DOM 22 DE DICIEMBRE DE 2024 - 14:07hs.
IGOR FEDERAL, PRESIDENTE DA CBTH

“Nunca existiu um quadro tão favorável para a legalização dos jogos no Brasil”

(Exclusivo GMB) –Igor Federal, presidente da CBTH (Confederação Brasileira de Texas Hold’en), é um dos nomes mais influentes no mercado do poker no Brasil. Nesta entrevista exclusiva com a GMB afirmou que o esporte vive um momento de consolidação, que o país está na melhor hora para a legalização dos jogos e revelou que espera a aprovação da lei para realizar novos investimentos.

“Nunca existiu um quadro tão favorável para a legalização dos jogos no Brasil”

Igor Federal, presidente da CBTH - (André Guerra/Divulgação)

Igor Federal, presidente da CBTH - (André Guerra/Divulgação)

GMB - Você participou da sessão pública que ocorreu na Câmara dos Deputados, em dezembro. Pelo que você sentiu durante a reunião os deputados irão aprovar a legalização dos jogos?
Igor Federal -
Naquela sessão de dezembro as forças estavam meio equilibradas, as pessoas favoráveis à legalização dos jogos e as contrarias. O que acontece é que existem forças, hoje, tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado, que são favoráveis ao jogo que tem discursado e tem feito movimentos políticos nesse sentido. Assim como existem forças contrarias, como era de se esperar, os setores mais conservadores da sociedade brasileira. Por causa disso não se pode afirmar se isso vai acontecer ou que isso não vai acontecer. Aquilo que sim, pode se dizer: é que nunca nos últimos quarenta anos, existiu um quadro tão favorável quanto o atual. Se você soma o momento econômico que o Brasil vive, com uma sociedade mais moderna, com uma menor influência de questões religiosas, com o jogo sendo legalizado no mundo inteiro e pessoas se dando conta de que o jogo não é uma atividade ruim como se pregava pelos últimos cinquenta, sessenta, setenta anos no Brasil. Tudo isso fez uma condição que nós nunca tivemos anteriormente para que o jogo seja legalizado no Brasil. Eu chamo isso da melhor janela de oportunidade que nós já tivemos. Agora, se efetivamente vai acontecer ou não; é um trabalho que tem de ser construído politicamente ao longo de 2017.

Em seu discurso na sessão pública você disse que argumentos como: o vicio em jogo e a lavagem de dinheiro; são usados como forma de aterrorizar a população. Você acha que os defensores dessas ideias poderão atrapalhar a legalização?
Quando eu usei o termo "aterrorizar a sociedade” é porque eles usam esse argumento sem dizer pra população a totalidade da verdade. As pessoas falam da lavagem de dinheiro do jogo como se no Brasil não se lavasse dinheiro ou se precisasse do advento do jogo para que a lavagem de dinheiro fosse facilitada. Na verdade, a legalização do jogo tirará da necessidade de se lavar, porque tirará da ilegalidade cerca de 20 bilhões por ano. E da mesma forma a ludopatia, eles falam da ludopatia como se qualquer atividade humana não tivesse um percentual de compulsão gerada pelo seu uso. Tem gente viciada em academia, em chocolate, gente viciada em comida e eles ficam aterrorizando a população como se a ludopatia fosse um mal maior que qualquer outro tipo de vício sendo que na verdade é o contrario. Eles não contam os dois lados da moeda para sociedade e acabam criando um quadro como se o jogo fosse uma das únicas atividades passiveis de gerar compulsão. É uma forma de você aterrorizar, amedrontar a população e fazê-la ter aversão essa atividade. Não são eles que vão estar contra, são os argumentos de quem é contra.

No Brazilian Gaming Congress, em São Paulo, você falou sobre como trabalho de divulgação de imagem do poker ajudou o esporte a crescer no país. De que forma esse trabalho de imagem pode fazer diferença para que a legalização dos jogos seja aprovada?
A grande verdade é que as pessoas que são contrarias ao jogo no Brasil ficam se utilizando dos artifícios que eu citei na resposta anterior. Ficam trazendo para a população um receio gerado por argumentos como a lavagem de dinheiro, a ludopatia, que vai trazer um mercado permeado por contraventores. Então, deveria existir uma campanha daqueles que são favores pra divulgar à população o lado positivo. O lado do entretenimento, da diversão, da geração de emprego, da arrecadação de impostos, o lado, inclusive, de combate a ludopatia e a lavagem de dinheiro. Ou seja, o mercado favorável ao jogo, o setor da sociedade favorável ao jogo deveria se organizar e criar campanhas de esclarecimento da população pra não deixar que a mensagem reciosa, amedrontadora, preconceituosa daqueles que são contrários ao jogo sobressaia e prevaleça. No poker, a gente conseguiu fazer isso porque os adeptos do poker são apaixonados pela atividade; e eles foram às redes sociais propagar, disseminar essa mensagem. No mercado de jogo de azar não vai existir pessoas que vão as ruas defender o jogo, então, a indústria é que tem que se organizar e criar uma campanha positiva.

