JUE 28 DE NOVIEMBRE DE 2024 - 02:54hs.
Informe especial do O Estado de S.Paulo

Valor de apostas no Brasil pode triplicar em dez anos com fim de monopólio da Caixa

Com inovações tecnológicas e um cardápio maior de jogos, as loterias operadas pela Caixa Econômica Federal já vinham crescendo nos últimos anos. Na comparação com 2017, as apostas cresceram 30%, atingindo R$ 18 bilhões. Além da crise, a Caixa diz que o resultado também é inflado por avanços tecnológicos, como possibilidade de jogar pela internet. A expectativa do governo é de que a abertura do mercado das loterias instantâneas e das apostas esportivas saia ainda na primeira metade de 2022.

Se o mercado tradicional de loterias no Brasil não para de crescer, o governo estima que o dinheiro movimentado em apostas possa triplicar nos próximos dez anos com o fim do monopólio da Caixa Econômica Federal. A expectativa é de que a abertura do mercado das loterias instantâneas e das apostas esportivas saia ainda na primeira metade de 2022. 

Para o secretário de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria (Secap) do Ministério da Economia, Gustavo Guimarães, a maior competição no mercado brasileiro pode aumentar inclusive as receitas das loterias federais, pois a oferta maior de jogos pode criar mais consumidores de apostas.

Além do Ministério da Economia, participam do debate a Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania, a Polícia Federal e até o Banco Central. “São muitos atores envolvidos, para preservarmos a integridade do esporte e coibirmos a lavagem de dinheiro. Há uma série de questões sobre o jogo responsável e temas a serem discutidos sobre publicidade e propaganda dos jogos”, diz o secretário.

A Secap tem sido procurada por grandes grupos internacionais que já operam tanto as loterias instantâneas – as famosas “raspadinhas" – quanto as apostas esportivas em diversos países. Os “grandes e bons” conglomerados, como classifica Guimarães, têm interesse em participar de um mercado seguro e regulado, onde possam explorar um rol maior de produtos.

O brasileiro já conhece bem os prêmios instantâneos, de menor valor, que trazem uma alegria na hora. Agora já começam a conhecer as apostas esportivas, que são um motivo a mais para torcer durante as partidas”, diz.

 

 

Hoje, embora a Mega-Sena pague os maiores prêmios do país, os jogos que mais têm avançado no gosto dos apostadores são a Lotofácil e a Quina. As duas modalidades cresceram 25% e 14%, respectivamente, no acumulado até setembro na comparação com o mesmo período do ano passado. Em relação a 2017, a Lotofácil registra um aumento de 75% nos valores apostados. Com isso, a Lotofácil já é hoje o principal produto lotérico, à frente da Mega-Sena e da Quina.

Se a loteria tradicional já irá faturar R$ 18 bilhões em 2021, os cálculos do governo estimam que as loterias instantâneas possam render até R$ 22 bilhões por ano até o fim dessa década, enquanto o mercado das apostas esportivas poderia bater na casa dos R$ 20 bilhões anuais já em 2026.

Enquanto o mercado de loterias segue em alta, boa parte do valor apostado é aplicado em projetos sociais. De janeiro a setembro deste ano, R$ 6,35 bilhões foram revertidos para políticas sociais, um aumento de 11% em relação ao mesmo período de 2020. A maior parte desses recursos está “carimbada”, ou seja, diretamente ligada à seguridade social e áreas como educação, segurança e fomento ao esporte.

 

 

Brasileiro usa a loteria como 'antídoto' para resolver problemas financeiros

Jogar na loteria já fazia parte da rotina de Wladson Violante, de 53 anos. Mas, com as dificuldades financeiras maiores na pandemia, a esperança de acertar os números sorteados, "para resolver a vida", também aumentou. Motorista e pintor, porque “a pandemia fez a gente fazer de tudo”, tem dívidas com multas de trânsito e atualmente mora de favor.

Violante é apenas um entre milhões que passaram a buscar as loterias como esperança para mudar de vida.  O valor das apostas cresceu mais de 8% neste ano e deve superar os R$ 18 bilhões em 2021, o maior volume da história.

Com inovações tecnológicas e um cardápio maior de jogos, as loterias operadas pela Caixa Econômica Federal já vinham crescendo nos últimos anos, mas o ritmo se acelerou na medida em que as dificuldades financeiras da população cresceram desde a pandemia de covid-19. Na comparação com 2017, o valor nominal apostado já cresceu quase 30%.

Obviamente, quando estamos em uma situação com a economia caindo, com a renda abalada ou recebendo auxílios do governo, há essa esperança de conseguir algo melhor por meio da loteria", diz o secretário de Avaliação, Planejamento e Loteria (Secap) do Ministério da Economia, Gustavo Guimarães. "Temos visto aumento também entre apostadores diferentes dos clientes tradicionais desses jogos”, afirma. Segundo ele, os avanços tecnológicos feitos pela Caixa, como a possibilidade de jogar pelo site e o uso do Pix para fazer o pagamento das apostas também impulsionaram o crescimento dos jogos. Por uma questão estratégica, o banco estatal não revela qual o peso das inovações tecnológicas no crescimento.

Com o aumento das apostas ao longo de todo o ano, o governo espera que a Mega da Virada pague em 2021 um prêmio recorde, na casa dos R$ 350 milhões. Violante vai deixar para fazer a aposta da Mega da Virada na véspera do concurso, no dia 31, usando a técnica que desenvolveu para escolher os números: olhar concursos anteriores e apostar naqueles que mais saíram. Ele já tem uma ideia do que fazer com o sonhado prêmio em dinheiro, depois de resolvidas as pendências com o Detran: investir em imóveis para ter uma fonte de renda e aplicar na poupança.

Fonte: Eduardo Rodrigues e Érika Motoda, O Estado de S.Paulo