LUN 14 DE OCTUBRE DE 2024 - 11:18hs.
Mudanças sem radicalismo

Casas de apostas defendem reconhecimento facial, mas acham fim da publicidade exagero

Mudanças, sim, mas sem medidas radicais. O Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR) diz ser a favor de mudanças como a biometria facial e cadastros detalhados, que incluam comprovação de renda. Sobre proibição de publicidade ou dos bônus que estimulam novos palpites, Andre Gelfi, presidente do IBJR é didático: 'Tudo o que você impedir no mercado formal das bets vai ajudar a fortalecer os sites e aplicativos informais, que vão continuar existindo”.

Ao UOL, Gelfi detalha o que mais pode ser feito para minimizar os efeitos negativos desses serviços.

Regras na publicidade, sim, mas sem proibição

Andre Gelfi não abre mão das propagandas das bets, mas diz que elas, com as de qualquer outro setor econômico, precisam seguir regras para evitar manipulações e abusos contra os consumidores. Ele também ataca a publicidade de influencers.

A gente defende, sim, que limitações nas publicidades são necessárias e, para isso, todos precisam entender o que está acontecendo no mercado de apostas para fazer ajustes. Nós queremos viabilizar essas novas regras, a partir do diálogo. Temos hoje um mercado muito imaturo e o desafio é trazê-lo para a formalidade. Por isso a regulamentação é tão importante”.

Limitar a publicidade é válido. É preciso seguir as regras do Conselho Nacional Autorregulamentação Publicitária (Conar). Agora, se o governo decidir proibir os comerciais há alguns riscos. Para você pegar um cliente das bets informais, que não seguem regras, e trazer para a formalidade, você precisa da publicidade”, analisa Gelfi.

Numa perspectiva econômica, a gente precisa pensar que o futebol, hoje, tem como principal fonte de financiamento os patrocínios das bets. Os grupos de comunicação vendem seus pacotes também para empresas de apostas. Ou seja, você tem toda uma movimentação da economia que acontece a partir desse mercado. Então, na minha cabeça, a proibição direta, num país onde a indústria é nova, e onde ainda falta conhecimento para separar o joio do trigo, parece uma solução prematura”.

É preciso regras para evitar abusos. É preciso coibir, por exemplo, influencers que usam seus canais para fazer propagandas de bets sem seguir qualquer tipo de regra, enganando o público com falsos ganhadores e prometendo grandes lucros com as apostas. Eu acho que é fundamental o engajamento das plataformas para fazer o monitoramento desses conteúdos e derrubar essas contas, se for o caso”.

Bônus devem existir, mas precisam ser bem usados

Os bônus, publicidades com promoções e sugestão de apostas com altos ganhos, são apontados como culpados por exageros e pelo vício. O presidente do IBJR é contra a proibição dessas peças, mas diz que elas precisam ser usadas com cautela pelas empresas.

De fato, os bônus mal-empregados podem trazer consequências não desejáveis para a dinâmica de relação do apostador com a casa de apostas. Mas medidas comerciais de fidelização, de relacionamento recorrente com clientes, a gente entende que elas têm que ser colocadas dentro de um aspecto mais amplo. Até porque tudo o que você impedir no mercado formal das bets, vai ajudar a fortalecer os sites e aplicativos informais, que vão continuar existindo”, garante Gelfi.

A regulamentação deixa claro que os bônus que instigam você a abrir uma conta não estão permitidos. Um bônus para o primeiro depósito, que é como a gente chama na indústria. Mas as promoções comerciais que você oferece aos seus clientes, eu entendo que seria uma medida de controle excessiva dentro da atividade a proibição, porque você tem outras formas de evitar os exageros, como acompanhar o tempo de uso, gastos excessivos e outras medidas”.

Menores de idade não podem apostar de jeito nenhum

Gelfi diz que a portaria do governo, que será adotada em 2025, veta de vez todas as chances de um menor apostar. “Crianças e adolescentes não podem apostar, claro. E isso já não acontece nas nossas bets, nos aplicativos mais sérios”, esclarece.

Isso vai ser completamente vetado na regulamentação, a partir de 1º de janeiro, que exige o reconhecimento facial do usuário. A pessoa faz um login e quando for fazer uma aposta, vai ser pedido que ele faça o reconhecimento facial, assim como os bancos fazem aqui no Brasil. Você vai ter o cruzamento daquele perfil com a face daquele usuário. Aí você sabe que aquele CPF tem mais de 18 anos e que aquela pessoa que está fazendo o login é de fato a pessoa que abriu a conta e que apresentou a documentação”.

Vai ser praticamente impossível que o menor consiga fazer uma aposta e transacionar pelo site, a não ser que ele tem essa liberação feita por seus pais”.

Bets já monitoram exageros nas apostas

Segundo Andre Gelfi, as empresas mais sérias já fazem o controle das ações de cada usuário e têm procedimentos para evitar que as pessoas façam apostas acima de sua renda e transformem as bets num grave problema financeiro.

Hoje já é possível detectar que uma pessoa está apostando além do que pode observando o comportamento do usuário. Se ele está depositando um valor que não é condizente com sua renda, a gente tem uma política de pedir a comprovação de renda, até para saber se não tem ali uma questão de lavagem de dinheiro, se o valor passar de R$ 10 mil”.

Hoje, no cadastro que é feito, eu não sei qual é a sua renda. Só vou saber se você apresentar a sua documentação. Aí, se você passar de certo limite, cada empresa tem o seu limite, você vai ser contactado para apresentar aquela documentação e a sua conta vai ser provisoriamente bloqueada”, explica.

Se a gente identifica que um cliente passou do seu limite, temos vários caminhos para avisar essa pessoa que ela não pode mais apostar. Por um telefonema, uma mensagem de SMS ou WhatsApp, ela fica sabendo que haverá um bloqueio temporário até que entre em contato com a gente”.

Hoje você tem muitos birôs [birô de crédito é uma empresa legal que coleta e fornece informações sobre o histórico financeiro de pessoas e empresas] que te passam o perfil daquele CPF. Eles te dão o score, hábitos de movimentação e coisas que te ajudam a identificar um comportamento que está fora do normal e deixou de ser saudável. A gente não vai ter num primeiro momento todos os dados do usuário, mas muitas informações, com certeza”, conclui Gelfi.

Fonte: UOL