DOM 5 DE MAYO DE 2024 - 14:05hs.
Silvio Matos, presidente da Idealista

"O negócio do jogo vai ser legal, controlado e transparente"

Em entrevista à IMPRENSA, o Presidente e Diretor de Criação da Idealista, falou sobre a repercussão do documentário 'Por que Não?' que defende a legalização dos jogos de azar na mídia. Como funcionaria a fiscalização no país e a tramitação do projeto de lei no Congresso.

Segundo Silvio Matos, Presidente e Diretor de Criação da Idealista, a ideia do documentário, que tem narração de Paulo Betti, é mostrar como a atividade poderia beneficiar o país e usa como exemplo casos como Las Vegas, nos Estados Unidos. Segundo estudo da KPMG, estima-se que o Brasil tem um potencial de arrecadação de mais de R$ 37 bilhões anuais com a legalização dos bingos, um valor igual ao que o Governo Federal pretendia arrecadar com a volta da CPMF. Considerando todo o período da proibição, que teve início em 2007, o Brasil já deixou de arrecadar mais de R$ 368 bilhões em impostos.

A produção reúne nomes como o vereador Eduardo Suplicy, o jurista Ives Gandra, o jogador de pôquer Flavio Malisa, o coronel José Vicente da Silva e o psiquiatra Hermano Tavares, que manifestam suas opiniões contra ou a favor à liberação dos jogos. Em entrevista à IMPRENSA, Matos falou sobre a repercussão do assunto na mídia, como funcionaria a fiscalização no país e a tramitação do projeto de lei no Congresso.

Como é que você, que produziu o documentário, está vendo a repercussão na mídia sobre o debate pela legalização dos jogos de azar?
Silvio Matos: O debate que eu tenho visto está apenas começando. É preciso discutir esse assunto, principalmente no momento em que a gente vive, de crise financeira, de tentativa de resgate de alguns alicerces da economia. É uma discussão que vai trazer luz a um assunto que precisa ser decidido. É fundamental que a sociedade brasileira participe porque o nosso Congresso, por hábito, se interessa por aquilo que a opinião pública está discutindo. Hoje, o Brasil precisa de arrecadação. Entender que, por trás da legalização do jogo, existe sim uma capacitação de geração de receita importante, tanto para municípios, quanto para estados, e para o governo federal como um todo. Esse é o grande tom que a gente quer jogar na discussão.

Que tipo de movimentação você percebeu dentro do setor de turismo ao longo da produção do documentário?
Tivemos a oportunidade de visitar e conversar com muita gente em lugares diferentes do mundo sobre isso, e, claramente, o setor de turismo é rapidamente beneficiado, porque as pessoas viajam mais para curtir os jogos, que também geram uma série de empregos diretos, como aqueles que trabalham na indústria do jogo. Desde a cadeia de fabricação de máquinas de jogos, que vão estar nas salas e nos salões para que as pessoas possam jogar, até a fabricação das mesas, dos ambientes, dos escritórios de arquitetura que são especializados nisso. Nos Estados Unidos há uma série de escritórios de arquitetura especializados nisso, em criar salões interessantes, interativos, onde os jogadores vão se sentir bem jogando. Há ainda a indústria do entretenimento, o show, o músico, o produtor da música, o cara que faz o palco, tem que ter o cabeamento, a luz, o áudio, o vídeo. A cadeia inteira de negócio vai se expandindo a partir de uma única decisão, que é tornar lícito, controlado e transparente o jogo. Quando comecei a fazer essa imersão para estudar, entender a história da legalização, os motivos pelos quais foi proibido e não foi proibido, me pareceu, claramente, uma decisão que tende a ser muito positiva para a sociedade.

 

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Com todo esse trabalho, a BR Jogos, por exemplo, com relação à parte legal, a questão da fiscalização, ela teria o mesmo efeito, a mesma logística do que tem hoje a contenção dos crimes financeiros?
Com tudo o que a gente viu, o tipo de fiscalização será ainda muito mais rigoroso do que no próprio setor financeiro. Vamos ter um nível de transparência, porque a proposta de dois ou três dos projetos de lei que já estão encaminhados no Congresso define claramente que há um controle da cadeia de quem traz o dinheiro para uma casa de bingo, por exemplo, que somos nós, jogadores, e só pode jogar com apresentação do CPF ou do RG, então, o registro é feito imediatamente. A partir dele, há uma cadeia de processos digitalizados que permitem a qualquer empresário cadastrar e acompanhar qualquer investimento. Uma vez tendo o CPF ou o RG, identificado aquele jogador ou usuário, é possível acompanhar tudo o que ele vai investir ali. Se ele quiser jogar quarenta, cinquenta, cem, cento e cinquenta reais, o empresário, o arrecadador, que é o gestor da região, do bairro, do município, o estado, o governo federal vai saber. E, do outro lado, o rigor vai ser o mesmo na administração das casas, ou seja, quem é o empresário, o registro desse empresário, quanto entrou na casa de jogo.

Como se aplicaria na prática?
Por exemplo, dez pessoas jogaram cento e cinquenta reais naquela tarde, entrou na casa mil e quinhentos reais, esses mil e quinhentos reais vão sofrer determinada taxação de impostos, que é proposta já em projetos de lei do tamanho ou maior do que a gente vê hoje em indústrias, como álcool, farmacêutica, etc. Tem um rigor muito grande nesse sentido. Há uma indicação clara no projeto de lei que uma parte muito substancial dessa arrecadação seja direcionada, por exemplo, para a saúde, para a educação. Dessa forma, parece, evidentemente, que o processo vai ser benéfico, de certa maneira, e, do ponto de vista do controle, é muito claro, pelo menos hoje, nos projetos de lei e nas intenções de quem está por trás, tentando trabalhar nesse setor de alguma maneira.

A tramitação desse projeto vai ter alguma velocidade ou são daqueles projetos que vão entrar e depois ficar na gaveta?
Acho que vai ter uma certa velocidade. É uma área com a qual a gente não sabe muito como lidar, as coisas aceleram e desaceleram no Brasil sem muita explicação, ou com explicações que a gente desconhece, mas o fato é que já passou pelo Senado, portanto está encaminhado. O parecer agora está bem claro e detalhado. Os técnicos envolvidos, com os quais eu conversei, acham que está numa velocidade boa, adequada, e o que me parece, do ponto de vista de onde eu posso julgar, é que o momento é correto, de retomada da economia, tem que se julgar uma nova forma de arrecadação no país. Precisa de dinheiro, é uma retomada, tem uma nova área industrial que vai gerar emprego, vai gerar dinheiro, quer dizer, vamos seguir em frente ou não vamos seguir em frente? Essa é a pergunta e, por isso, que a gente deu o nome do documentário de "Por que não?" porque a gente não quer responder, a gente quer perguntar e quer que o brasileiro se manifeste se é a favor ou contra.

 

Fonte: GMB / IMPRENSA