VIE 15 DE NOVIEMBRE DE 2024 - 01:19hs.
HERCULANO PASSOS, DEPUTADO FEDERAL

"O jogo já é legal no Brasil e proibir alguns tipos é hipocrisia"

Games Magazine entrevistou com exclusividade o deputado federal Herculano Passos, membro da Comissão Especial do Marco Regulatório dos Jogos e da Comissão de Turismo. Profundo conhecedor do setor de turismo e hotelaria, o deputado tem demonstrado aos seus pares, na Câmara Federal, a importância do setor de jogos para o turismo e para a economia. Para ele, o Brasil está bem preparado para a abertura de cassinos e bingos.

"O jogo já é legal no Brasil e proibir alguns tipos é hipocrisia"

Herculano Passos, Deputado Federal

Herculano Passos, Deputado Federal

GMB - Como membro atuante de diversas comissões voltadas ao desenvolvimento e turismo, como vê a possibilidade de o Brasil abrir as portas para o setor de jogos, regulamentando as atividades de bingos e cassinos?
Herculano Passos
- Sou membro da Comissão Especial do Marco Regulatório dos Jogos no Brasil e da Comissão de Turismo, nas quais discutimos muito sobre isso. Depois de ouvir as várias partes interessadas ou contrárias à legalização, eu, particularmente, concluí que ela será benéfica para o turismo brasileiro e para a economia do país. No Brasil, as apostas ilegais movimentam anualmente cerca de R$ 20 bilhões, mas o jogo ilegal não gera arrecadação para os cofres públicos. Ou seja, o Brasil deixa de arrecadar dinheiro que poderia ser investido em saúde, segurança, educação, infraestrutura etc. Além disso, quem trabalha com jogo ilegal, como em bingos clandestinos, por exemplo, não tem direitos trabalhistas e sociais assegurados. Com relação ao turismo, o Brasil recebe anualmente cerca de 6 milhões de turistas estrangeiros, enquanto Las Vegas, que tem no jogo seu principal fator econômico, recebe mais de 40 milhões de visitantes e Macau, mais de 30 milhões. Se tivermos cassinos no Brasil, nos moldes desses dois locais, passaremos a ser um destino turístico muito interessante. Mais pessoas nos visitando, significa mais dinheiro injetado em nossa economia. A indústria do jogo tem outro ponto positivo. Ela tem grande capacidade de geração de postos de trabalhos diretos. Estima-se que a legalização criará cerca de 85 novas funções/profissões.

GMB - Tanto a Câmara dos Deputados quanto o Senado discutem neste momento projetos para a abertura de bingos e cassinos no Brasil. Como o senhor vê esse movimento, tendo em vista que hoje apenas alguns poucos países (em especial de religiões mais conservadoras) não permitem a atividade?
O jogo já é legal no Brasil (vide as loterias e o turfe, por exemplo), então proibir alguns tipos de jogos é hipocrisia. Os investidores da área de cassinos estão muito interessados, mas ainda reticentes porque, tanto o projeto do Senado quanto o da Câmara são mais flexíveis com os bingos do que os cassinos. Por exemplo, os projetos limitam o número de cassinos por estado, mas não restringem o número de bingos. Que investidor vai colocar milhões de dólares num cassino, se tiver um bingo em cada esquina? Queira ou não, são atividades que competem. Os dois projetos já estão prontos para serem votados em plenário. Como citei anteriormente, defendo que eles precisam ainda de algumas modificações, mas isso pode ser feito em plenário mesmo. O importante é que sejam apreciados e tenham andamento, para que a legalização se torne realidade o quanto antes.

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GMB - Sabe-se que inúmeros polos de atração turística no Brasil, particularmente estâncias hidrominerais, tem sofrido com a falta de investimentos para atração de mais visitantes. O senhor acredita que a abertura de bingos nessas localidades pode atrair mais visitantes?
Eu acredito que os cassinos têm mais poder de atração turística do que os bingos. Tanto o projeto da Câmara quanto o do Senado preveem que os cassinos deverão funcionar em complexos integrados de lazer. Ou seja, não serão simples casas de jogos, como os bingos. Serão cassinos funcionando em complexos com resorts, casas de shows, bares, restaurantes, danceterias, lojas, centros de convenções etc. Serão grandes estruturas para atrair os mais diversos tipos de públicos, desde jogadores até participantes de eventos de negócios. No passado, algumas estâncias hidrominerais tinham cassinos e acredito que algumas possam ter novamente, dependendo de como ficará a distribuição por estado.

GMB - Em algumas macrorregiões, a abertura de um cassino poderia dar um impulso significativo na economia regional?
Em todo o país esse impulso será possível. Mas, pelo que tenho percebido, o interesse dos investidores está em áreas mais populosas e com melhores acessos (aeroportos locais ou próximos, por exemplo). Eles não estão dispostos a investir em áreas remotas e com pouca infraestrutura.

GMB - Até países como a China, de economia tão fechada, tem Macau como um dos principais destinos mundiais de turismo em função dos cassinos. O senhor acredita que o Brasil, com tantas atrações naturais, pode ter o setor de jogos como um atrativo a mais da indústria de turismo?
Tenho certeza que sim! O turista poderá vir para jogar num cassino em Cuiabá, por exemplo, e aproveitará para conhecer o Pantanal. A própria indústria do turismo se encarregará de criar esses pacotes.

GMB - O Brasil está preparado para regulamentar de maneira séria o setor de jogos, apesar do que dizem os segmentos religiosos contrários à atividade?
A fiscalização e o controle ainda são partes sensíveis nestas propostas, porque o país terá que criar uma agência reguladora ou incumbir outros órgãos dessa função. Mas, quando aprovada a legalização, o país estará preparado para isso.

Fonte: Exclusivo GMB