VIE 29 DE NOVIEMBRE DE 2024 - 05:45hs.
Pedro Oliveira, Co-Fundador da OutField Consulting

“Sou otimista em relação ao desenvolvimento dos eSports no Brasil e vejo futuro nas Olimpíadas”

O especialista em eSports Pedro Oliveira faz uma análise do desenvolvimento da atividade no Brasil e diz que a modalidade estará nas Olimpíadas no futuro: 'É inevitável'. O executivo já realizou vários projetos de esportes eletrônicos no país e diz que “o setor já conseguiu ultrapassar a discussão se é, realmente, esporte ‘de verdade’ ou ‘não’'. Ele conversou com o SportBuzz sobre o segmento.

O retrato dos eSports atualmente

O movimento dos esportes eletrônicos passaram muito, em um primeiro momento, pela entrada dos clubes de futebol, como Flamengo e Corinthians, em suas respectivas modalidades. Apesar do sucesso das duas equipes mais populares do país, esse movimento ainda é considerado baixo, pelo menos nos clubes de elite.

"Tem algumas visões diferentes no movimento. Participamos ativamente desse processo, estivemos à frente do projeto de eSports do Flamengo, durante 8 meses, entre 2019 e 2020. Por conta disso, fomos procurados por vários clubes de futebol, no qual prestamos consultoria. A gente vê uma imersão grande dos clubes no mundo dos eSports. No mundo do futebol, tudo que seja fora no espectro deles, que é montar um elenco e disputar campeonato, eles olham com uma visão simplista: O esporte eletrônico como uma oportunidade de gerar receita para poder gastar com o futebol e eles não estão pensando no planejamento, na construção de marca, no diálogo com o público", disse Pedro.

Ele ainda completou: "É uma visão generalista, nem todos os clubes são assim, mas é o que acontece historicamente, tudo que foge do campo, eles tentam terceirizar para tirar o mínimo de royalties. Os clubes que fizeram movimentos mais alinhados, colheram frutos muito interessantes, como Flamengo e Corinthians”.

Pedro cita que é necessária uma maior aceitação dos veículos tradicionais, mas também vê como um movimento natural, daqui a alguns anos: "Cada vez mais a discussão está superada. Mas ainda existe um pré-conceito e que, por falta de conhecimento, falta esse espaço na TV aberta. O Brasil ainda está meio longe disso. Uma comparação que pode ser feita é com a Champions League na década de 1990. Ela já era uma liga super atrativa, com Romário, por exemplo, mas era muito nichada na TV a cabo. Com o tempo virou essa febre global, com espaço na tevê aberta, mas isso só aconteceu no Brasil em 2007, 2008, quando a Globo comprou os direitos".

"Eu vejo os eSports seguindo o mesmo caminho, com transmissões que começaram no cabo há uns 3, 4 anos e hoje em canais como SporTV e ESPN com calendários consistentes. Então eu sinto que vai ser uma programação natural. Até porque a população que consome os eSports hoje está envelhecendo e a tevê aberta precisará fazer essa adaptação para esse público, competindo com as formas de streaming, que já estão super consolidadas, como a Twitch, o Facebook Gaming e o Youtube Gaming”, complementou.

Nesse período de pandemia, tanto os eSports quanto as plataformas usadas paras as transmissões bateram recordes expressivos, mostrando a força desse movimento.

"A pandemia trouxe um tempo de experimentação do produto eSports. Naquele momento, entre abril e junho, quando houve o lockdown global e aquela zona obscura na qual não havia nenhum conteúdo esportivo ao vivo, a população migrou para os streamings, seja os de entretenimento, mas também para o mundo dos eSports. Aquele blecaute fez com que um público que não consumia os esportes eletrônicos começassem a se interessar pelos conteúdos. Não foi à toa que nesse período houve várias quebras de recordes de audiência em transmissões".

Ele ainda profetizou: "Creio que em 2021 teremos ainda altos números, mas o principal desafio será monetizar esses conteúdos, como os desenvolvedores dos jogos, que fazem os campeonatos, vão se readequar para esse novo público, para que continuem consumindo, mesmo após a pandemia. Eu sou muito otimista".

Olimpíadas? O futuro dos eSports

Os esportes eletrônicos têm tudo para se consolidarem como uma modalidade consistente.

Tido popularmente como "o esporte do futuro", já se discute, em veículos mais liberais, uma possível entrada dos eSports no cronograma dos Jogos Olímpicos, tendo em vista que um dos desafios do COI é rejuvenescer o seu público.

"É inevitável. Acho que temos de entrar na conversa de ‘quando vai acontecer’ e não do ‘se vai acontecer’. A gente já enxerga movimentos na Ásia, por exemplo, com os eSports fazendo parte dos jogos Asiáticos, embora o Comitê Olímpico esteja reticente, com uma visão simplista, até preconceituosa, que são compactuadas pelos esportes mais tradicionais, falando que o eSport não é um esporte de verdade. Mas basta você fazer uma imersão na rotina de qualquer atleta profissional para ver o nível de concentração, de rendimento, de estresse que ele passa. São atletas de alto nível".

"É um processo de convencimento. Se fosse para prever, eu acredito que possa ter um tipo de experimentação em Los Angeles, em 2028. Não sei se seria um esporte de medalha. Mas por ser no mercado americano, que até lá será a maior potência mundial, acredito que possam aproveitar essa oportunidade”.

PROGNÓSTICO PARA O BRASIL

Pedro contou quais são as suas expectativas para o mercado brasileiro dos eSports, para 2021: “Enxergo de dois lados os eSports no Brasil. Falando de dentro para fora, eu ainda não sou otimista porque as marcas ainda não se atentaram ao tamanho da oportunidade que o mercado dos games entrega. Quando olhamos para os investimentos de mídia das grandes empresas e agências de publicidade, mais de 50% vai para a TV aberta, sendo que nem sempre o público consumidor está lá e essa migração está lenta, tanto para o digital quanto para as outras plataformas, como o próprio esporte eletrônico, ferramentas de entretenimento. Eu ainda sou meio pessimista com essa verba de publicidade nos jogos eletrônicos porque vem acontecendo muito lentamente."

Por outro lado, o consultor vê com bons olhos o desenvolvimento do eSport no Brasil, de uma perspectiva dos clubes: "Da mesma forma que eu sou pessimista sobre as marcas, eu sou muito otimista em relação ao desenvolvimento dos times como plataformas, não só competitivas, como também de entretenimento. Temos vários exemplos de sucesso, como a Fúria, que começou como equipe e a produzir conteúdo de entretenimento voltado para várias plataformas. A LOUD é outra, só que foi o caminho inverso. Eu enxergo um ano de 2021 muito decisivo para os clubes, em um momento de consolidação".

As mulheres nos eSports

Como em qualquer camada da sociedade, as mulheres ainda não conseguem ter oportunidades igualitárias no mercado. No eSports, apesar de terem uma evolução notória, ainda há um longo caminho a percorrer.

"Tem duas formas de enxergar esse contexto. Existe sim o preconceito com as mulheres dentro do esporte eletrônico, mas infelizmente é um reflexo da sociedade. No esporte tradicional não é diferente. Os eSports acabam trazendo essa ‘herança’. O ponto positivo dos esportes eletrônicos é que estamos falando de uma comunidade mais jovem e que está mais disposta a debater esses assuntos. Mas dentro dos eSports ainda há muito a melhorar. Muitas mulheres precisam jogar com apelidos e nomes masculinos para não sofrerem com comentários preconceituosos", disse.

Fonte: SportBuzz