Aos 37 anos, o vendedor Flávio de Souza Sena passa, em média, quatro horas por dia assistindo e estudando o desempenho de atletas que atuam em diferentes torneios de futebol nacional e internacional. Tanta dedicação vai além do mero fascínio pelo esporte. O torcedor do Palmeiras tem o objetivo de ser reconhecido como um habilidoso jogador de fantasy game – competição on-line na qual os participantes disputam entre si, mediante a formação de equipes virtuais, compostas pelas escolhas feitas com base em dados estatísticos e históricos de performance de atletas reais.
O esforço tem dado resultado. Atuando há três anos com esse tipo de game, ele já conquistou, aproximadamente, R$ 90 mil em prêmios. “Muitas pessoas dizem que é sorte, mas não acredito nisso. Na minha opinião, existe todo um estudo e muita estratégia por trás”, opina.
Sena tem razão. Por falta de conhecimento, muitas pessoas tendem a associar esse tipo de modalidade aos conhecidos jogos de azar, que são pautados, basicamente, na sorte, como ocorre com bingo, cassino ou loteria, quando apostadores dependem do acaso e torcem, na verdade, contra um operador. A realidade é que o fantasy game demanda conhecimento do universo esportivo, assim como habilidade, técnica e planejamento estratégico, o que também ocorre com outras modalidades de jogos da categoria de habilidade, como os eSports ou xadrez.
Esta indústria tem se consolidado, cada vez mais, no cenário internacional e já demonstra um impacto econômico exponencial, movimentando cerca de US$ 22 bilhões no último ano e podendo crescer para US$ 100 bilhões entre 2020 e 2026. Nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se que tenha movimentado algo em torno de US$ 8,37 bilhões no último ano. A Índia aparece em segundo lugar no ranking, atingindo a marca de cerca de US$ 319 milhões, segundo o site Statista.
Segundo especialistas, o Brasil tem potencial e já ocupa o terceiro lugar nessa lista – podendo movimentar até 250 mil empregos direta e indiretamente. Atualmente, o setor movimenta no país de R$ 55 a 66 milhões por ano. A estimativa global de crescimento para o segmento até 2026 é de 120%.
O grande entrave é que, por aqui, o fantasy game ainda não é regulamentado. A legislação mais próxima do assunto está totalmente defasada: é a Lei nº 5.768, de 1971, que trata das loterias e dos sorteios.
Para mudar essa realidade, tramita na Casa Civil uma proposta normativa elaborada pelo Ministério da Economia que visa a regulamentar a atividade dos jogos de habilidade, nos quais o Fantasy Sport está diretamente incluído. Paralelamente, as empresas que atuam com jogos de habilidade vêm atuando para defender a necessidade de equilíbrio e segurança jurídica para as operações, por meio de um tratamento fiscal e regulatório diferenciado daquele que se cogita dar aos jogos de azar.
“Isso permitirá maior rentabilidade, com a geração de empregos e ampliação da arrecadação estatal ao país, bem como propiciará maior segurança aos usuários e fãs dos jogos de habilidade. Mais do que isso: é importante mostrar o que realmente significa o fantasy game e a sua operação, que hoje acaba sendo regida ao lado de outras categorias que operam de forma totalmente diferente”, explica Rafael Marcondes, Head of Legal do Rei do Pitaco.
Ainda de acordo com Marcondes, a regulamentação traz abertura do mercado para uma maior concorrência, com a possibilidade de entrada de outros players, se editadas regras claras e bem delimitadas. “São três pilares que serão beneficiados com a regulamentação adequada: segurança para os consumidores (usuários), para os players do mercado (com possibilidade de ampliação da indústria brasileira) e para os investidores (desenvolvimento e crescimento do setor)”, reforça.
O Rei do Pitaco é uma plataforma líder de fantasy game com mais de 1,5 milhão de usuários inscritos, onde disputam prêmios ao fim de cada rodada. Atuando no mercado desde 2019, a marca registrou crescimento de 600% no ano passado e tem a expectativa de ultrapassar os 400% em 2022. Interessados em disputar os torneios pagam apenas o valor da inscrição, o qual parte serve como taxa de administração (pela gestão das competições) e o restante é devolvido aos jogadores na forma de prêmios.
O torcedor do tricolor paulista Guilherme Luiz de Oliveira Souza reside em Suzano, interior de São Paulo, tem 25 anos, é comerciante, analista de Fantasy Games e toda semana joga – como zagueiro ou fixo – na vida real. “Conheci o Rei do Pitaco mediante lives, no YouTube, e jogo há um ano. O que me motiva a praticar é a profissão, pois quero que seja parte da minha vida. Estudo todos os dias sobre o assunto. Quando finaliza a rodada, eu já olho as estatísticas, os melhores momentos dos jogos e depois parto para as outras análises”, explica.
Atualmente, Souza joga todos os campeonatos nacionais, bem como o Alemão e a Champions League, além das disputas de seleções, o que já o levou a uma arrecadação de R$ 32 mil em uma só rodada. Ao todo, no aplicativo, o jogador soma um rendimento de R$ 97 mil até o momento. “Para se sair bem, é preciso investir em conhecimento, seja por meio de cursos ou praticando. O Fantasy Game é um jogo de habilidade a longo prazo, pois – para ganhar sempre – é preciso ter método e este pode me levar a viver apenas disso. Quem sabe um dia?”, destaca o são-paulino.
A maior liga organizada pelo Rei do Pitaco ocorreu em 2021, quando agraciou o vencedor da primeira rodada do Brasileirão com R$ 500 mil e distribuiu R$ 1 milhão em prêmios no total. Na primeira rodada do Campeonato Paulista de 2022, em que a empresa distribuiu R$ 500 mil em prêmios, Souza lamentou por não ter levado uma bolada. “Foi por muito pouco, por um pênalti eu ficaria em primeiro”, recorda o jogador de Fantasy.
É possível disputar uma série de competições, como Liga Espanhola, Inglesa, Campeonato Italiano, Champions League, Copa do Brasil, Cariocão, Campeonato Paulista, entre outras. Na montagem dos respectivos times, os jogadores podem escalar atletas que atuam em diferentes clubes. Quanto melhor o desempenho dos futebolistas no mundo real, mais caro custa para contratá-los.
Pontua mais os usuários que acertarem um maior número de variáveis de acordo com o desempenho dos jogadores selecionados, como gols marcados, faltas sofridas, escanteios cobrados e muitas outras métricas típicas das partidas de futebol.
“No exterior, há vários países que já contam com regulamentação específica para esse tipo de jogo, o que acaba atraindo investimentos e proporcionando maior tranquilidade para quem joga e opera. Acreditamos que, ao ter regras próprias, essa modalidade tem tudo para deslanchar, uma vez que o brasileiro ama futebol”, aponta o Head of Legal do Rei do Pitaco.
Fonte: Metrópoles