Games Magazine Brasil – O que a Apajo pode contribuir com informações para o mercado regulado brasileiro que começa a operar efetivamente a partir de janeiro de 2025?
Bernardo Neves – Já falamos com as autoridades brasileiras na fase pré-lei que o caso português contribui da mesma forma que qualquer outro mercado licenciado. O que é fundamental são algumas coisas fundamentais, como a permissão de publicidade aos operadores, porque isso facilita ao consumidor identificar quem é o operador regulado versus o não regulado, pois a mídia é um bom filtro. O consumidor percebe.
É fundamental um combate adequado ao jogo ilegal, especialmente através dos métodos de pagamento, de influenciadores. Isso é um trabalho que percebemos que é de alguma profundidade e modernidade também. O Brasil parece estar dando sinais muito positivos nessa matéria.
É importante prestar atenção para que exista um quadro de flexibilização da evolução do setor, ou seja, à medida que vão sendo encontrados desafios de oferta de produto, desafios operacionais e por aí fora, que o diálogo se mantenha positivo e aberto entre as entidades regulatórias, legislativas e os operadores para que o mercado possa ir evoluindo de uma forma natural.
Com isso, se faz, de uma forma geral, o que todas as jurisdições querem como principais objetivos de uma regulação que é:
Número 1 - proteger o consumidor sempre; e
Número 2 - fazer uma canalização para a economia formal de um setor de atividade que é uma realidade prática há milhares de anos e, portanto, sempre existiu, desde que o homem tem algum tipo de organização e sempre vai continuar a existir.
Portanto, é ótimo que esteja num ambiente formal, regulado, seguro para o consumidor.
O início de um mercado regulado causa necessidades de mudanças imediatas. Como é você avalia isso?
O início do mercado regulado – na minha experiência lancei o primeiro operador licenciado em Portugal – é um momento emocionante para o setor. Eu diria para todos que participaram, também vai ser para o novo regulador brasileiro e para o legislador. É um momento em que acontecem muitas coisas atípicas.
Ou seja, ao longo dos meses e dos anos a quantidade de jogadores que se registram e começam a jogar é mais ou menos estável, pode ter subidas com alguns décimos percentuais para aqui ou para ali nos primeiros dias. É um vendaval de pessoas entrando nesses operadores.
Desafios surgirão, como os sites terem uma performance inferior, vão estar em baixo talvez temporariamente por causa desses desafios, e aos poucos vai haver aquele habitual confronto com a realidade que existem. Os operadores vão conhecer o que efetivamente acontece no cumprimento das regras que foram estabelecidas e o regulador vai ver sob o ponto de vista de sua supervisão.
Portanto, é bom que exista uma reavaliação, eu diria relativamente cedo, para perceber o que se vai fazer a seguir. Eu diria que ao fim dos primeiros seis meses, é bom olhar um pouco para como as coisas acontecem e se há algumas que se podem afinar rapidamente. Ao fim do primeiro ano, seguramente, e depois a partir daí as coisas vão estabilizando.
No Brasil, 120 empresas se apresentaram ao Ministério da Fazenda para iniciar a operação regulada. Você avalia que isso é um número adequado para o mercado brasileiro?
Não conheço em profundidade o mercado brasileiro. Aquilo que já ouvi dizer é que vai haver um processo de depuração desses 120 candidatos a partir do momento em que é preciso pagar a licença e, por isso, esse número pode cair. O mercado brasileiro tem uma escala que não é de todo comparável ao mercado português, portanto 120 parece um número elevado neste começo.
Há jurisdições menores em termos de população do que o Brasil que tem mais ou menos esse número de operadores ou superior. Eu diria que o mercado brasileiro é capaz de conseguir acomodar esse número de operadores, mas parece-me natural que ao longo do tempo haverá um processo de concentração, com um grupo que irá liderar a preferência dos usuários e outros que terão uma presença pequena, mas lucrativa, e outros ainda que estarão à espera de uma oportunidade.
Volto a dizer, o mercado brasileiro é muito diferente do português. O português tem várias tendências muito marcadas e o brasileiro é muito mais diversificado do ponto de vista de preferências dos consumidores.
Em Portugal não há nenhuma iniciativa, por exemplo, de clubes terem marcas diretamente associadas a si próprios do ponto de vista do jogo online.
Grandes players globais já se apresentaram para operar no mercado brasileiro. É uma tendência mundial?
