A estratégia não se resume a Adelson, um dos maiores doadores de campanha do presidente americano. Empresas e autoridades dos EUA que batem à porta do Palácio do Planalto não saem de lá imunes à pressão brasileira. O Brasil formalizou o pedido de adesão à OCDE há um ano, e outros quatro países também pleiteiam a vaga —além da Argentina, Peru, Bulgária, Croácia e Romênia.
Desde então, o país já cumpriu 39 das 237 exigências da entidade, a maior parte alinhamento a regras internacionais de tributação e melhoria de ambiente de negócios, para adiantar o processo. Enviou ainda, recentemente, um pedido de verificação do cumprimento de outras 90 recomendações da organização.
Outro fator relevante, segundo assessores de Temer, foi o pedido do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para fazer parte do comitê de concorrência da OCDE. Segundo eles, a decisão sai antes da escolha do novo país-membro e, se for aceito no comitê, o Brasil terá feito muitos gols para levar a vaga na Copa da OCDE.
Mesmo assim, os argentinos parecem estar um passo à frente do Brasil. Em abril de 2017, o presidente argentino, Mauricio Macri, se encontrou com Trump e obteve dele apoio direto.
Neste ano, o alto escalão do governo americano reafirmou que os argentinos estão mais bem posicionados na disputa pela vaga. A Argentina apresenta como trunfo suas credenciais reformistas, que teriam um respaldo maior da população do que no Brasil, onde a reforma da Previdência, por exemplo, não foi votada.
O país vizinho ainda tem cortejado os EUA oferecendo colaboração em diversas áreas, entre elas votações na ONU (Organização das Nações Unidas) e medidas antiterrorismo.
Macri teria outros aliados igualmente fortes. Em entrevista ao jornal argentino Clarín em janeiro, ele afirmou que o presidente francês, Emmanuel Macron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, haviam reafirmado o apoio à Argentina.
O Brasil, por outro lado, tem o apoio do secretário-geral da organização, Angel Gurría, e uma longa história como membro observador na entidade, participando de fóruns e apresentando contribuições às discussões regularmente.
Quando o pedido brasileiro foi formalizado, em junho do ano passado, a expectativa era que seria respondido em dois meses e que, então, o processo de análise começaria.Até agora não houve resposta. Os americanos, que possuem o maior poder de decisão dentro da organização, se posicionaram contrariamente.
Além da concorrência representada pela Argentina, há uma defesa de uma parte do alto escalão do governo americano de que a entidade, hoje com 35 países-membros, seja mantida como um “clube dos ricos”. Ou seja, um grupo menor, sem muitas posições divergentes.
Tanto que na última reunião em que o assunto foi discutido pela OCDE, o endosso à candidatura argentina não foi formalizado. Isso foi encarado pelo Brasil como um sinal que o jogo ainda não está completamente perdido.
A adesão é tão valorizada porque aumentaria a confiança internacional no país. Na avaliação do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, as medidas necessárias para a entrada ajudariam inclusive a reduzir o custo da dívida pública, já que a taxa de juros estrutural da economia, que leva em conta fatores como produtividade e ambiente de negócios do país, cairia.
A Casa Civil também insiste na entrada do Brasil porque, se isso ocorrer, servirá de pressão sobre o Congresso para que metas de reformas microeconômicas sejam aprovadas: todas as medidas de redução de burocracia e melhora de ambiente de negócios que o Ministério da Fazenda encaminhou ao Congresso.
Fonte: GMB / Folha do SP