GMB - Você participou
da sessão pública que ocorreu na Câmara dos Deputados, em dezembro. Pelo que
você sentiu durante a reunião os deputados irão aprovar a legalização dos
jogos?
Igor Federal - Naquela sessão de dezembro as forças estavam meio
equilibradas, as pessoas favoráveis à legalização dos jogos e as contrarias. O
que acontece é que existem forças, hoje, tanto na Câmara dos Deputados quanto
no Senado, que são favoráveis ao jogo que tem discursado e tem feito movimentos
políticos nesse sentido. Assim como existem forças contrarias, como era de se
esperar, os setores mais conservadores da sociedade brasileira. Por causa disso não se pode afirmar se isso
vai acontecer ou que isso não vai acontecer. Aquilo que sim, pode se dizer: é
que nunca nos últimos quarenta anos, existiu um quadro tão favorável quanto o
atual. Se você soma o momento econômico que o Brasil vive, com uma sociedade
mais moderna, com uma menor influência de questões religiosas, com o jogo sendo
legalizado no mundo inteiro e pessoas se dando conta de que o jogo não é uma
atividade ruim como se pregava pelos últimos cinquenta, sessenta, setenta anos
no Brasil. Tudo isso fez uma condição que nós nunca tivemos anteriormente para
que o jogo seja legalizado no Brasil. Eu chamo isso da melhor janela de
oportunidade que nós já tivemos. Agora, se efetivamente vai acontecer ou não; é
um trabalho que tem de ser construído politicamente ao longo de 2017.
Em seu discurso na
sessão pública você disse que argumentos como: o vicio em jogo e a lavagem de
dinheiro; são usados como forma de aterrorizar a população. Você acha que os
defensores dessas ideias poderão atrapalhar a legalização?
Quando eu usei o termo "aterrorizar a sociedade” é porque eles usam esse
argumento sem dizer pra população a totalidade da verdade. As pessoas falam da
lavagem de dinheiro do jogo como se no Brasil não se lavasse dinheiro ou se
precisasse do advento do jogo para que a lavagem de dinheiro fosse facilitada.
Na verdade, a legalização do jogo tirará da necessidade de se lavar, porque
tirará da ilegalidade cerca de 20 bilhões por ano. E da mesma forma a ludopatia, eles falam da
ludopatia como se qualquer atividade humana não tivesse um percentual de compulsão
gerada pelo seu uso. Tem gente viciada em academia, em chocolate, gente viciada
em comida e eles ficam aterrorizando a população como se a ludopatia fosse um
mal maior que qualquer outro tipo de vício sendo que na verdade é o contrario.
Eles não contam os dois lados da moeda para sociedade e acabam criando um
quadro como se o jogo fosse uma das únicas atividades passiveis de gerar
compulsão. É uma forma de você aterrorizar, amedrontar a população e fazê-la
ter aversão essa atividade. Não são eles que vão estar contra, são os
argumentos de quem é contra.
No Brazilian Gaming
Congress, em São Paulo, você falou sobre como trabalho de divulgação de imagem
do poker ajudou o esporte a crescer no país. De que forma esse trabalho de
imagem pode fazer diferença para que a legalização dos jogos seja aprovada?
A grande verdade é que as pessoas que são contrarias ao jogo no Brasil
ficam se utilizando dos artifícios que eu citei na resposta anterior. Ficam
trazendo para a população um receio gerado por argumentos como a lavagem de
dinheiro, a ludopatia, que vai trazer um mercado permeado por contraventores.
Então, deveria existir uma campanha daqueles que são favores pra divulgar à
população o lado positivo. O lado do entretenimento, da diversão, da geração de
emprego, da arrecadação de impostos, o lado, inclusive, de combate a ludopatia
e a lavagem de dinheiro. Ou seja, o mercado favorável ao jogo, o setor da
sociedade favorável ao jogo deveria se organizar e criar campanhas de
esclarecimento da população pra não deixar que a mensagem reciosa, amedrontadora,
preconceituosa daqueles que são contrários ao jogo sobressaia e prevaleça. No
poker, a gente conseguiu fazer isso porque os adeptos do poker são apaixonados
pela atividade; e eles foram às redes sociais propagar, disseminar essa
mensagem. No mercado de jogo de azar não vai existir pessoas que vão as ruas
defender o jogo, então, a indústria é que tem que se organizar e criar uma
campanha positiva.
Mesmo sem ter ligação
direta com os jogos de azar, você acredita que a legalização do jogo pode
ajudar o poker a ganhar mais visibilidade e também gerar mais oportunidades de
negócios?
