VIE 27 DE DICIEMBRE DE 2024 - 16:49hs.
Imposição corporativa de funcionários

Conselho da CEF adia decisão que poderia abrir caminho para privatização das Loterias CAIXA

O Conselho de Administração da Caixa não conseguiu aprovar a transferência das operações das loterias e apostas esportivas para a Loterias CAIXA. A pressão dos funcionários, que são contra a manobra, forçou um adiamento. Eles temem que isso seja apenas o primeiro passo no rumo da privatização de toda a atividade. Sindicatos e até membros do C.A. têm apontado que seria uma manobra para entregar o setor à iniciativa privada.

A reunião do Conselho de Administração da Caixa Econômica Federal, que aconteceria nesta semana, acabou não acontecendo por força do corporativismo sindical dos funcionários do banco estatal, que temem que uma possível transferência da área de loterias para a subsidiária Loterias CAIXA poderia provocar a privatização disfarçada da área.

Por lei, o Congresso Nacional teria de aprovar a venda de qualquer subsidiária da Caixa. Mas os empregados afirmam que é mais fácil passar no Parlamento a venda de um pedaço da empresa do que partir para a privatização completa da CEF.

Durante os meses em que presidiu a Caixa, no primeiro ano do governo Lula, Rita Serrano preparou o fechamento da Lotex, subsidiária criada no governo Temer, mas não chegou a completar a operação. Assim que Carlos Vieira assumiu o cargo, indicado pelo presidente da Câmara Arthur Lira (PP–AL), o fechamento da Lotex foi revertido e a modalidade está prestes a ser lançada no mercado.

Os sindicalistas defendem que a pauta seja retirada definitivamente das discussões do Conselho de Administração, alegando que uma possível privatização das loterias prejudicaria o banco estatal.

O Conselho de Administração da Caixa é formado por oito membros. Seis são indicados pelo governo federal, um é eleito pelos funcionários da CEF e o presidente do Conselho é o secretário do Tesouro Nacional.

Por isso, a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro da CUT (Contraf–CUT) enviaram uma carta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, alertando para o que está acontecendo.

A carta destaca: “historicamente, as loterias da Caixa têm sido fundamentais para a redução das desigualdades sociais no país, por meio do repasse de recursos às políticas sociais. Cerca de 40% do lucro da Caixa Loterias é para investimentos em saúde, educação e projetos sociais”.

A carta lembra ainda que a Caixa tem experiência e eficiência acumuladas ao longo de décadas de administração das loterias e pediu ao ministro que revise a criação da subsidiária.

“Nós empregados estamos denunciando que caso as operações de loteria passem para uma subsidiária, uma privatização pode acontecer e quem perde é a Caixa, porque perde recurso, e a população, porque perde programas sociais”, disse Antonio Abdan, secretário de finanças do Sindicato dos Bancários de Brasília e funcionário da Caixa há mais de 35 anos.

Influência de Arthur Lira

Além de indicar o presidente da Caixa, Carlos Vieira, que substituiu Rita Serrano, o deputado federal Arthur Lira exerce influência direta em segmentos do banco que o interessam diretamente. Foi por isso que o presidente da Câmara venceu a disputa de poder com o governo federal e conseguiu que o Ministério da Fazenda anunciasse a saída do assessor especial José Francisco Manssur. Ele era o responsável pela condução do processo de regulamentação das apostas esportivas.

De acordo com a jornalista Letícia Casado, do UOL, desde 2023, com o avanço da regulamentação das apostas, o grupo do presidente da Câmara dos Deputados fazia forte pressão sobre o ministro Fernando Haddad.

Para evitar mais desgastes na aprovação de pautas de interesse do governo federal no Congresso, o chefe da Fazenda decidiu ceder ao avanço de Lira e resolveu substituir Manssur.

Fonte: GMB / ICL