SÁB 6 DE JULIO DE 2024 - 01:44hs.
Dados da Anbima

Pesquisa revela que mais brasileiros fazem apostas do que investem na Bolsa

A crescente popularidade das bets no Brasil está superando os investimentos tradicionais, como a Bolsa de Valores. De acordo com uma pesquisa da Anbima (Associação Brasileira das Entidades de Mercado), enquanto 14% da população fez pelo menos uma aposta online em 2023, apenas 2% investiram na Bolsa. Este dado revela um cenário onde mais brasileiros estão se voltando para este setor em vez de aplicar em ações.

Tem mais gente que faz apostas esportivas no Brasil do que investe na Bolsa de Valores, segundo levantamento do Investidor Brasileiro, feito pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades de Mercado). A pesquisa diz que 14% da população (cerca de 22 milhões de pessoas) fez ao menos uma aposta online em 2023. Já a porcentagem de pessoas que investem na bolsa é de 2%.

O único investimento que é "maior" que as bets é a poupança, que é feita por 25% da população.

Quem é o público que faz apostas?

A maioria está nas classes A, B e C. Existe uma predominância masculina (63%) e pertencente à geração Z (nascida entre 1997 e 2010), seguida por millenials (entre 1981 e 1996).

São majoritariamente homens e, por serem mais jovens, têm grande familiaridade com plataformas digitais. Além disso, existe um gosto por adrenalina”, Marcelo Billi, superintendente de sustentabilidade, inovação e educação da Anbima.

Entre os apostadores, aponta a pesquisa, 43% investem em produtos financeiros via app do banco. Dentre os investimentos mais usados por este público, estão: poupança (21%), moedas digitais (12%) e títulos privados (7%).

Aposta é investimento para alguns

Algo que chamou a atenção da Anbima foi o fato de entre os entrevistados ter pessoas que consideram que fazer apostas esportivas é um investimento: 22% dos entrevistados disseram fazer apostas como forma de ganhar dinheiro.

O conceito de investimento do público é bem amplo. Tem gente que acha que fazer um procedimento estético, pagar um curso ou comprar um terno seja um investimento. De modo geral, as pessoas acham que tudo que pode dar um retorno emocional ou de curto/médio prazo um investimento, seja investimento”, diz Marcelo.

Com as bets, explica ele, ocorre o mesmo. "Se a pessoa acha que aquilo pode dar um retorno, ela chama de investimento. É neste aspecto".

Dentre os entrevistados, 40% dos que fazem apostas esportivas consideram a chance de ganhar um dinheiro rápido em momentos de necessidade.

A definição técnica de investimento é uma aplicação em dinheiro que se espera uma valorização em um futuro determinado. Logo, bens e serviços não se aplicam, pois são um gasto, ainda que tragam um retorno.

Lição para a indústria

A pesquisa raio-X do investidor está na 7ª edição, e segundo Billi, o assunto das apostas esportivas entrou recentemente no escopo do levantamento. "A gente não considerava uma plataforma de aposta como uma concorrente de um produto de investimento até começar a pesquisa", disse, citando um levantamento anterior qualitativo com algumas pessoas, onde constataram que apostas esportivas eram um "fenômeno" e passaram a considerar o tema no raio-X.

Marcelo menciona que as instituições têm o que aprender com essas plataformas. “Primeiro, tem uma familiaridade. Eles lidam com esportes, como futebol, que as pessoas gostam muito; e no mundo das finanças a gente não consegue copiar. Agora, da nossa parte, temos que diminuir a complexidade. Escolher onde investir é algo complexo e temos de tornar essa tarefa menos hostil com uma melhor  arquitetura de escolha para os clientes. Além disso, o cadastro é rápido e eles [sites de apostas esportivas] usam gráficos e tabelas, quase como se fossem um terminal de investimento”.

Grana de aposta preocupa varejista

Belmiro Gomes, CEO da rede Assaí
, mostrou preocupação com apostas esportivas em resultado financeiro do segundo trimestre do ano passado. O executivo cita que o dinheiro investido em apostas está influenciando no poder de compra dos seus clientes.

A gente tem feito várias pesquisas, têm visto que teve alguns outros gastos novos que entrou no bolso desse consumidor. E como é um consumidor que ele está muito pressionado por juros. Por incrível que pareça, também aparece muito o mercado agora de aposta esportiva, como também algo que tira bastante a renda hoje desse consumidor. E ele não tem conseguido retomar os seus volumes de compra”, disse Gomes.

Outro levantamento do ano passado, feito pelo Instituto Locomotiva e focado nas classes C, D e E sobre apostas esportivas, mostra que entre os que jogam uma vez por mês, a média de gasto é de R$ 56. Além disso, o dinheiro que costumava ser direcionado para poupança e gastos com bares, restaurantes e delivery são as principais fontes para apostas.

Fonte: UOL