Sem dúvida. Durante as fases iniciais de expansão do jogo online, muitos dos grandes grupos, olhavam para as para o licenciamento e iam avaliando para quais países queriam ir. À medida que o mapa mundial foi sendo preenchido por jurisdições reguladas, aquilo que é a evolução normal, é ir escolhendo aos poucos quais são as regulações que parecem mais interessantes para participar.
Há alguns associados da Apajo que já pediram licença que já têm algum peso nessa fase inicial, pré-licenciada. Já ouvi falar aqui durante a SBC de interesse de players brasileiros que nem sequer vêm diretamente do jogo online, mas que olharam para o mercado e agora pensaram “bem, se vamos fazer no Brasil é interessante olhar para Portugal”. E há seguramente players internacionais e até portugueses que olham também para o mercado brasileiro com bastante interesse.
Você vê então o mercado brasileiro como caminhando para ser um dos principais do mundo? Qual sua expectativa com relação a isso?
Eu acho que é bastante possível. Vai depender um pouco do que vai acontecer com a realidade prática. Em termos de população, pelo interesse no jogo e o fator novidade, já ouvi algumas estatísticas de que o Brasil, no prazo de 12 meses a 18 meses, terá um dos papéis de liderança em nível internacional.
Agora, vamos descobrir a realidade prática, perceber se efetivamente a regulamentação vai funcionar, se as regras foram postas em práticas e aquilo que é a resposta dos operadores vai dar uma boa experiência ao usuário e absorver essa procura, que é um dos principais desafios dos mercados regulados. Os jogadores têm tendência a jogar seja como for, vão escolher ou não os operadores regulados, dependendo de a oferta ser efetivamente boa, da experiência ser boa e de haver um bom papel das autoridades de informação pública sobre o que são os operadores regulados e do combate aos ilegais.
Os operadores brasileiros têm trabalhado muito com a questão de mostrar a questão da responsabilidade do jogo responsável e como entretenimento. Esse é o caminho para estabilizar de maneira adequada e socialmente aceita da atividade?
Acho que isso é uma pedra de toque fundamental. O setor, em muitas jurisdições, já se deu conta disso e pensou: “temos uma base adequada e agora, com calma, temos de ver como projetar a proteção do consumidor”.
Em alguns casos, isso foi demasiado em função de ações políticas, com boas intenções, mas com ações não tão bem adequadas. O setor, com o conhecimento que tem e sabendo como os jogadores jogam e quais são os indicadores, deve tomar a dianteira sobre o que é o jogo responsável hoje e o que será amanhã.
Como combater o influenciador irresponsável que não sabe o que está falando e como educá-lo adequadamente para mostrar a atividade como lazer e entretenimento?
Sem dúvida com informação. Acho que é importantíssimo que os operadores e que o ente público abordem o setor do marketing de influência e preste toda a informação.
Em Portugal, à medida que a Apajo vinha combatendo os influencers, recebíamos muitas comunicações deles dizendo “eu tenho que declarar que eu divulguei operadores ilegais, mas era por desconhecimento, pois eu não sabia”. Eram influencer que nem conhecíamos.
Assim, é importantíssimo que haja campanhas de sensibilização abrangentes, que os operadores licenciados, que vão ter provavelmente uma relação comercial muito estreita com vários influencers, façam essa pedagogia e campanhas, e que os próprios influencers tenham a responsabilidade de propagar, de forma gratuita, porque também está no interesse deles, os seus pares terem comportamentos adequados. Todos os que estão envolvidos – ente estatal, operadores e influencers – devem tomar a dianteira.
O sistema de incentivos favorece muito quem divulga operadores ilegais, que pagam mais. As autoridades precisam estar atentas a isso, pois eles estão falando com um público que os licenciados não cobrem, como jogadores que têm problemas de jogo e que já estão autoexcluídos dentro do mercado regulado, em menores, que ao serem identificados na sua inscrição não lhes é permitido jogar. Não só estão se beneficiando de um setor onde não deviam estar porque não têm uma licença, como estão à procura dos públicos que não deviam estar jogando.
A Apajo representa apenas operadores regulados e licenciados? Quantos são os associados?
A Apajo representa oito operadores licenciados em Portugal, que tenham uma autorização para atuar no mercado português. É o nosso espaço e é aquilo que sentimos ser relevante representar. Há outras associações que defendem outros interesses. No caso da Apajo, atuamos com oito operadores, que significam a maioria do negócio, seguramente acima de 80% do setor.
Fonte: Exclusivo GMB