores. Alguns eventos já podem ser previstos com precisão de até 90%, de acordo com o site especializado em tecnologia TCMNet. Isso pode tornar as apostas muito mais seguras e atraentes, mas também abre a porta para uma vantagem desleal a quem obtiver acesso a tais ferramentas.
Por tudo isso, é fundamental que as bets sigam as exigências técnicas de segurança e infraestrutura certificada, como estabelece a lei, filiando-se também a organismos internos e internacionais de monitoramento da integridade dos resultados dos jogos. As melhores práticas diante da IA certamente emergirão nesses foros globais.
CBF, federações e o poder público precisam zelar pela credibilidade do sistema de apostas. O monitoramento deve ser permanente, e deve haver uma estrutura robusta de investigação dos casos suspeitos. Do contrário, as bets correm o risco de se tornar um gol contra o futebol brasileiro.
Fonte: O Globo