GMB
- Como membro atuante de diversas comissões voltadas ao desenvolvimento e
turismo, como vê a possibilidade de o Brasil abrir as portas para o setor de
jogos, regulamentando as atividades de bingos e cassinos?
Herculano Passos - Sou membro da Comissão Especial do Marco Regulatório dos Jogos no
Brasil e da Comissão de Turismo, nas quais discutimos muito sobre isso. Depois
de ouvir as várias partes interessadas ou contrárias à legalização, eu,
particularmente, concluí que ela será benéfica para o turismo brasileiro e para
a economia do país. No Brasil, as apostas ilegais movimentam anualmente cerca
de R$ 20 bilhões, mas o jogo ilegal não gera arrecadação para os cofres
públicos. Ou seja, o Brasil deixa de arrecadar dinheiro que poderia ser
investido em saúde, segurança, educação, infraestrutura etc. Além disso, quem
trabalha com jogo ilegal, como em bingos clandestinos, por exemplo, não tem
direitos trabalhistas e sociais assegurados. Com relação ao turismo, o Brasil recebe anualmente cerca de 6 milhões de turistas estrangeiros,
enquanto Las Vegas, que tem no
jogo seu principal fator econômico, recebe mais de 40 milhões de visitantes e Macau, mais de 30 milhões.
Se tivermos cassinos no Brasil, nos moldes desses dois locais, passaremos a ser
um destino turístico muito interessante. Mais pessoas nos visitando, significa
mais dinheiro injetado em nossa economia. A indústria do jogo tem outro ponto
positivo. Ela tem grande capacidade de geração de postos de trabalhos diretos.
Estima-se que a legalização criará cerca de 85 novas funções/profissões.
GMB - Tanto a Câmara dos Deputados quanto o
Senado discutem neste momento projetos para a abertura de bingos e cassinos no
Brasil. Como o senhor vê esse movimento, tendo em vista que hoje apenas alguns
poucos países (em especial de religiões mais conservadoras) não permitem a
atividade?
O jogo já é legal no Brasil (vide as loterias e o turfe, por exemplo),
então proibir alguns tipos de jogos é hipocrisia. Os investidores da área de
cassinos estão muito interessados, mas ainda reticentes porque, tanto o projeto
do Senado quanto o da Câmara são mais flexíveis com os bingos do que os
cassinos. Por exemplo, os projetos limitam o número de cassinos por estado, mas
não restringem o número de bingos. Que investidor vai colocar milhões de
dólares num cassino, se tiver um bingo em cada esquina? Queira ou não, são
atividades que competem. Os dois projetos já estão prontos para serem votados
em plenário. Como citei anteriormente, defendo que eles precisam ainda de
algumas modificações, mas isso pode ser feito em plenário mesmo. O importante é
que sejam apreciados e tenham andamento, para que a legalização se torne
realidade o quanto antes.
GMB - Sabe-se que inúmeros polos de
atração turística no Brasil, particularmente estâncias hidrominerais, tem
sofrido com a falta de investimentos para atração de mais visitantes. O senhor
acredita que a abertura de bingos nessas localidades pode atrair mais
visitantes?
Eu acredito que os cassinos têm mais poder de atração turística do que os
bingos. Tanto o projeto da Câmara quanto o do Senado preveem que os cassinos
deverão funcionar em complexos integrados de lazer. Ou seja, não serão simples
casas de jogos, como os bingos. Serão cassinos funcionando em complexos com
resorts, casas de shows, bares, restaurantes, danceterias, lojas, centros de
convenções etc. Serão grandes estruturas para atrair os mais diversos tipos de
públicos, desde jogadores até participantes de eventos de negócios. No passado,
algumas estâncias hidrominerais tinham cassinos e acredito que algumas possam
ter novamente, dependendo de como ficará a distribuição por estado.
GMB
- Em algumas macrorregiões, a abertura de um cassino poderia dar um impulso
significativo na economia regional?
Em todo o país esse impulso será possível. Mas,
pelo que tenho percebido, o interesse dos investidores está em áreas mais
populosas e com melhores acessos (aeroportos locais ou próximos, por exemplo).
Eles não estão dispostos a investir em áreas remotas e com pouca
infraestrutura.
GMB - Até países como a China, de
economia tão fechada, tem Macau como um dos principais destinos mundiais de
turismo em função dos cassinos. O senhor acredita que o Brasil, com tantas
atrações naturais, pode ter o setor de jogos como um atrativo a mais da
indústria de turismo?
Tenho certeza que sim! O turista poderá vir para jogar num cassino em
Cuiabá, por exemplo, e aproveitará para conhecer o Pantanal. A própria indústria
do turismo se encarregará de criar esses pacotes.
GMB - O Brasil está preparado para
regulamentar de maneira séria o setor de jogos, apesar do que dizem os
segmentos religiosos contrários à atividade?
A fiscalização e o controle ainda são partes sensíveis
nestas propostas, porque o país terá que criar uma agência reguladora ou
incumbir outros órgãos dessa função. Mas, quando aprovada a legalização, o país
estará preparado para isso.
Fonte: Exclusivo GMB