MIÉ 27 DE NOVIEMBRE DE 2024 - 20:29hs.
Opinião - Nelson Motta, jornalista e compositor

“Os cassinos serão uma grande fonte de empregos e de recursos públicos para Brasil”

Como parte de seu apoio à legalização dos jogos no país, O Globo volta a dar lugar a mais vozes a favor da atividade legal. Em coluna de opinião intitulada “Jogar ou não jogar, eis a questão”, o conhecido jornalista e compositor Nelson Motta afirma que “se forem administrados e fiscalizados como os de Las Vegas ou da Europa, os cassinos serão uma grande fonte de empregos e de recursos públicos”. “Finalmente foi legalizado o que era ilegal, mas tolerado, no Brasil”, agrega ele.

Ninguém é obrigado, joga quem quer. Dinheiro honesto é trabalho e tempo gastos para ganhá-lo. Ele é seu, gaste-o como quiser. O Estado não tem nada a ver com isso.

Muita gente, a maioria, joga por pura diversão. Para passar algumas horas na roleta, no blackjack, no bacará, ganhando e perdendo, se emocionando, e, se sair com um pequeno prejuízo, tudo bem, é o preço pelas horas de diversão.

Nos Estados Unidos, por sua origem bandida, os cassinos estão entre os negócios mais fiscalizados pela Receita Federal, pela polícia, e pelos próprios cassinos para coibir fraudes. Ninguém é louco de tentar uma trapaça em um cassino de Las Vegas. É mais fácil roubá-lo espetacularmente, como nos filmes.

Fundada por gângsteres para legalizar seus negócios, Las Vegas se tornou uma cidade familiar, capital da jogatina e do entretenimento e um dos maiores destinos turísticos do mundo: 40 milhões por ano (o Brasil recebe 6 milhões). Imaginem a massa de impostos estaduais, municipais e federais. Para ter licença para operar um cassino é preciso cumprir exigências rigorosas, ficha limpa, histórico policial e fiscal vasculhados. Bandidos, milicianos e testas de ferro não são bem-vindos.

Em Portugal, na Itália, na França, muitos cassinos são estatais, com controle de qualidade da operação, administrações eficientes e sob permanente supervisão, para detectar lavagens de dinheiro e operações suspeitas.

Jogo não é vício: é entretenimento. Mas quem tem compulsão de jogar aposta em tudo e em qualquer lugar, no bicho, na loteria, na raspadinha, na roleta clandestina, nos cavalos, no carteado, na Bolsa de Valores. Esses jogam o carro, a casa, o plano de saúde, é uma doença, uma patologia, exceção. Sim, o jogo também pode ser droga pesada, tem gente que vive para jogar, são adictos que devem ser tratados em clínicas de reabilitação, como os dependentes de álcool, drogas e sexo.

Desde 1946, o Brasil perdeu trilhões de dólares em empregos e impostos quando, com uma canetada autoritária, o marechal Eurico Gaspar Dutra, presidente da República, atendendo a um pedido de sua esposa ultracatólica, dona Santinha, proibiu o jogo no Brasil, em nome de Deus e da família.

Jogou no desemprego dezenas de milhares de profissionais que tinham nos cassinos seu trabalho. Deixou de receber os impostos dos donos, empregados e apostadores dos cassinos e os dólares dos turistas. Tudo em nome de Deus.

Com o atraso que nos caracteriza e a hipocrisia religiosa e populista que nos flagela, finalmente foi legalizado o que era ilegal, mas tolerado, no Brasil, quase sempre nas mãos de bandidos, sem qualquer controle e sem gerar empregos nem impostos. Esses serão os grandes perdedores.

Se forem administrados e fiscalizados como os de Las Vegas ou da Europa os cassinos serão uma grande fonte de empregos e de recursos públicos. Mas o que importa é o que vai ser feito com essa dinheirama.

O jogo está aberto, os apostadores se divertem, mas não é a banca que sempre ganha: é o Estado.

Nelson Motta
Jornalista e compositor, o paulistano Nelson Motta nasceu em 1944. Foi idealizador e roteirista de programas na Globo, como o musical Chico & Caetano (1986). Atualmente, tem uma coluna semanal no Jornal da Globo e apresenta o programa Em Casa com Nelson Motta, na GloboNews.