Luiz Carlos Prestes Filho: Qual a sua visão sobre os encaminhamentos no Congresso Nacional e no Supremo Tribunal Federal (STF) que podem regulamentar em breve os jogos de apostas em dinheiro administrados pela iniciativa privada no Brasil?
Daniel Homem de Carvalho: No Brasil o jogo nunca foi de fato proibido. A restrição foi apenas contra a sua exploração pela iniciativa privada. A lei brasileira garante o monopólio da exploração das loterias e jogos para o governo. Assim as loterias são mal administradas e o consumidor prejudicado. Governo não foi feito para ser “banca” de jogos.
A regulamentação exigiria um grande esforço de instituições como da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e do Instituto dos Advogados do Brasil (IAB), no sentido de acompanhar a regulamentação?
Há muita mística em torno desse tema. A indústria de jogos e loterias é relevante economicamente no mundo civilizado inteiro. Veja os americanos, povo profundamente religioso. Eles são pragmáticos. Se há uma demanda social, alguém vai suprir essa demanda. Melhor que haja uma boa regulamentação do que usar o arcabouço jurídico do país para criminalizar a atividade. A América tem vasta experiência com os erros da Lei Seca.
A Cadeia Produtiva da Economia de Jogos do mundo promove atividades nas áreas de arquitetura e indústria gráfica, hospedagem e restaurantes, entretenimento e inovação tecnológica, entre outras. Temos como favorecer as empresas brasileiras com a regulamentação dos jogos?
Com certeza alguns dias após a regulamentação a economia brasileira vai ser positivamente afetada. Hoje o Brasil renuncia a uma grande receita tributária ao não regulamentar as apostas. A partir da regulamentação teremos um imenso impulso no trabalho e renda nacionais.
A OAB Nacional não pretende realizar um congresso sobre os impactos jurídicos da regulamentação?
Acredito que tudo que poderia ser discutido sobre o tema já foi lançado nos últimos 70 anos. A única novidade foi o grande processo disruptivo na tecnologia. Não há mais argumentos a serem lançados, a favor ou contra. Falta, ao meu ver, uma decisão de regulamentar ou não.
Somos o único país da América Latina que não tem os jogos regulamentados. Isso atrapalha. Temos o que aprender com os países vizinhos como Argentina, Uruguai e Peru?
O escritor Jorge Luiz Borges dizia que a América Latina é uma ficção. Infelizmente vivemos de costas para os países de língua hispânica nas Américas. Claro que nossa economia é muito maior. Nossa economia privada é imensamente mais poderosa. Você sabe que eu defendo uma regulamentação minimalista, onde a empresa privada tenha a condução dessa indústria, tendo o Estado o papel de regulamentador.
Hoje o Brasil tem advogados especialistas em legislação para jogos? Teremos que formar especialistas?
Ao longo desses anos muitos bons advogados foram formados com uma boa base em direito regulatório, voltado para o setor. Não será por falta de advogados que o Brasil deixará de regulamentar a indústria de jogos e loterias. O próprio setor público formou ótimos executivos que conhecem profundamente a forma pela qual outros países estruturaram suas indústrias. Volto a dizer: tudo que poderia e deveria ser dito já foi feito. Falta decidir fazer ou não fazer.
O Ministério da Justiça tem um papel importante no esforço de regulamentação?
O ministério da justiça tem um papel importante na contribuição da futura regulamentação.
Estrategicamente, quais instituições deveriam ter voz ativa na estruturação de programas e projetos voltados para jogos no Brasil?
Todas as instituições possíveis e interessadas já foram ouvidas. Tudo já foi dito.
Fonte: Luiz Carlos Prestes Filho – Diretor Executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre