GMB - Gostaria de sua
apresentação aos nossos leitores... Quem é Alejandro Ortiz e qual é sua
história no setor de jogos no Brasil e no mundo?
Alejandro Ortiz - Entrei para o setor de jogos com o advento da Lei Zico.
Ela legalizou e regulamentou o bingo no Brasil. Após a abertura dos primeiros
bingos de cartela, iniciei o trabalho para homologar as máquinas de videobingo,
que trouxe a modernidade para a atividade e permitiu o crescimento do setor. E
isso me levou à liderança no mercado brasileiro. Antes mesmo do fim da
atividade, procurei introduzir o modelo de videobingo no mercado internacional.
Outras empresas do setor também fizeram o mesmo, exportando esta tecnologia
genuinamente nacional para fora do Brasil.
Hoje a Ortiz Gaming está operando em vários países da Europa, Ásia e América,
incluindo Estados Unidos, além de termos nossos jogos no mundo on-line. A Ortiz
Gaming está ampliando o conceito do videobingo, expandindo para outras áreas do
jogo. Criamos o Bingotronik, que é o conceito do bingo de papel, mas jogado de
forma eletrônica e com a possibilidade de interconexão de várias salas. É um
grande diferencial, pois conseguimos trazer o calor do bingo tradicional para o
sistema eletrônico. O Bingotronik foi desenhado inicialmente para o mercado
brasileiro, mas já o estamos introduzindo em outros países. Desenvolvemos o
OrtiZone, que são móveis projetados sob medida, que podem ter toda a livraria
de jogos da Ortiz Gaming, para serem jogados dentro de servidores locais ou com
acesso à internet. Como a empresa é muito ágil, criamos também jogos de
rodilhos, jogos lotéricos, de habilidade e muitos outros. Resumindo, a abertura e a possibilidade da
introdução do videobingo no Brasil, me permitiram crescer no mercado,
alcançando um papel de destaque no país. Posteriormente, iniciei a expansão
para o mercado internacional. Com a mesma missão de inovar, criar e, desta
forma, crescer, aumentando o leque de ofertas de produtos, com um atendimento
diferenciado.
GMB - Durante anos o Brasil conviveu com
altos e baixos no setor de bingos, mas mesmo assim você teve uma presença
marcante no mercado. Que avaliação você faz daquele período?
O Brasil viveu altos e baixos, principalmente pela falta de uma legislação
clara, fazendo com que o mercado ficasse em vários momentos sem regulamentação.
Até o momento do fechamento do mercado, procurei ser o melhor provedor. No
início da atividade, os equipamentos eram importados e todos tinham um pouco do
conceito de Las Vegas. Pouco a pouco a mentalidade foi mudando. Inicialmente eu
importava gabinetes e software, mas o jogo não caía no gosto dos clientes. Com
o passar do tempo nossos fornecedores começaram a nos ouvir e a fazer
modificações solicitadas. O resultado foi um sucesso e isso me incentivou a
desenvolver o software e o gabinete no Brasil. Neste desenvolvimento, levei em
consideração o tipo de jogador que frequentava as salas no Brasil. O típico
jogador de Las Vegas mudava de uma máquina para outra o tempo todo, com seu
balde de moedas. Percebi que o jogador de videobingo era diferente e ficava
horas se divertindo na mesma máquina. Desta forma, recriei o formato do
gabinete e principalmente do software. No caso do gabinete, trocamos o banco
alto (up-right) pelo formato "sit”, em que o jogador fica efetivamente sentado.
Alguns meses depois, este formato se transformou no padrão de mercado. Foi
quando introduzi também o monitor de 19 polegadas com tecnologia touchscreen,
para que os jogadores pudessem interagir com a tela. Mas a principal mudança
veio no software, quando mudamos alguns paradigmas. Um deles era de que as
pessoas se encantavam com o som mágico das moedas batendo no prato das máquinas
quando saiam prêmios. Mudamos esse padrão introduzindo as primeiras vozes
anunciando os sons dos prêmios: Linha Dupla....Bingo!!! Passamos a dar
importância aos prêmios e não ao som das moedas. Las Vegas retirou as moedas
vários anos depois, acompanhando esta tendência. A mudança alterou a forma no
atendimento nas salas. Sem o dispenser de moedas, os pagamentos passaram a ser
manuais, exigindo atendentes. No início os empresários ficaram uns pouco
incomodados pelo aumento de pessoal, mas logo perceberam que esse aumento
elevou a atenção ao cliente e o volume de apostas.