Na verdade, eu não tenho essa certeza. Eventualmente, os mercados de outros
jogos e outros entretenimentos possam, inclusive, atrapalhar o crescimento e o
tamanho do poker no Brasil. Eu não estou dizendo que vá, estou dizendo que
eventualmente pode, é uma variável incerta. O que está acontecendo é que o meu
grupo de negócios, que com o poker, hoje é o maior grupo de jogo legal no país,
tem a intenção de aumentar a sua plataforma de atuação e operar novos jogos.
Então, essa minha atuação contundente pela legalização dos jogos no Brasil, ela
se deve a uma razão filosófica, porque eu filosoficamente sou um libertário,
acho que não é função do Estado dizer pra um cidadão se ele deve gastar o
dinheiro dele com jogo de azar ou não. E também, por interesse, eu vejo no
futuro o meu grupo atuando com novos jogos; com bingo e todos os demais jogos
que venham a ser legalizados no Brasil. É importante dizer que pra mim as
coisas não estão diretamente ligadas, são coisas independentes. A licitude do
poker e a operação do meu grupo, em poker, já é uma coisa hoje consolidada no
Brasil. E independente de que isso vá fazer bem ou fazer mal pra minha atuação
de poker, a gente tem intenção de aumentar a nossa atuação para novos jogos.
Recentemente, nos
Estados Unidos, houve um desafio onde jogadores profissionais de poker foram
vencidos por um sistema de inteligência artificial. Como isso repercutiu no
mundo do poker e qual efeito trouxe para a imagem do esporte?
Isso era absolutamente natural e o efeito foi extremamente positivo porque
o computador já tinha vencido o campeão mundial xadrez, o campeão mundial de
damas, o campeão mundial de GO e agora venceu o campeão mundial de poker; o que
mostra de uma forma muito clara que o poker é um esporte de inteligência, é uma
atividade intelectual. Então, numa cartela de bingo ou num jogo de roleta o
computador não pode fazer muito, vai prevalecer a sorte. Somente em esportes de
habilidade, em atividades de intelecto é que o computador consegue suplantar a
inteligência humana. E fez no poker, assim como fez no xadrez, damas e GO.
Então, pra gente foi muito natural e reforça a nossa tese.
Existe algum projeto
da CBTH para aumentar o número de clubes de poker no Brasil pra que os fãs
possam praticar mais o esporte? Qual a principal dificuldade?
Na verdade, já está em andamento um projeto da CBTH para disseminação e
difusão de clubes de poker no Brasil. Pra se ter uma ideia, abaixo de mim que
sou o presidente da confederação, existem 22 presidentes de federações
estaduais e abaixo desses presidentes existem hoje 500 clubes. Então, o poker
já está difundido, já está disseminado. É obvio que a principal dificuldade é
um regramento específico. Uma coisa é você ser legal ou ser ilegal; e o poker
já ganhou na justiça, com uma jurisprudência muito consolidada, o direito a
existência e a sua legalidade. Então, hoje, depois da briga pela legalidade do
poker nos últimos dez anos, o grande desafio do poker agora é ter um regramento
claro pra sua atividade de forma a gerar segurança jurídica pra atrair
investimentos maiores para o segmento e por consequência expandir a base do
número de clubes e de praticantes.
Você acha que o poker
no Brasil caminha para se tornar um esporte de referência, com grandes ídolos e
eventos cada vez maiores e com mais repercussão? Em que ponto desse caminho ele
está?
Eu creio que mais do que o poker caminha para se tornar, eu acho que o poker
já está nesse processo. Se transformar num esporte de referência com cerca de 7
milhões de praticantes de poker no Brasil hoje e esse dado é muito confiável
porque ele emana dos sites que operam no Brasil, ele já um esporte com um
número de adeptos elevado. Ele já tem ídolos, os jogadores de poker campeões
mundiais, saem na rua, dão autógrafos, são verdadeiros ídolos dessa atividade
no país. É obvio que eles não são de massa, mas, dentro de uma grande
comunidade hoje eles são absolutamente relevantes e influenciadores de
comportamento na sociedade brasileira. Da mesma forma, o Campeonato Brasileiro,
o BSOP, no ano passado distribuiu 42 milhões em prêmios, o Campeonato
Brasileiro de futebol distribuiu 30 milhões. O BSOP já é o segundo maior
torneio do mundo só atrás do campeonato mundial, a World Series of Poker. Se você
levar em conta que o campeonato mundial deveria ser hor concur, o BSOP é o
maior campeonato do mundo que não é o campeonato mundial. Ele já atrai grandes
esportistas, celebridades de televisão, cantores, ou seja, o poker já vem dando
prova do seu tamanho, seu porte, da sua pujança e do seu crescimento no Brasil.
Eu acho que agora é uma questão de consolidação disso tudo nos próximos anos.