MAR 26 DE NOVIEMBRE DE 2024 - 17:29hs.
A posição do jogador na mesa

A óptica e o poker

Há quem diga que o jogo de poker é sorte. Há quem diga que é estratégia. Há quem diga que é uma mistura das duas coisas.

Mas, para alguns, o poker é, na verdade, um jogo de óptica. E aqui vale rever os conceitos da física, que definem o termo como o estudo dos fenômenos de composição, emissão, absorção, polarização, difração e interferência da luz.

A luz é o que permite que vejamos algo. Então, o poker tem a ver muito com a visão – ou melhor, com aquilo que se vê, ou se esconde. E relembrando as aulas de física, note que, na óptica, o lugar de onde se observa importa.

Por isso é crucial entender a posição que um jogador ocupa na mesa. Não é difícil aprender as regras do poker, afinal, há inúmeras fontes sobre esse assunto na internet. O que, porém, nem todo site explica é a mudança da dinâmica do jogo, de acordo com a posição na mesa a cada rodada.

Podemos citar como exemplo o Small Blind e o Big Blind, as duas posições imediatamente à esquerda do dealer, que são obrigadas a apostar sem ver carta alguma (blind em inglês significa cego, ou sem luz, em clara referência à óptica). Portanto, esses dois jogadores já iniciam com uma desvantagem. Já as duas últimas posições – o Cut-off e o Button, têm a vantagem óptica, porque veem o que os outros jogadores fizeram antes de precisarem decidir.  E, eventualmente, podem foldar sem perder dinheiro, ou roubar os blinds, se ninguém na mesa mostrar força.

Porém, como sempre, há um outro ponto de vista.

Jogadores nas posições finais (Cut-off e Button) tendem a blefar menos, porque, afinal, não precisam. Eles têm a visão completa da rodada e podem tomar a decisão de apostar depois que todos fizeram seus movimentos. E, embora eles não vejam as cartas de seus adversários, eles veem o panorama, e podem tomar decisões mais seguras. Por outro lado, os blinds tendem a blefar mais. Afinal, eles entram na mão sem saber o que vão receber e, muitas vezes, recebem cartas ruins. Eles podem abandonar o pote e se conformar ou, com alguma ousadia e boa atuação, convencer os colegas de que têm sorte, e que possuem cartas boas. O que, ao final, é nada mais que uma ilusão de óptica.

Neste ponto, o poker fica fascinante, porque entra no campo da sutileza. Como saber se o blind está falando sério ou é só armação para não perder o pote que foi obrigado a formar? Os profissionais buscam os detalhes. Permanecendo na metáfora da óptica, eles buscam pequenas distorções na imagem, algo que indique que aquilo que estão vendo é um reflexo, uma projeção, e não a realidade.

 

 

Por outro lado, o blefador quer esconder o blefe, mantendo sua imagem o mais parecida possível a de uma mão vencedora. É preciso evitar tiques, tremores, suores e qualquer detalhe minúsculo que entregue a real natureza de seu jogo. Com bastante treino, um profissional consegue neutralizar a maioria dos sinais corporais que podem ser observados pelos adversários. Mas há uma parte do corpo praticamente incontrolável, e intimamente ligada à óptica – os olhos.

É extremamente difícil esconder as emoções que se mostram nos olhos. Diante de um bom jogo, as pupilas inconscientemente se dilatam, e um adversário experiente consegue perceber essa suave mudança. A óptica permite ver o adversário, mas também delata suas intenções ao oponente.

Contudo, não é preciso muita tecnologia, nem sequer profundos conhecimentos de física para resolver esse problema. Basta um bom par de óculos escuros, de preferência espelhados, para restringir o acesso aos olhos e às emoções que eles escondem - ou entregam.

Em um mundo no qual as pessoas querem ver e ser vistas, o poker não é exceção e investe em eventos de alta visibilidade, como o patrocínio de uma equipe de Fórmula 1. No entanto, para quem joga, o maior desejo é subverter as leis da física e criar uma óptica na qual você vê, mas nunca é visto.