A transformação do Brasil em um mercado regulado de jogos online o consolidou como uma das jurisdições mais importantes no cenário global de apostas. Analistas projetam que o setor atingirá US$ 10 bilhões em receita bruta de jogos (GGR) até 2029, apoiado pela alta penetração de smartphones, sistemas de pagamento instantâneo como o Pix e uma afinidade cultural com as apostas esportivas. A Nexus se antecipou, abrindo um hub regional em São Paulo para ancorar suas operações.
O Brasil representa a maior oportunidade individual na América Latina para operadores de jogos online. Com uma população de mais de 218 milhões de pessoas e penetração de internet acima de 85%, o mercado oferece tanto escala quanto prontidão digital. O regime de licenciamento do governo, em vigor desde janeiro de 2025, trouxe regras claras sobre compliance, KYC e tributação.
Para a Nexus, o licenciamento precoce da Megaposta permitiu evitar alguns gargalos enfrentados por concorrentes maiores. A Flutter Entertainment, por exemplo, relatou dificuldades regulatórias no 1º trimestre de 2025, quando sua unidade Betfair se adaptava às novas regras de verificação de identidade. Já a Entain registrou um aumento de 31% na receita brasileira no mesmo período, evidenciando a variabilidade na prontidão dos operadores.
Ao assegurar uma posição de primeiro-movimento, a Nexus ganhou tração junto a usuários de alto valor em um momento em que o mercado ainda estava em consolidação. O ARPU (receita média por usuário) no Brasil deve ultrapassar US$ 1.500 até 2028, tornando-se uma das bases de clientes mais lucrativas do mundo.
No entanto, o mesmo mercado que impulsionou a ascensão da Nexus também representa um risco de concentração. O hub de São Paulo destaca o compromisso de longo prazo, mas levanta a questão de se a forte dependência de uma única jurisdição é sustentável. O arcabouço regulatório brasileiro ainda é novo, e possíveis mudanças — como ajustes nas taxas de impostos ou restrições de publicidade — podem afetar significativamente as margens dos operadores.
A expansão da Nexus além do Brasil ainda está em desenvolvimento. A Spartans.com, com foco em usuários “crypto-first”, tem ganhado espaço em mercados multicurrency, enquanto a Lanistar começa a se consolidar na Europa e na América Latina. Contudo, nenhuma delas se compara em escala à Megaposta no Brasil.
Parte dessa concentração no Brasil reflete o estilo de liderança do fundador e CEO Gurhan Kiziloz. Operando sem investidores externos ou conselho formal, Kiziloz conduz pessoalmente as decisões estratégicas, priorizando rapidez e capacidade de resposta em vez de consenso. Esse modelo permitiu que a empresa aproveitasse rapidamente as oportunidades de licenciamento, mas também concentra tanto o risco de execução quanto a direção estratégica em uma única figura.
Analistas observam que, embora a independência liderada pelo fundador possa acelerar o crescimento, ela carece das proteções que o capital institucional ou uma governança mais ampla podem oferecer. À medida que a empresa se expande para mercados mais regulados, equilibrar velocidade com compliance se tornará cada vez mais importante.
O hub de São Paulo também pode servir como plataforma para a expansão da Nexus em jurisdições vizinhas. Países como Chile, Colômbia e Peru já possuem estruturas regulatórias ativas, e operadores com base no Brasil estão bem posicionados para adaptar sua infraestrutura além das fronteiras. Se a Nexus conseguir alavancar sua presença no Brasil para estabelecer economias de escala regionais, o risco de concentração poderá diminuir ao longo do tempo.
Ainda assim, tal expansão requer investimentos sustentados. Concorrentes com maiores reservas de capital podem ter mais espaço para estratégias agressivas de aquisição, enquanto o modelo autofinanciado da Nexus depende do reinvestimento do fluxo de caixa operacional.
Os resultados semestrais da Nexus International reforçam o poder da vantagem de primeiro-movimento em um mercado de alto crescimento. O Brasil se tornou ao mesmo tempo o principal motor de crescimento da empresa e seu maior teste estratégico.
A próxima fase determinará se a Nexus conseguirá converter esse ímpeto inicial em diversificação regional duradoura. Por enquanto, a empresa ocupa uma posição rara: uma operadora de capital fechado, liderada pelo fundador, competindo no mesmo nível de receita que rivais de capital aberto. Se essa independência será uma força de longo prazo ou uma limitação estrutural, dependerá de como a empresa gerenciará sua exposição ao Brasil nos próximos anos.
Fonte: GMB