GMB - Qual é sua posição frente à legalização dos cassinos no Brasil?
Vinicius Lummertz - Sou a favor da legalização dos cassinos no Brasil porque o país precisa de investimentos. O Brasil tem o maior potencial turístico a ser desenvolvido no mundo. Só que o país precisa de infraestrutura para receber mais turistas e ter maior atratividade. E para isso é necessário se investir. Nesse sentido, abrir o país para receber os cassinos é uma evolução necessária e madura que nós estamos retardando. Precisamos recuperar o tempo perdido.
Quais benefícios os cassinos poderiam trazer para o País?
Liberar os cassinos é uma forma de alavancar o turismo para criarmos uma indústria de entretenimento. Por isso eu vejo a questão dos cassinos como um meio, não um fim. O cassino é uma área criativa que serve como uma incubadora de manifestações artísticas, como acontecia no Brasil quando existiam cassinos. O Cassino da Urca é o maior exemplo. Toda a arte que foi criada ali foi o embrião da TV Tupi e depois da Rede Globo. O cassino traz um giro econômico de artes e espetáculos que é fantástico e emprega muita gente desse setor.
Outra questão é que se tem um giro econômico muito grande onde tem cassino. É só olhar para as experiências de Miami, Las Vegas e Macau. Se pegarmos o exemplo de Macau, ali não foi construído apenas um cassino, mas um ícone da arquitetura, que inclui centro de eventos, parque temático, esculturas, jardins, teatros, etc. Junto com o cassino abriram mais uns 20 hotéis que funcionam como satélites. Todo esse investimento, que ultrapassa os R$ 7 bilhões, mudou para sempre a realidade de Macau. E se o Brasil liberar os cassinos podemos também receber investimentos como esse.
Também temos um dos mais altos índices de homicídios do mundo. E muito desse problema se deve ao desemprego. E o turismo gera empregos, que é uma causa que bato a tecla e reitero. Além disso, os cassinos oferecem empregos muito bem remunerados, que envolvem cultura, espetáculos, etc. Inclusive captaria mais eventos internacionais para cá, porque normalmente o Brasil está fora da rota dos grandes espetáculos. Além disso, o turismo gera mais empregos que a manufatura e a agricultura, que são setores que estão cada vez mais automatizados.
A economia do Brasil cresceu 0,5% no último semestre. São Paulo teve um crescimento de 7,7%. Esse número é maior que o da China. Só perde para a Índia. Mas ainda assim SP tem 16% da população desempregada, fora os que estão na informalidade. Então à medida que os cassinos foram legalizados, nós estaremos aumentando significativamente o número de empregos e fazendo a coisa certa, combatendo o desemprego com uma alternativa viável. Além disso, talvez turismo, jogos online e cassinos sejam as únicas indústrias que aumentam o número de empregos com a evolução da tecnologia.
Na sua opinião, a liberação dos cassinos poderia beneficiar o turismo do seu estado?
Se o Brasil quer receber pessoas de outros lugares, que venham de longe, é necessário oferecer atrações que estejam no mesmo patamar dos outros países. No caso de São Paulo nós já temos um fluxo grande de turismo de negócios, com muitas feiras e eventos. A Brodway paulista, por exemplo, está cada vez maior. E os cassinos potencializariam essas oportunidades.
Quais as cidades poderiam sediar os cassinos?
Existem muitos municípios do estado de São Paulo que podem receber cassinos, mas quais cidades, quantas cidades é uma discussão para os parlamentares. Evidentemente existe uma demanda grande por jogos aqui, porque somos o estado mais turístico do Brasil. Depois que a legislação definir quantos cassinos serão liberados por estado, poderemos ver quais serão os melhores locais.
Você concorda com uma abertura total do jogo no Brasil ou apenas a partir de cassinos? Sua posição sobre os cassinos é compartilhada com o governador?
O governador compartilha comigo a opinião, posso falar em nome dele, que os detalhes da legalização devem ser analisados com cuidado. Também não discutimos, por enquanto, a liberação dos jogos em geral. Primeiro discutimos os jogos em cassinos, com essa argumentação do turismo e da indústria do espetáculo. Nossa pauta agora são os cassinos e como eles podem alavancar todo esse conjunto de indústrias que crescem junto com ele.
Acha que essa questão pode complicar a aprovação de qualquer lei nas Câmaras?
Eu entendo que a polêmica em torno do tema atrapalha a legalização. Acredito que legalizar os cassinos primeiro é o caminho mais viável e, depois de analisarmos suas consequências, podemos avaliar outras formas de jogo de azar, sejam bingos, jogo do bicho, entre outros.
Por outro lado, não existe polêmica sobre cassinos em resorts. Nós temos polícia federal, ministério público e outros mecanismos consolidados para auditar e fiscalizar esse modelo de negócio, que já existe em muitos países do mundo. Ninguém tem medo disso porque nós temos uma população adulta e esse é um entretenimento para adultos. Essa insegurança com relação aos reflexos na sociedade não se justifica. É só ver o que aconteceu com os outros países. Sermos uma das últimas nações a legalizar os cassinos nos dá a vantagem de aprender com os erros e os acertos dos outros. E essa é a verdadeira sabedoria. Temos todas as condições de fazer da maneira certa.
Qual sua opinião sobre o ocorre na Câmaras de Deputados e Senadores com as leis de legalização do jogo? Acredita que este ano haverá novidades?
Eu não sei se teremos aprovação neste ano. Mas sei que é necessário aprovar. Na minha opinião, a legislação deveria permitir que a decisão final fosse dos estados. Isso daria menos polemica em Brasília, porque cada federação poderia avaliar o que a sua população pensa, a cultura local, a viabilidade. Assim, mesmo que fosse aprovado em Brasília, os estados não seriam obrigados a liberar os cassinos. Mas um estado que acha que os cassinos são viáveis no seu contexto não seria prejudicado por um que não os quer na sua região. Repito que essa é uma opinião pessoal. Acho que o Brasil precisa mais de descentralização. E assim a lei passaria mais fácil.
O mercado internacional de apostas demonstra que tem grande interesse investir no Brasil. Como o Games Magazine Brasil é o mais importante e lido site de notícias de negócios do setor, o senhor gostaria de aproveitar para transmitir alguma mensagem?
Essa é uma grande oportunidade que vocês me dão. Quero lembrá-los que o Brasil é o maior país do hemisfério sul e, atualmente, é o lugar com mais potencialidade econômica e cultural do mundo ocidental. Nós também representamos mais da metade da população da América Latina e mais da metade do seu PIB. Por essa razão que o Brasil, pelo seu tamanho e sua complexidade, leva mais tempo para fazer mudanças e resolver problemas, como controlar a inflação, por exemplo. Não podemos ser comparados com o Chile. Aqui a realidade é bem diferente. Mas nós temos todas as pré-condições para o desenvolvimento de qualquer indústria, como recursos naturais, infraestrutura, instituições consolidadas e uma população ávida por trabalho. Nós somos um dos poucos países do mundo onde as pessoas trabalham o dia todo e ainda levam mais duas horas para chegar em casa. A história já mostrou que quem apostou no Brasil não se arrependeu, tanto que existem várias empresas internacionais que estão há mais de 100 anos aqui. Por isso eu afirmo que vale a pena acompanhar nossa evolução e acreditar no nosso potencial. Chegou a hora do Brasil!
Fonte: exclusivo Games Magazine Brasil