SÁB 27 DE ABRIL DE 2024 - 16:39hs.
André Bittencourt, professor de Direito Previdenciário do CPJUR

“A legalização dos jogos trará recursos importantes ao sistema de Seguridade Social”

(Exclusivo GMB) – O Projeto de Lei PL 186/14 prevê que 91% dos impostos dos jogos de fortuna sejam revertidos à previdência social. André Bittencourt, professor de direito previdenciário do CPJUR, em Curitiba, explica como aproveitar os recursos de maneira eficaz. “A população toda poderá sentir os efeitos positivos, tanto da distribuição de renda, como da melhoria da saúde pública que atualmente pede socorro”.

GMB - Qual efeito a destinação da maior parte dos impostos arrecadados com os jogos de azar, como prevê o projeto do senado, trará para o sistema previdenciário, considerando que a estimativa de arrecadação anual é de cerca de R$15 bilhões?
André Bittencourt -
Cumpre destacar que o Brasil ainda apresenta uma legislação muito restritiva e arcaica no que diz respeito aos jogos de azar. Somente no mercado de loterias, segundo a World Lottery Association, os jogos movimentaram 400 bilhões de dólares em todo o mundo no ano de 2014, do quais o Brasil teve participação de apenas 1% com as loterias administradas pela Caixa. Muito embora eu esteja filiado a corrente que entende não haver déficit na previdência, a legalização de uma série de jogos que ainda funcionam na clandestinidade certamente traria uma significativa gama de recursos ao sistema de Seguridade Social e ajudaria a aumentar as receitas que são destinadas ao pagamento de benefícios e serviços na área de saúde, pois as receitas advindas dos jogos de azar na forma de contribuição social são utilizadas para o pagamento de benefícios previdenciários, assistenciais e também para o custeio da saúde no Brasil.

Qual a importância das pessoas que hoje trabalham na clandestinidade e que com a legalização dos jogos também poderão contribuir para a previdência?
Segundo a legislação brasileira, todo trabalhador que exerce atividade remunerada deve realizar o pagamento de contribuição social. A cota deste trabalhador varia de 9% a 11% dependendo da faixa salarial e a do empregador é de 20% do rendimento pago, devido ou creditado ao trabalhador. Assim, um grande número de pessoas que atualmente trabalha na clandestinidade poderá, após a legalização, ter reconhecido seu vínculo de trabalho ou no caso dos que trabalham de forma autônoma, ser incluídos no rol de contribuintes individuais, pelo que as contribuições decorrentes desta atividade remunerada serão importantes para o aumento da arrecadação do sistema.

Na sua opinião, deve existir algum tipo de regra específica para os trabalhadores da industria do jogo quando ela estiver em operação?
As contribuições decorrentes desta exploração decorrerão tanto do resultado dos valores das apostas, como das remunerações dos trabalhadores e empregadores. Pode certamente ser criada uma taxação diferenciada no que diz respeito ao resultado dos valores decorrentes das apostas realizadas. Com relação a contribuição dos trabalhadores e dos empregadores, entendo que a taxação seguiria a regra geral (20% do empregador mai 8, 9 ou 11% do empregado), respeitando assim o princípio da igualdade advindo da Constituição Federal de 1.988.

Tomando como exemplo países que já tem uma indústria de jogo forte, qual o melhor modelo de previdência para o setor?
Em verdade, o que será fundamental para que a arrecadação ocorra de maneira eficaz, é o modo de fiscalização tanto do resultado das apostas, como das relações trabalhistas decorrentes e das atividades dos autônomos junto ao setor. Se a fiscalização não for eficiente, mesmo com um sistema de jogos bastante forte, a sonegação poderá trazer grande prejuízo ao sistema. A Receita Federal hoje apresenta um bom sistema de cruzamento de dados. Aliando tal sistema a uma fiscalização efetiva e forte das relações de emprego, o sistema todo sairá fortalecido.


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Hoje existem muitos apostadores profissionais em apostas esportivas, loterias, entre outras modalidades. Qual o melhor caminho para essa atividade quando o assunto é previdência? Existe alguma forma desses profissionais também contribuírem?
As loterias autorizadas pela Caixa Econômica Federal e as atividades de trabalho decorrentes de tal atividade, por já estarem legalizadas, estão inserida ao sistema de contribuição social e, portanto já integram o caixa da Seguridade Social. As que ainda se encontram na clandestinidade é que trariam novos aportes ao sistema. Todo apostador que verte valores em apostas está, de forma indireta contribuindo para o sistema de Seguridade Social, posto que uma porcentagem dos valores decorrentes das apostas seja pago na forma de contribuição.

Espera-se que muitos investidores internacionais venham para o Brasil após a legalização dos jogos. O momento vivido pela previdência no Brasil pode influenciar de alguma maneira a decisão desses investidores?
O que será fundamental para atrair os investidores é a legalização e o estabelecimento de regras claras no que diz respeito à forma de efetivação dos contratos de trabalho e dos pagamentos de impostos e contribuições sociais. O que muitas vezes afasta o investidor internacional é a dificuldade de entender o sistema tributário do Brasil. Havendo o estabelecimento de regras claras que possibilite ao investidor fazer uma previsão de médio e longo prazo, certamente haverá um grande aumento do setor, o que trará aquecimento da economia, aumento dos índices de emprego e renda e por consequência do orçamento público.

Para encerrar, qual sua perspectiva para o sistema previdenciário do Brasil tendo os jogos de azar como uma um fonte de receita, tanto pelo repasse de impostos quanto pela contribuição vinda da geração de novos postos de trabalho?
Como os valores aportados no sistema de Seguridade Social são destinados aos pagamentos de benefícios e à saúde, a população toda poderá sentir os efeitos positivos, tanto da distribuição de renda, como da melhoria da saúde pública que atualmente pede socorro.

Fonte: GMB
Autor: Pedro Henrique Feitosa