Enquanto o presidente Jair Bolsonaro diz que pretende vetar o projeto de lei que legaliza os jogos no Brasil, outros dos principais pré-candidatos à Presidência da República evitam se posicionar de forma incisiva sobre o tema. Além disso, enfrentam um problema parecido com o de Bolsonaro, que viu parte de sua base votar a favor da proposta, aprovada na semana passada pela Câmara dos Deputados. O Podemos, de Sergio Moro, o PDT, de Ciro Gomes, e o PSDB, de João Doria, racharam na votação.
O texto libera atividades como cassinos, bingos, vídeo bingos, jogo do bicho, apostas em corridas de cavalos e atuação de plataformas digitais de apostas no Brasil. Pressionado pela bancada evangélica, Bolsonaro afirmou, na última quinta-feira, que vetaria a iniciativa e que “fez o que pôde” para derrotá-la em plenário. Apesar disso, aliados do presidente que se opõem à medida dizem que não houve empenho do governo para evitar sua aprovação. O PP, do líder do governo, deputado Ricardo Barros (PR), votou em peso a favor do projeto (34 a 1).
Na outra ponta, o PT deu 35 votos contrários ao projeto e nenhum a favor — 18 deputados do partido não se manifestaram. Procurada, a comunicação da pré-campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva repassou a questão para o diretório nacional, que encaminhou para a liderança na Câmara, a cargo do deputado Reginaldo Lopes (MG).
Ele disse ter conversado sobre o assunto com a presidente da sigla, deputada Gleisi Hoffmann (PR), mas não com Lula. Para Lopes, sem mecanismos de controle, a legalização dos jogos poderia abrir espaço para sonegação fiscal e lavagem de dinheiro, e ser prejudicial para viciados em jogos e apostas. Ele também considera baixos os impostos sobre a atividade.
"É um debate que não está amadurecido na sociedade. Apesar de o projeto tramitar há 30 anos, nunca havia chegado a ser pautado", disse ele.
Lula já proibiu bingos
Quando era presidente, Lula proibiu, em fevereiro de 2004, o funcionamento de bingos e caça-níqueis, na esteira da divulgação de vídeo no qual o então assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz pedia propina a um empresário do ramo de jogos.
O pré-candidato do Podemos, Sergio Moro, também tem evitado se posicionar sobre a legalização dos jogos. Como ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro, ele sinalizou ser contrário ao aval quando tratou do assunto com parlamentares e interlocutores.
Em busca de acenos a lideranças e fiéis de igrejas evangélicas, numa tentativa de atrair eleitores frustrados com Bolsonaro no segmento, Moro chegou a avaliar a inclusão, em uma carta a pastores, de um posicionamento contrário aos jogos. O documento, porém, não tratou do tema de forma explícita.
No PDT, do presidenciável Ciro Gomes, a maioria dos parlamentares (15) foi a favor da liberação dos jogos. A bancada cearense, reduto de Ciro, foi majoritariamente a favor, mas também fez parte dos dez votos contrários. Procurado, ele não se manifestou. O presidente do partido, Carlos Lupi, afirma que o tema não é alvo de discussão interna na legenda e que não chegou a ser debatido com Ciro.
"Essa é uma questão de costumes, cada um vota conforme queira. Não tem questão ideológica. Nunca examinamos esse assunto em profundidade (com Ciro)", afirmou Lupi.
O governador de São Paulo, João Doria, é outro presidenciável que evitou assumir uma posição. Sua assessoria de imprensa recomendou falar com Bruno Araújo, presidente do PSDB e coordenador da pré-campanha do tucano ao Palácio do Planalto. Este, por sua vez, passou a demanda para Rodrigo Maia, que deverá coordenar o programa de Doria. Secretário estadual de Turismo, Vinicius Lummertz já defendeu um modelo de jogos.
A maioria dos tucanos (15 contra 11) foi a favor da legalização, entre eles, três paulistas.
Fonte: Guilherme Caetano / O Globo
(Colaboraram Bernardo Mello e Sérgio Roxo)