Segundo Silvio Matos, Presidente e Diretor de Criação da Idealista, a ideia do documentário, que tem narração de Paulo Betti, é mostrar como a atividade poderia beneficiar o país e usa como exemplo casos como Las Vegas, nos Estados Unidos. Segundo estudo da KPMG, estima-se que o Brasil tem um potencial de arrecadação de mais de R$ 37 bilhões anuais com a legalização dos bingos, um valor igual ao que o Governo Federal pretendia arrecadar com a volta da CPMF. Considerando todo o período da proibição, que teve início em 2007, o Brasil já deixou de arrecadar mais de R$ 368 bilhões em impostos.
A produção reúne nomes como o vereador
Eduardo Suplicy, o jurista Ives Gandra, o jogador de pôquer Flavio Malisa, o
coronel José Vicente da Silva e o psiquiatra Hermano Tavares, que manifestam
suas opiniões contra ou a favor à liberação dos jogos. Em entrevista à
IMPRENSA, Matos falou sobre a repercussão do assunto na mídia, como funcionaria
a fiscalização no país e a tramitação do projeto de lei no Congresso.
Como
é que você, que produziu o documentário, está vendo a repercussão na mídia
sobre o debate pela legalização dos jogos de azar?
Silvio Matos: O debate que eu tenho visto está
apenas começando. É preciso discutir esse assunto, principalmente no momento em
que a gente vive, de crise financeira, de tentativa de resgate de alguns
alicerces da economia. É uma discussão que vai trazer luz a um assunto que
precisa ser decidido. É fundamental que a sociedade brasileira participe porque
o nosso Congresso, por hábito, se interessa por aquilo que a opinião pública
está discutindo. Hoje, o Brasil precisa de arrecadação. Entender que, por trás
da legalização do jogo, existe sim uma capacitação de geração de receita
importante, tanto para municípios, quanto para estados, e para o governo
federal como um todo. Esse é o grande tom que a gente quer jogar na discussão.
Que
tipo de movimentação você percebeu dentro do setor de turismo ao longo da
produção do documentário?
Tivemos a oportunidade de visitar e conversar com
muita gente em lugares diferentes do mundo sobre isso, e, claramente, o setor
de turismo é rapidamente beneficiado, porque as pessoas viajam mais para curtir
os jogos, que também geram uma série de empregos diretos, como aqueles que
trabalham na indústria do jogo. Desde a cadeia de fabricação de máquinas de
jogos, que vão estar nas salas e nos salões para que as pessoas possam jogar,
até a fabricação das mesas, dos ambientes, dos escritórios de arquitetura que
são especializados nisso. Nos Estados Unidos há uma série de escritórios de
arquitetura especializados nisso, em criar salões interessantes, interativos,
onde os jogadores vão se sentir bem jogando. Há ainda a indústria do
entretenimento, o show, o músico, o produtor da música, o cara que faz o palco,
tem que ter o cabeamento, a luz, o áudio, o vídeo. A cadeia inteira de negócio
vai se expandindo a partir de uma única decisão, que é tornar lícito,
controlado e transparente o jogo. Quando comecei a fazer essa imersão para
estudar, entender a história da legalização, os motivos pelos quais foi
proibido e não foi proibido, me pareceu, claramente, uma decisão que tende a
ser muito positiva para a sociedade.
Com
todo esse trabalho, a BR Jogos, por exemplo, com relação à parte legal, a
questão da fiscalização, ela teria o mesmo efeito, a mesma logística do que tem
hoje a contenção dos crimes financeiros?
Com tudo o que a gente viu, o tipo de fiscalização
será ainda muito mais rigoroso do que no próprio setor financeiro. Vamos ter um
nível de transparência, porque a proposta de dois ou três dos projetos de lei
que já estão encaminhados no Congresso define claramente que há um controle da
cadeia de quem traz o dinheiro para uma casa de bingo, por exemplo, que somos
nós, jogadores, e só pode jogar com apresentação do CPF ou do RG, então, o
registro é feito imediatamente. A partir dele, há uma cadeia de processos
digitalizados que permitem a qualquer empresário cadastrar e acompanhar
qualquer investimento. Uma vez tendo o CPF ou o RG, identificado aquele jogador
ou usuário, é possível acompanhar tudo o que ele vai investir ali. Se ele
quiser jogar quarenta, cinquenta, cem, cento e cinquenta reais, o empresário, o
arrecadador, que é o gestor da região, do bairro, do município, o estado, o
governo federal vai saber. E, do outro lado, o rigor vai ser o mesmo na
administração das casas, ou seja, quem é o empresário, o registro desse
empresário, quanto entrou na casa de jogo.
Como
se aplicaria na prática?
Por exemplo, dez pessoas jogaram cento e cinquenta
reais naquela tarde, entrou na casa mil e quinhentos reais, esses mil e
quinhentos reais vão sofrer determinada taxação de impostos, que é proposta já
em projetos de lei do tamanho ou maior do que a gente vê hoje em indústrias,
como álcool, farmacêutica, etc. Tem um rigor muito grande nesse sentido. Há uma
indicação clara no projeto de lei que uma parte muito substancial dessa
arrecadação seja direcionada, por exemplo, para a saúde, para a educação. Dessa
forma, parece, evidentemente, que o processo vai ser benéfico, de certa
maneira, e, do ponto de vista do controle, é muito claro, pelo menos hoje, nos
projetos de lei e nas intenções de quem está por trás, tentando trabalhar nesse
setor de alguma maneira.
A
tramitação desse projeto vai ter alguma velocidade ou são daqueles projetos que
vão entrar e depois ficar na gaveta?
Acho que vai ter uma certa velocidade. É uma área
com a qual a gente não sabe muito como lidar, as coisas aceleram e desaceleram
no Brasil sem muita explicação, ou com explicações que a gente desconhece, mas
o fato é que já passou pelo Senado, portanto está encaminhado. O parecer agora
está bem claro e detalhado. Os técnicos envolvidos, com os quais eu conversei,
acham que está numa velocidade boa, adequada, e o que me parece, do ponto de
vista de onde eu posso julgar, é que o momento é correto, de retomada da
economia, tem que se julgar uma nova forma de arrecadação no país. Precisa de
dinheiro, é uma retomada, tem uma nova área industrial que vai gerar emprego,
vai gerar dinheiro, quer dizer, vamos seguir em frente ou não vamos seguir em
frente? Essa é a pergunta e, por isso, que a gente deu o nome do documentário
de "Por que não?" porque a gente não quer responder, a gente quer
perguntar e quer que o brasileiro se manifeste se é a favor ou contra.
Fonte: GMB / IMPRENSA