MAR 26 DE NOVIEMBRE DE 2024 - 11:52hs.
Relatório vai ser divulgado em julho

IBIA emitiu alertas em quatro jogos do Brasil em 2023

Quatro partidas do futebol brasileiro, em 2023, receberam alerta de possível manipulação por parte da Associação Internacional de Integridade em Apostas (IBIA, na sigla em inglês). O relatório sobre os jogos, com detalhes das sinalizações, estará disponível em julho, mas o CEO do instituto, Khalid Ali, adiantou essa informação em entrevista durante o Brazilian Igaming Summit, que ocorre em São Paulo.

O futebol disputa com o tênis como esportes com maior número de suspeitas de manipulação. Entre 2017 e 2022, a IBIA emitiu 1,2 mil alertas. Metade deles referentes ao tênis. Nessa modalidade, considerada a referência no combate à manipulação, existe um instituto de integridade que analisa os casos.

Em 2023, só no primeiro semestre, o número se inverteu. Foram 40 alertas no total, sendo 15 do futebol e 12 do tênis. E desses 15 que estão os quatro do Brasil. Apesar do número alto, ele representa uma queda de 20% na comparação com o último trimestre de 2022.

O país também lidera os índices de suspeita na comparação com os vizinhos sul-americanos. Desde 2018, são 33 emissões, contra nove de Argentina e Peru. Segundo a associação, 91% dos alertas são emitidos em apostas nos chamados mercados primários (vitória, empate e derrota). Apenas 9% são de palpites em cartões, escanteios, faltas etc. Isso se dá porque esses campos menores não permitem grandes valores de aposta.

A IBIA é considerada o norte no que diz respeito à integridade para o setor de apostas. Trata-se de uma empresa sem fins lucrativos e que tem como membros os principais operadores, as maiores casas de aposta do mundo. Por isso, seus alertas são mais restritos e aprofundados. Seus serviços são compartilhados com Fifa, Uefa, Comitê Olímpico Internacional e outras organizações esportivas.

A diferença para outras empresas que prestam essas atividades está, justamente, no fato de não ser uma corporação e não ter fins lucrativos. Grosso modo, trata-se de uma rede de informações das próprias casas. Seus relatórios são emitidos e, depois, investigados pelas autoridades competentes. Outras companhias que prestam serviço semelhante, como as empresas que trabalham para federações e confederações, são privadas, colhendo dados diferentes, de outras fontes.

O rastreio da IBIA se dá a partir de movimentações estranhas em sites. Apostas acima do valor ou alto volume de palpites disparam um gatilho no algoritmo de monitoramento. Como o trabalho é direto com as casas, eles têm acesso aos IPs de onde partiram as apostas e também a identificação de cada usuário, o que facilita a busca e pode agilizar a investigação.

"Essa é uma diferença para os sistemas comerciais de monitoramento, que costumam ser mais direcionados em movimentos simples de probabilidades", explica Khalid Ali.

O serviço de monitoramento é considerado fundamental para a regulação das apostas esportivas do Brasil, um dos principais debates do momento em Brasília. Já houve conversas, e Khalid deverá retornar ao país para discutir o tema com o Congresso.

"Falamos bastante na questão das taxas, mas é fundamental abordar a integridade. Criar sistemas de educação para os agentes esportivos, como atletas e técnicos, especialmente ainda quando jovens. E também combater desinformações, como pessoas que prometem riqueza em um mês no mercado de apostas. Isso não existe", finaliza Khalid.

Estima-se que, por ano, as casas de apostas sejam lesadas em US$ 25 milhões (cerca de R$ 120 milhões) em manipulação de resultados.

Fonte: GZH