Folha - O nome do senhor foi citado em conversas com parlamentares favoráveis à legalização dos jogos. Qual é o tamanho e a influência da Zitro International hoje?
Johnny Ortiz - Eu não tenho conversado com políticos. Talvez [eles me conheçam] pela empresa, ainda mais por eu ser brasileiro. Mas eu moro fora do Brasil há muitos anos. Nos estamos em mais de 40 países. Recentemente entramos nos Estados Unidos, onde o compliance é uma coisa fundamental. Em vários países eu sou bem recebido porque geramos muitos empregos.
O que o senhor achou da proposta dos cassinos integrados aprovada na Câmara?
Em geral, o projeto está bom porque não é qualquer um que pode entrar, precisa de um capital mínimo. Eu acho que foi bastante razoável para os cassinos-resorts, porque as exigências não são as mesmas que têm em outros países. Eu, por exemplo, não tenho nada com o jogo do bicho, mas sou a favor de liberar tudo. O jogo do bicho existe hoje, todo mundo joga, políticos e polícia sabem onde estão.
Só no jogo do bicho, no dia seguinte à aprovação, terão mais de 500 mil carteiras assinadas porque o pessoal emprega muita gente. Os cassinos geram emprego, mas bem menos que o jogo do bicho e os bingos.
A proposta da Câmara prevê que os lucros serão divididos em 60% para os cassinos e 40% para os donos das máquinas, como o senhor. Percentuais estão alinhados com a prática internacional?
Tem de tudo no mundo. Vários países fazem por porcentagem, outros fazem por valores fixos. O leque é diferente e muito amplo. Os valores percentuais exatos eu não me lembro. Estamos em mais de 40 países.
Os críticos à proposta falam em lavagem de dinheiro. É um absurdo. Hoje, o governo brasileiro consegue controlar toda a sua vida. E na lei está muito bem feito: todas as máquinas precisam ser homologadas pelo órgão controlador e o governo terá controle de tudo o que ocorre nos cassinos, nos bingos.
Eu faço um desafio a qualquer pessoa que fala em lavar dinheiro que me ensine como se lava dinheiro em cassino. A gente vê isso em filmes antigos. Eu não sei como se lava dinheiro em cassinos.
Tem um argumento muito forte, que as pessoas não entendem: é muito caro lavar dinheiro em cassinos. É muito mais fácil lavar em um estacionamento do que em um cassino.
Há um lobby forte de corporações que querem exclusividade para os cassinos-resorts, sem aprovação ampla com jogo do bicho e bingo. Estes grupos perdem força com a morte de Sheldon Adelson [empresário norte-americano do setor de jogos, morto em 2021] e a crise econômica na pandemia?
O Adelson morreu, mas o grupo continua. No Brasil se falava em "Lei Sheldon Adelson" porque ele queria só os cassinos e proibir qualquer outro tipo de jogo. Vai contra os interesses do Brasil. O Brasil poderia ter uma legislação mais ampla. Ele queria o contrário, um nicho de mercado.
Pensa em voltar ao Brasil?
Sem dúvida nenhuma. Se houver seriedade, eu volto. Se não houver, eu não volto. Tenho licença em mais de 40 países. Não vou colocar tudo em risco para voltar ao Brasil se a legislação não for séria e contundente.
O senhor disse que não tem atuado junto a parlamentares, mas sabemos da proximidade com o deputado Guilherme Mussi (PP-SP), relator em 2016. Conversou com ele sobre o assunto?
Não tenha dúvida que eu o conheço. Conheço o pai dele há mais de 30 anos. Eu vou ao Brasil duas vezes ao ano. Quando ele foi relator, conversei [sobre a legalização dos jogos de azar] para ele entender o mercado dos jogos.
De que forma o Congresso conseguiu se desvincular do lobby do Las Vegas Sands?
O lobby do [Sheldon] Adelson é diferente, porque ele mesmo participa. Ele fala que vai fazer investimentos, mas depois quer isenção de impostos por tantos anos, permissão para contratar empregados que estejam fora do país. Pede uma série de coisas em troca que poucos governos podem ofertar.
Ele pensou que chegando no Brasil, um país tupiniquim, ele pudesse fazer o que quisesse oferecendo bilhões de dólares na construção do cassino. Por isso que ele queria uma legislação pequena e não ampla, como está no Congresso.
O senhor esteve no Brasil, em fevereiro, no fim de semana anterior à votação da proposta na Câmara. Era a casa da família de Guilherme Mussi, na Bahia. Sua visita tinha relação com a votação?
Nenhuma. Estava na casa de um amigo, na Bahia, bem longe de Brasília ou São Paulo. Aproveitando o fim de semana com minha esposa. Ela mora aqui, eu não. Na casa de um amigo. Sou brasileiro e continuo com muitos amigos no Brasil.
A saída da sua família foi turbulenta. Além da proibição das máquinas caça-níqueis, houve investigação da Polícia Federal e CPI dos Bingos por suspeita de lavagem de dinheiro. O senhor tem alguma explicação para as acusações?
Eu não saí por causa da investigação. Eu saí porque dormi empresário e acordei bandido. Do dia para noite [o governo Lula] proibiu o jogo. Mais de 500 mil pessoas perderam os empregos na época. Tudo o que eu falava, [a imprensa] desviava. Foi tudo uma invenção. Eu contratei uma empresa para fazer uma auto investigação e eles chegaram à conclusão de que foi tudo um trabalho da imprensa. A concorrência que começou a criar coisas para colocar nos jornais.
ENTENDA O CASO:
Proposta:
QUEM É QUEM
Johnny Ortiz
Sheldon Adelson
Guilherme Mussi
Irajá Abreu
Fonte: Folha