Mesmo sem ter ligação direta com os jogos de azar, você acredita que a legalização do jogo pode ajudar o poker a ganhar mais visibilidade e também gerar mais oportunidades de negócios?
Na verdade, eu não tenho essa certeza. Eventualmente, os mercados de outros jogos e outros entretenimentos possam, inclusive, atrapalhar o crescimento e o tamanho do poker no Brasil. Eu não estou dizendo que vá, estou dizendo que eventualmente pode, é uma variável incerta. O que está acontecendo é que o meu grupo de negócios, que com o poker, hoje é o maior grupo de jogo legal no país, tem a intenção de aumentar a sua plataforma de atuação e operar novos jogos. Então, essa minha atuação contundente pela legalização dos jogos no Brasil, ela se deve a uma razão filosófica, porque eu filosoficamente sou um libertário, acho que não é função do Estado dizer pra um cidadão se ele deve gastar o dinheiro dele com jogo de azar ou não. E também, por interesse, eu vejo no futuro o meu grupo atuando com novos jogos; com bingo e todos os demais jogos que venham a ser legalizados no Brasil. É importante dizer que pra mim as coisas não estão diretamente ligadas, são coisas independentes. A licitude do poker e a operação do meu grupo, em poker, já é uma coisa hoje consolidada no Brasil. E independente de que isso vá fazer bem ou fazer mal pra minha atuação de poker, a gente tem intenção de aumentar a nossa atuação para novos jogos.


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Recentemente, nos Estados Unidos, houve um desafio onde jogadores profissionais de poker foram vencidos por um sistema de inteligência artificial. Como isso repercutiu no mundo do poker e qual efeito trouxe para a imagem do esporte?
Isso era absolutamente natural e o efeito foi extremamente positivo porque o computador já tinha vencido o campeão mundial xadrez, o campeão mundial de damas, o campeão mundial de GO e agora venceu o campeão mundial de poker; o que mostra de uma forma muito clara que o poker é um esporte de inteligência, é uma atividade intelectual. Então, numa cartela de bingo ou num jogo de roleta o computador não pode fazer muito, vai prevalecer a sorte. Somente em esportes de habilidade, em atividades de intelecto é que o computador consegue suplantar a inteligência humana. E fez no poker, assim como fez no xadrez, damas e GO. Então, pra gente foi muito natural e reforça a nossa tese.

Existe algum projeto da CBTH para aumentar o número de clubes de poker no Brasil pra que os fãs possam praticar mais o esporte? Qual a principal dificuldade?
Na verdade, já está em andamento um projeto da CBTH para disseminação e difusão de clubes de poker no Brasil. Pra se ter uma ideia, abaixo de mim que sou o presidente da confederação, existem 22 presidentes de federações estaduais e abaixo desses presidentes existem hoje 500 clubes. Então, o poker já está difundido, já está disseminado. É obvio que a principal dificuldade é um regramento específico. Uma coisa é você ser legal ou ser ilegal; e o poker já ganhou na justiça, com uma jurisprudência muito consolidada, o direito a existência e a sua legalidade. Então, hoje, depois da briga pela legalidade do poker nos últimos dez anos, o grande desafio do poker agora é ter um regramento claro pra sua atividade de forma a gerar segurança jurídica pra atrair investimentos maiores para o segmento e por consequência expandir a base do número de clubes e de praticantes.

Você acha que o poker no Brasil caminha para se tornar um esporte de referência, com grandes ídolos e eventos cada vez maiores e com mais repercussão? Em que ponto desse caminho ele está?
Eu creio que mais do que o poker caminha para se tornar, eu acho que o poker já está nesse processo. Se transformar num esporte de referência com cerca de 7 milhões de praticantes de poker no Brasil hoje e esse dado é muito confiável porque ele emana dos sites que operam no Brasil, ele já um esporte com um número de adeptos elevado. Ele já tem ídolos, os jogadores de poker campeões mundiais, saem na rua, dão autógrafos, são verdadeiros ídolos dessa atividade no país. É obvio que eles não são de massa, mas, dentro de uma grande comunidade hoje eles são absolutamente relevantes e influenciadores de comportamento na sociedade brasileira. Da mesma forma, o Campeonato Brasileiro, o BSOP, no ano passado distribuiu 42 milhões em prêmios, o Campeonato Brasileiro de futebol distribuiu 30 milhões. O BSOP já é o segundo maior torneio do mundo só atrás do campeonato mundial, a World Series of Poker. Se você levar em conta que o campeonato mundial deveria ser hor concur, o BSOP é o maior campeonato do mundo que não é o campeonato mundial. Ele já atrai grandes esportistas, celebridades de televisão, cantores, ou seja, o poker já vem dando prova do seu tamanho, seu porte, da sua pujança e do seu crescimento no Brasil. Eu acho que agora é uma questão de consolidação disso tudo nos próximos anos.

Fonte: Exclusivo GMB
Autor: Pedro Henrique Feitosa