JUE 14 DE NOVIEMBRE DE 2024 - 03:23hs.
Roger Amarante, CFO Salis Capital

Aquisição da NSX pela Flutter dá credibilidade ao mercado regulado de iGaming no Brasil

No artigo exclusivo para o GMB, Roger Amarante, diretor financeiro na Salis Capital, destaca a importância da regulamentação do mercado de jogos online no Brasil, o que traz consigo o incentivo às práticas de jogo responsável, como a conscientização e o combate ao vício. Além disso, fala das oportunidades de crescimento seguro e transparente de multinacionais, como o caso do acordo Flutter-NSX, que ilustra o potencial de negócios e investimentos no setor.

Nos últimos anos houve um grande avanço no mercado de jogos online no Brasil e agora chegamos a um momento crucial que é o da regulamentação. Esta mudança tende a desencadear vários eventos, em sua maioria positivos, especialmente no tocante à economia, ao mercado de trabalho formal e ao Jogo Responsável. Estamos falando de um setor que já gera, mesmo na informalidade, entre R$ 120 e R$ 150 bilhões de reais por ano – o equivalente a 1% do PIB nacional.

Geração de empregos e perspectivas profissionais: o impacto no mundo do trabalho

Uma das principais transformações sociais que a regulamentação deve trazer é a criação de postos de trabalho. Atualmente, a maior parte dos principais players do setor são empresas estrangeiras, e que por não poderem atuar dentro do território nacional, não possuem funcionários locais e utilizam pouquíssimos prestadores de serviço.

Com a regulamentação, estas empresas passarão a atuar de forma regular no Brasil, com CNPJ brasileiro, contas bancárias, alvará de funcionamento e todas as demais responsabilidades e obrigações que qualquer empresa precisa ter para funcionar no Brasil. Isto implica em contratar pessoas e consumir serviços.

Estima-se que entre 2 mil e 5 mil empregos serão criados no setor, além da geração de postos de trabalho indiretos por meio de fornecedores e prestadores de serviço, e estas vagas vão consumir um capital que antes era 100% enviado para as matrizes das bets fora do brasil.

Ou seja, além de gerar empregos, estes serão financiados com um capital que não circulava na economia brasileira. Por estes motivos o argumento de que as bets tiram dinheiro de outros segmentos da economia não faz muito sentido. A tendência é, pelo já exposto, que ela aumente ainda mais o volume monetário circulante.

Impostos: um retorno concreto para a sociedade

Um aspecto importante da regulamentação também diz respeito ao impacto na arrecadação de impostos. Estima-se que a indústria regulamentada poderá contribuir com algo entre R$ 20 e R$ 50 bilhões para os cofres públicos anualmente, ajudando diretamente em áreas como saúde pública e infraestrutura, além da arrecadação gerada a partir da folha salarial destas empresas.

Esse aspecto é muitas vezes negligenciado pelas vozes contrárias à regulamentação, mas é de extrema relevância: a legalização do setor tende a garantir uma nova fonte de receita para o Brasil, que passará a ser contabilizada em nosso PIB e garantirá mais circulação monetária na economia real.

Indo além da arrecadação de tributos pela União, estados e municípios, é provável que haja uma otimização da verba destinada pelas bets para campanhas de marketing, expandindo da atual concentração do investimento quase exclusivo no futebol, para outras atividades como, por exemplo, projetos sociais, cultura e urbanismo, por meio de patrocínio de filmes e peças teatrais, naming rights de estádios, teatros, salas de cinema, shows e eventos destinados ao mundo de IGaming.

Jogo responsável: uma consciência que vai além dos negócios

Uma das principais oportunidades – se não obrigações – que a regulamentação vai trazer é o incentivo ao jogo responsável. Conscientização, regulamentação de propagandas, educação financeira e combate ao vício de jogo serão pontos importantíssimos que os players devem observar, e certamente o farão.

A implementação de uma agenda “ESG” para o segmento é condição necessária e fundamental para que o setor garanta um crescimento sustentável, perene e fora do alcance de ataques de determinados segmentos da economia real.

Isso  também traz benefícios econômicos para as empresas do setor: o Custo de Aquisição de Clientes (CAC) - no segmento é altíssimo, e com isso garantir uma base de clientes ativos saudável e com um bom nível de fidelidade é extremamente vantajoso. Como diz o ditado, é mais barato gastar em prevenção do que em tratamento.

Oportunidades para empresas estrangeiras: crescimento com segurança

O Brasil apresenta um potencial enorme com a regulamentação do setor iGaming, possibilitando uma bela oportunidade para as companhias estrangeiras e nacionais ampliarem suas atividades de modo organizado. Com mais de 200 milhões de habitantes, ainda existe um grande mercado a ser explorado. No entanto, o ponto positivo reside na governança e fiscalização garantidas pela regulamentação. 

Para multinacionais que gerenciam operações em escala global, a regulamentação do mercado brasileiro representa transparência, previsibilidade e a chance de investir em um mercado que passa a ser mais estável e confiável, o que facilitará a atração de novos investidores e o estabelecimento de parcerias estratégicas para fortalecer a presença no país.

Um bom exemplo desta tendencia é o deal entre a Flutter e o grupo NSX. O valor pago por 56% da NSX foi de R$ 2 bilhões, o que corresponde a um valuation inicial de R$ 3,57 bilhões, podendo ainda superar U$ 1 bilhão de acordo com as condições comerciais que regem o formato de compra dos 44% restantes.

Uma negociação desta magnitude, além de ajudar na precificação do setor, marcando múltiplos de mercado (neste caso foi precificado em incríveis 18x Ebitda), também movimenta diversos setores da economia: advogados, contadores, assessores financeiros, empresas de auditoria...E claro, milhões de reais em impostos.

Em síntese: regulamentar o iGaming no Brasil é crucial para fortalecer esse setor e trazer benefícios tangíveis para a economia e a sociedade como um todo. Essas medidas contribuem para a criação de empregos, o aumento da arrecadação fiscal e a promoção de práticas responsáveis que visam a proteger os consumidores interessados nessa modalidade de entretenimento.

Roger Amarante
Sócio / CFO da Salis Capital. Formado em Ciências Estatísticas pela Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE, com MBA em Finanças pelo IBMEC e pós-graduação em Liderança pela Fundação Dom Cabral. Possui mais de 18 anos de experiência na área financeira, dispostos entre mercado de capitais e indústrias, com passagens por XP Inc, L’Oreal, Vesuvisus PLC e Monte Bravo, e empreendedor como Co-Founder do grupo financeiro Hub C.