O passo seguinte foi a mudança no programa de jogo, criando o acumulado por
ilhas de máquinas, acumulado proporcional à aposta realizada, aumento de bolas
extras etc. Vivenciei um momento mágico, com um sucesso atrás do outro. Foi
nesse período que nasceu o Movimento Pró-Bingo, que tinha o objetivo de conquistar
uma lei para o setor que atendesse o anseio do mercado. Este trabalho se somou
ao que vinha sendo desenvolvido pela associação de bingos no sentido de
conscientizar os legisladores do país e mostrar os benefícios da atividade,
como a geração de empregos, diversão para a terceira idade, a proibição de
entrada de menores e que não era um local para lavagem de dinheiro. Mas
infelizmente veio o fechamento do mercado antes de conseguirmos atingir nosso
objetivo.
GMB - O fim do setor
promoveu o nascimento de muitas empresas no exterior com DNA brasileiro. A
Ortiz Gaming é um exemplo claro disso. Como sua empresa se posiciona atualmente
no mercado global? Onde está sediada e onde são desenvolvidos os jogos
atualmente disponíveis no portfólio da Ortiz Gaming?
O modelo de operação da Ortiz Gaming é de criar em cada mercado em que
atuamos uma estrutura própria. Em cada mercado há uma empresa constituída
localmente, com técnicos, comerciais, administrativos etc. Sempre
supervisionamos as empresas locais com nossas matrizes de áreas, respeitando as
legislações locais e incentivando o jogo legal e responsável. Nossos jogos são
desenvolvidos principalmente no Brasil e nos Estados Unidos.
GMB - Como se
processa esse desenvolvimento? Como criar jogos que mantenham o interesse do
jogador, especialmente dos mais jovens, e como garantir aos operadores que eles
terão a rentabilidade que esperam com os jogos da Ortiz Gaming?
Muito boa pergunta. Antes da resposta, gostaria de me posicionar sobre o
jogador típico de nosso setor. Não buscamos atender um público jovem, pois o
mesmo tem outros interesses, típicos da faixa etária. Nosso foco é um público
de uma faixa etária mais alta, que busca como divertimento os restaurantes,
compras, cinemas, teatros e, também, salas de jogos. Isto não quer dizer que os
mais novos não possam ir a uma sala de jogos, mas com certeza as pessoas de
mais idade terão uma tendência maior a ir a esses lugares para se divertirem.
Na criação dos nossos jogos, levamos em consideração o tempo de entretenimento.
Ou seja, o tempo que a pessoa passará em nossos jogos deve ser capaz de
entretê-la e dar-lhe a sensação de que o tempo e o dinheiro investidos valeram
a pena.
GMB - O Brasil está
discutindo duas leis, uma no Senado e outra na Câmara, para regulamentação dos
jogos. Qual é sua avaliação das propostas e como vê o futuro do jogo no Brasil?
São duas propostas com muitas diferenças entre si. As duas têm o poder de
determinar caminhos diferentes um do outro e os legisladores devem ter a
consciência disso. Minha opinião é que o mercado deve ser de livre iniciativa e
que a própria lei de mercado faça que ele se auto equilibre. Não sou partidário
de reserva de mercado. Como todo mercado de livre iniciativa, deveríamos ter
uma agência que tivesse como meta regulamentar, fiscalizar e atuar para o bem
do mercado. Ao meu ver, a lei de jogo deve ser ampla, atendendo todos os
setores, como cassinos, salas de bingos, videoloterias, on-line etc. Caso os
legisladores consigam implementar uma lei bem elaborada, que atenda aos anseios
do mercado, haverá a criação de milhares de empregos, aquecerá o setor
imobiliário e a criação de diversas empresas, que posteriormente poderão
exportar tecnologia, como foi o caso do próprio videobingo. Tudo isso trará
aumento do fluxo de turistas nacionais e internacionais e, principalmente,
geração de bilhões de reais em impostos para o Brasil.
GMB - Acredita que
teremos uma legislação séria e que atraia grandes empresas mundiais para o
país?
Sem sombra de dúvidas, se tivermos uma lei que atenda à livre iniciativa e
que seja clara e sem mudanças de regras de uma hora para outra, muitas empresas
internacionais virão para o Brasil.
GMB - Qual será seu posicionamento quando o
setor for regulamentado? Pretende operar bingos no país ou irá apenas ser um
fornecedor de soluções tecnológicas?
Esta resposta está ligada diretamente à futura lei. Caso ela seja bem
elaborada, transparente e que garanta segurança de que os investimentos serão
respeitados, tenho o maior interesse no mercado, tanto como fornecedor de
soluções tecnológicas como operador de salas de bingos. As empresas que tiverem
as melhores soluções tecnológicas, a melhor operação de salas etc.,
permanecerão no mercado. Espero estar neste mercado. A Ortiz Gaming quer ser o
melhor provedor de tecnologia no Brasil e, neste caso, estou falando em todos
os aspectos da tecnologia, que atenderá ao novo mercado que se abre.