"A manipulação de resultados é um problema enorme, não apenas para o lado esportivo do negócio, mas também para as casas de apostas", comentou Guilherme Buso, VP Brasil da Genius Sports, em uma coletiva de imprensa durante o recente SBC Summit.
O cenário esportivo brasileiro tem uma grande oportunidade comercial à frente com o lançamento do mercado nacional regulamentado de apostas previsto para o início de 2025, mas, como em outros países, isso inevitavelmente levantará a questão da manipulação de resultados.
Compartilhando informações para manter o esporte seguro
À medida que o mercado de apostas do Brasil emerge, proteger a integridade esportiva será um processo que exigirá múltiplos elementos, enfatizou Buso no SBC Summit realizado em Lisboa na semana passada.
"Sempre dizemos que há três fatores muito importantes", ele respondeu a uma pergunta sobre integridade. "O número um, usar a tecnologia, monitorar apostas em todo o mundo e compartilhar informações, porque temos nosso sistema”.
Buso compartilhou o palco em Lisboa com Fellipe Fraga, diretor de negócios da EstrelaBet, uma das principais operadoras de apostas do Brasil. Referindo-se ao negócio da empresa, ele observou que a empresa está "recebendo apostas com quantias de dinheiro que talvez não sejamos capazes de ver, então estamos compartilhando essas informações com as casas de apostas".
Ele continuou: "O segundo pilar é a educação. A educação é realmente relevante. Existem casos, muito famosos, em que os atletas afirmam que não sabiam que um cartão amarelo era um mercado de apostas, ou um cartão vermelho, ou escanteios, ou no basquete, por exemplo, onde você pode apostar no desempenho de um jogador. A educação é muito importante”.
"O terceiro aspecto são as políticas. Ajudamos as organizações a desenvolverem e melhorar suas políticas, para que, em um caso de manipulação de resultados, estejam prontas para reagir, banir um jogador ou aplicar uma multa. Esses são os três pilares mais importantes, e temos feito isso globalmente, e o Brasil é um grande foco agora”.
Com a indústria ansiosa pelo lançamento do mercado no Brasil, várias empresas, tanto operadoras de apostas quanto fornecedores, estão interessadas em conquistar seu espaço. No lado da tecnologia e dos dados, a Genius garantiu uma posição forte, tendo feito parceria com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Liga Nacional de Basquete (LNB).
Esse acesso a dados é complementado por suas parcerias com casas de apostas, como a já mencionada EstrelaBet, dando à empresa um papel único – e uma grande responsabilidade – na proteção da integridade esportiva. No entanto, não é o único envolvido, já que as empresas que facilitam diretamente as apostas também têm grande responsabilidade.
Fraga observou que, como a EstrelaBet é patrocinadora de vários clubes e ligas, ele tem uma linha direta com essas equipes para ajudar a organizar sessões de educação para os jogadores. Para que a integridade seja adequadamente protegida, ele disse que é vital que as operadoras "façam parte desse movimento, discutam e promovam a integridade em geral, e ajudem na educação”.
"É muito importante cuidar disso em cada momento e continuar trocando essas informações", continuou. "Podemos revisar as apostas, verificar se há algo estranho – geralmente não temos apostas naquele campeonato, naquele jogo ou time, por que a quantia está tão alta?".
Destacando-se da multidão
Muitas palavras foram usadas para descrever as expectativas da indústria em relação ao mercado brasileiro. Lotado não costuma ser uma delas, mas é difícil negar – mais de 134 empresas, incluindo casas de apostas e desenvolvedores de jogos – manifestaram interesse em ingressar no mercado, que será governado pelo regime regulatório de apostas.
Se até metade dessas operadoras conseguir obter uma licença e lançar suas atividades, haverá uma alta competição. Para se destacar, as empresas precisarão buscar formas novas e inovadoras de engajar os fãs de esportes.
Este foi, na verdade, o principal assunto da conferência da Genius e EstrelaBet em Lisboa, e não a integridade, embora este último tema tenha sido de particular interesse. Um grande projeto em andamento dentro da parceria Genius-EstrelaBet é o desenvolvimento de um novo serviço de streaming, que permitirá apostas e visualização de esportes ao mesmo tempo.
Em um mercado tão vasto e apaixonado por esportes como o Brasil, a dupla está confiante de que oferecer casas de apostas como uma plataforma para visualização se tornará um fator decisivo para os clientes. Isso é particularmente relevante quando se olha além do futebol.
O futebol é, sem dúvida, o esporte mais popular no Brasil. No entanto, outros esportes também têm espaço no país, especialmente a NFL e outros esportes americanos, com a liga realizando sua primeira partida no Brasil entre o Philadelphia Eagles e o Green Bay Packers em 6 de setembro.
Fraga explicou: "Se incluirmos não apenas o futebol, mas também a NFL e outros esportes, você terá os mesmos desafios para encontrar onde assistir, e oferecemos isso ao mesmo tempo. Você pode fazer isso ao mesmo tempo, pode ter streaming e fazer suas apostas”.
"O streaming é entretenimento, você pode apenas assistir ao seu jogo e, talvez, ter a oportunidade de apostar. Nossa ideia é oferecer oportunidade aos nossos clientes, oferecendo novos recursos e algo novo".
Por fim, um último ponto de discussão na agenda foi a natureza única do mercado brasileiro. Isso não é novidade para a maioria dos observadores – a necessidade de personalizar e localizar uma oferta internacional para o Brasil é uma parte aceita da estratégia de qualquer operadora competente.
A Genius está ativa no Brasil há algum tempo, dando à empresa uma sólida compreensão do mercado local. Buso explicou que o Brasil é "completamente diferente do resto da América Latina", o que resultou na segmentação de sua abordagem aos mercados sul-americanos, com o Brasil de um lado e os países de língua espanhola de outro.
Fraga destacou um elemento diferente: o tamanho impressionante do Brasil. Com mais de 220 milhões de pessoas e cobrindo mais de oito milhões de quilômetros quadrados, o Brasil é um país com culturas, clientes e necessidades locais diversas.
"A distância entre os pontos leste e oeste do Brasil é maior do que a distância entre o Brasil e a África", explicou ele, resumindo o vasto tamanho e as diferenças geográficas do país.
“As empresas que desejam se envolver com os esportes brasileiros devem ter isso em mente, e talvez até usar isso como uma metáfora para a escala da tarefa que estão assumindo. A oportunidade está lá, mas aproveitá-la não será simples”.
Fonte: GMB